quinta-feira, 23 de maio de 2019

Vaticano se pronuncia sobre caso de Vincent Lambert e Corte ordena retomar alimentação e hidratação


O Vaticano se pronunciou nesta terça-feira, 22 de maio, sobre o caso de Vincent Lambert advertindo que a desconexão dos suportes vitais é uma "expressão de uma cultura do descarte que seleciona as pessoas mais frágeis e indefesas".

Vincent Lambert, de 42 anos, sofreu um acidente de moto em 2008 e ficou tetraplégico. Seus pais, Desde 2013, seus pais estão lutando nos tribunais para mantê-lo com vida; por outro lado, sua esposa Rachel –apoiada por alguns irmãos de Vincent- pede que seus suportes vitais sejam desconectados.

Os médicos do Hospital Chu de Reims, na França, onde Vincent recebe seu tratamento, decidiram retirar-lhe a hidratação e a alimentação para deixá-lo morrer. No entanto, horas depois, o Tribunal de Apelações em Paris rejeitou a decisão dos médicos e ordenou que os suportes vitais fossem reestabelecidos.

Diante da decisão do hospital de acabar com a hidratação e a alimentação, o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, e a Academia Pontifícia para a Vida emitiram uma declaração conjunta na qual afirmam que "a suspensão do tratamento representa uma forma de abandono do doente, fundada em um juízo impiedoso sobre a qualidade da vida".

O comunicado também assinala que a desconexão da única fonte que mantém Vincent com vida é "expressão de uma cultura do descarte que seleciona as pessoas mais frágeis e indefesas". Destaca também que "a continuidade da assistência é um dever inescapável".

"Desejamos reiterar a grave violação da dignidade da pessoa gerada pela interrupção da alimentação e da hidratação. O estado vegetativo, de fato, é um estado patológico certamente grave, mas que não compromete a dignidade das pessoas que estão nessa condição nem seus direitos fundamentais à vida e aos cuidados entendidos como uma continuidade da assistência humana básica".

Do mesmo modo, recorda que "a alimentação e a hidratação constituem uma forma de cuidados essenciais proporcionados sempre à manutenção da vida: alimentar um doente não constitui uma forma irracional de obstinação terapêutica, enquanto o organismo da pessoa é capaz de absorver nutrientes e hidratação, a menos que não cause sofrimento intolerável ou seja prejudicial ao paciente".

Corte ordena retomar alimentação 
e hidratação de Vincent Lambert

Após a solicitação dos pais de Vincent Lambert, a Corte de Apelação de Paris (França) ordenou que se reestabeleçam a alimentação e hidratação que haviam sido suspensas nesta segunda-feira, 20 de maio, no hospital Chu em Reims.

Segundo informa o jornal francês Le Figaro, a Corte ordenou “que o Estado francês tome todas as medidas para respeitar as medidas provisórias exigidas pelo Comitê Internacional de Direitos das Pessoas com Deficiências no dia 3 de maio de 2019, ou seja, a alimentação e a hidratação” de Lambert.

O advogado do sobrinho de Vincent Lambert, François, que está a favor da retirada da alimentação e hidratação de seu tio, expressou seu desacordo com a medida da Corte.

Por sua parte, os advogados dos pais de Vincent, Jean Paillot e Jérôme Triomphe, exclamaram para os meios de comunicação franceses: “Nós ganhamos!”.

Na Corte, Triomphe mostrou um vídeo de Vincent Lambert “sabendo que ia morrer”. “Fala-se dele como se fosse um jovem sem nenhuma consciência. Quando viu ontem seus pais e seu irmão, Vincent chorou. Este é o homem que hoje estão matando”, acrescentou.

François Lambert explicou que na família há dois grupos: um a favor da suspensão dos cuidados e outro que sempre lutou para mantê-los.

“Há o grupo A (os pais, um irmão e uma irmã) e o B (a esposa, o sobrinho e outros irmãos). Temos duas horas para cada grupo na manhã e depois duas horas na tarde. E uma de cada duas noites desde 22h às 7h”, indicou.

“Vincent Lambert não está em estado terminal, não sofre uma doença incurável: após um grave acidente está em uma situação terrível de dependência absoluta, a de um ser humano que pode continuar vivendo recebendo simplesmente os cuidados que toda pessoa tem direito, e que deveriam incluir ser alimentado e hidratado, considerados pela lei como ‘tratamento’”, assinalaram recentemente um grupo de cem juristas franceses que pediram para não suspenderem a alimentação e hidratação do homem paraplégico.
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ACI Digital

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