Cerca de 100 féis fizeram uma manifestação neste sábado, 11, em
Limeira (SP), pedindo o afastamento do bispo Vilson Dias de Oliveira. Ele é
suspeito de acobertar denúncias de abuso sexual do padre Leandro.
O protesto, em frente a basílica Santo Antônio de Pádua, reuniu cerca
de cem fiéis e moradores de Americana. Com cartazes e vestidos de preto, eles
pediram Justiça e um basta contra denuncias na Igreja Católica.
Bispo Dom Vilson de Oliveira dias é suspeito de extorsão, enriquecimento ilícito e por acobertar assédios sexuais que teriam sido cometidos pelo padre Leandro Ricardo, afastado em janeiro da Basílica de Americana. A acusação contra ele é de pedofilia.
O vaticano também investiga o caso. Já o bispo Dom Vilson continua no cargo mesmo com as investigações. O protesto acontece na mesma semana em que o papa Francisco se pronunciou sobre as denúncias de crimes dentro da igreja. Um decreto tornou obrigatório que padres e religiosos denunciem suspeitas de abusos sexuais.
"Os advogados informaram que nos teríamos uma investigação que iria demorar, o problema é que muitas acabaram não sendo ouvidas ainda e isso faz com que crie ansiedade de quem esperou as vezes 15 anos para falar e só agora tomou coragem. Isso é a síndrome do silêncio das vítimas na psicologia e estamos esperando com eles", afirmou Thalita Camargo, advogada das vítimas.
Em janeiro deste ano, fiéis fizeram uma carta aberta em que demonstram
insatisfação com a atuação de Bispo Dom Vilson Dias de Oliveira.
O distanciamento do bispo das pessoas que frequentam a igreja e a
‘construção de bens materiais’ são destacados na carta. “Sentimos que nossas
comunidades estão sendo lesadas, porque suas necessidades próprias estão sendo
colocadas em segundo plano para cobrir os gastos referentes à cúria diocesana”,
diz um trecho.
De acordo com o texto, Dom Vilson se ausenta de compromissos da
igreja. “Notícias correntes em toda a diocese dão conta que o senhor se ausenta
de compromissos da diocese enquanto se encontra em sua residência na praia.
Inclusive, no mês de dezembro, o senhor deixou de participar da celebração dos
50 anos de sacerdócio de um dos padres da sua Diocese porque se encontrava em
sua casa na praia, sendo que na celebração estavam presentes Bispos de outras
Dioceses e padres”.
Confira a carta na íntegra:
“Carta Aberta dos leigos (as)
da Diocese de Limeira a Vossa Excelência Reverendíssima Dom Vilson Dias de
Oliveira, Bispo Diocesano.
CARTA PROTOCOLADA NA CÚRIA
DIOCESANA DE LIMEIRA NO DIA 17/01/2019
Dom Vilson,
Este grupo de leigos e leigas
que aqui estão, representam uma grande maioria dos fiéis desta Diocese que já
se reuniram e se organizaram, com a finalidade de manifestar e demonstrar a
insatisfação com o vosso episcopado exercido em nossa Diocese.
Nossa primeira providencia foi
tentar um agendamento para conversar com Vossa Excelência no dia 18 de dezembro
e fomos informados que já estava de férias e que só retornaria em fevereiro de
2019.
Diante disso, optamos por esta
carta aberta.
Destas reuniões e organização
citamos algumas preocupações e enorme indignação dos fiéis, a saber:
– Sobre o seu distanciamento do
rebanho que lhe foi confiado, indo contra o que prega o nosso Papa Francisco em
sua exortação apostólica Evangelli Gaudium (A Alegria do Evangelho) quando
clama por uma Igreja em saída: “O pastor com cheiro de ovelhas”.
Nós, povo fiel desta Diocese,
temos necessidade daquela abordagem pastoral de “acolhimento”, de
“proximidade”, e de “diálogo” da qual o Papa, com o seu exemplo, é um grande
incentivador.
– Sobre a sua falta de diálogo
com os leigos mostrando-se autoritário em suas decisões, desrespeitando
Conselhos Paroquiais e Diocesanos.
O Ano Nacional do Laicato nos
trouxe o Documento 105 da CNBB, onde os Bispos do Brasil afirmam que “o cristão
leigo é verdadeiro sujeito eclesial mediante sua dignidade de batizado, vivendo
fielmente sua condição de filho de Deus na fé, aberto ao diálogo, à colaboração
e à corresponsabilidade com os pastores. Como sujeito eclesial, assume seus
direitos e deveres na Igreja, sem cair no fechamento ou na indiferença, sem
submissão servil nem contestação ideológica” (Doc. 105 -n. 119).
Os Conselhos Pastorais decorrem
da eclesiologia de comunhão, fundamentada na Santíssima Trindade. São
organismos de participação e corresponsabilidade (CNBB, Doc. 100, n. 290). A
ausência de Conselhos Pastorais é reflexo da centralização e do clericalismo
(Doc. 105-CNBB).
– Percebemos a sua imensa
dedicação na construção de bens materiais como a Cúria Diocesana em detrimento
da construção amorosa das relações fraternas com o seu povo, com os padres da
sua Diocese, em detrimento mesmo da sua preocupação com o ser humano em sua
integralidade física, psíquica, espiritual.
O Papa Francisco, em sua
Exortação Apostólica “Evangelli Gaudium”, nos fala de uma evangelização com
espírito, ou seja, uma evangelização com o Espírito Santo já que Ele é a alma
da Igreja evangelizadora, e isso é muito diferente de um conjunto de tarefas
vividas como uma obrigação pesada, que quase não se tolera ou suporta (EG 261).
O Papa fala ainda do prazer espiritual
de ser povo. Ele diz que “para ser evangelizador com espírito é preciso
desenvolver o prazer espiritual de estar próximo da vida das pessoas. A missão
é uma paixão por Jesus, e simultaneamente uma paixão pelo seu povo. Jesus
toma-nos do meio do povo e envia-nos ao povo, de tal modo que a nossa
identidade não se compreende sem esta pertença” (EG 268).
– Sentimos que nossas
comunidades estão sendo lesadas, porque suas necessidades próprias estão sendo
colocadas em segundo plano para cobrir os gastos referentes à cúria diocesana.
– No quesito formação dos novos
presbíteros, não percebemos uma seleção dos candidatos ingressos, inclusive
temos conhecimento de que a vossa senhoria permitiu a entrada de candidatos que
já foram dispensados de seminários de outras dioceses por problemas de
comportamento moral.
– Ainda referente à formação
dos novos padres em quase 11(onze) anos de seu episcopado tivemos 7(sete)
reitores no seminário maior, por isso a grande pergunta é: qual é o projeto de
formação diocesana dos novos padres?
– Nos chama muito a atenção a
sua preferência por determinadas paróquias onde o senhor sempre se faz
presente, em detrimento da sua ausência nas demais indo apenas para crisma e
não se confraternizando com o povo. Referimos ainda sua pouca vontade, sua
frieza nas suas reflexões sobre o evangelho, sempre lidas, mostrando
desinteresse e desconhecimento da realidade do seu povo diocesano.
O Papa Francisco fala: “O
pregador tem a belíssima e difícil missão de unir os corações que se amam: o do
Senhor e os do seu povo (EG 143). Um pregador que não se prepara não é
“espiritual”: é desonesto e irresponsável quanto aos dons que recebeu.” (EG
145)
– Manifestamos também aqui
nesta carta aberta sua falta de atenção, apoio, escuta para com os padres de
sua diocese. Percebemos em sua grande maioria um descontentamento com o seu
episcopado, com a sua falta de proximidade paternal. Notamos inclusive sua
seletividade ou acepção na proximidade e atenção com alguns padres.
O Papa diz: “O próprio Senhor Jesus
é o modelo da opção evangelizadora com espírito, que nos introduz no coração do
povo. Jesus é o modelo de quem partilha a vida com todos, sem distinção, de
quem ouve suas preocupações, colabora material e espiritualmente nas suas
necessidades, se alegrando com quem está alegre e chorando com quem chora.” (EG
269)
– Notícias correntes em toda a
diocese dão conta que o senhor se ausenta de compromissos da diocese enquanto
se encontra em sua residência na praia. Inclusive, no mês de dezembro, o senhor
deixou de participar da celebração dos 50 anos de sacerdócio de um dos padres
da sua Diocese porque se encontrava em sua casa na praia, sendo que na
celebração estavam presentes Bispos de outras Dioceses e padres.
O Papa diz: “Jesus espera que
renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem
manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos
verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros” (EG 270)
– Quanto às transferências de
Padres, nos causa grande espanto e descontentamento a sua falta de
sensibilidade para com os sentimentos e necessidades do povo de Deus e dos
próprios padres, uma vez que essas transferências são feitas de forma
arbitrária, sem diálogo, sem respeitar os projetos pastorais das paróquias e
sem ouvir os Conselhos de Pastoral das Comunidades. Além disso, elas ocorrem
sempre na época do Natal, causando insatisfação e tristeza quando deveríamos
celebrar com alegria.
– Sentimos que em toda a
Diocese de Limeira há uma enorme preocupação dos leigos com relação à criação
de tantas novas paróquias, quase que sem estruturas mínimas para se sustentar,
quando já está quase insustentável a manutenção das existentes. A nós leigos,
isso sugere mais uma forma de arrecadação financeira.
– Diante de tantos escândalos
na área política do país, pelo uso indevido dos bens públicos, esta obscuridade
nas contas diocesanas nos levam a um questionamento do uso do dinheiro dos
fiéis, que mesmo em tempos de crise no país, não deixam de contribuir fielmente
com suas paróquias.
Reiteramos nosso respeito ao
Bispo Diocesano e nosso amor à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Leigos e leigas da Diocese de
Limeira.
“Meu filho, não despreze a
correção do Senhor e não perca o ânimo quando for repreendido por ele; pois o
Senhor corrige a quem ele ama e castiga a quem aceita como filho.” (Hebreus 12,
5-6).”
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Acidadeon/ Portal de Americana
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