Uma das acusações costumeiras contra a Igreja é que
ela teria apoiado o sistema escravocrata, especialmente o ocorrido na África
entre os séculos XVI e XIX. A verdade, no entanto, é bem diferente da versão
dos laicistas dogmáticos.
Em dezembro de 2012, o deputado brasileiro Jean
Wyllys, eleito apesar dos votos insuficientes graças às caronas eleitorais
permitidas pela "democracia" brasileira, publicou no Twitter uma das
suas frequentes investidas contra a Igreja:
A “ferida grave infligida à justiça e à paz”,
@pontifex (Bento XVI), foi a escravidão de negros e africanos, apoiada pela
Igreja Católica.
Quem lhe respondeu e contestou com fatos concretos,
em fevereiro de 2013, foi Ricardo da Costa, historiador medievalista e
professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), através de um
artigo publicado pelo jornal Gazeta do Povo, de Curitiba. O professor destaca
os seguintes fatos:
- Com a ascensão social e política da Igreja na
Idade Média, a pressão a favor dos pobres, das mulheres e dos escravos
tornou-se maior. No distante século VI, por exemplo, uma lei criada por pressão
da Igreja conseguiu impedir que os escravos fossem presos caso estivessem
dentro de um templo católico. Parece muito pouca coisa, mas foi, na época, uma
grande conquista em favor dos escravos. Ao longo de toda a Idade Média, o
catolicismo pressionou as sociedades cristãs a considerarem a escravidão algo
ultrajante, já que, pela fé em Jesus Cristo, todos são filhos de Deus.
- Apesar disso, a escravidão só foi diminuindo
lentamente. Ela deu lugar à servidão, um conceito que parece idêntico, mas não
é: no regime feudal, a dignidade humana dos chamados "servos" estava
consideravelmente acima da escravidão. O escravo era visto apenas como um
objeto; já o servo, embora tivesse muitos deveres, também tinha direitos
reconhecidos, entre eles o direito à inalienabilidade da terra. Mesmo assim, a
escravidão na Europa medieval continuou sendo comum e precisou ser
reiteradamente condenada pela Igreja, como aconteceu nos concílios de Koblenz
(922) e de Londres (1022) e no Conselho de Armagh, na Irlanda (1171).
- O direito romano, que permitia a escravidão, foi
sendo cristianizado ao longo da Idade Média. Por outro lado, não acontecia o
mesmo em outras partes do mundo. A expansão islâmica difundiu largamente a
escravidão (vide estudos de Fernand Braudel) e, mesmo entre os povos africanos,
séculos antes da chegada dos brancos europeus à África, havia tribos, reinos e impérios
negros que praticavam corriqueiramente o escravismo. Até os escravos negros
levados para as Américas à força pelos europeus do século XVI eram fornecidos
pelos próprios africanos, também negros, que tinham grandes mercados de
escravos espalhados pelo interior do continente (Ah, você não viu isso na
escola? Que coisa, não?).
- A Igreja católica, ao contrário das acusações
ideológicas, não deixou de condenar a escravidão com toda a clareza nesse
período. Alguns dos muitos exemplos:
- Na bula papal Sicut Dudum (1435), o papa Eugênio
IV mandou libertar os escravos das Ilhas Canárias;
- Pio II (1458) instruiu os bispos a pregarem
contra o tratamento desumano dado aos escravos negros etíopes e condenou a
escravidão como um crime abominável;
- Paulo III, na bula Sublimus Dei (1537), recordou
aos cristãos que os índios são livres por natureza;
- Em 1571, o frade dominicano Tomás de Mercado
declarou desumana e ilícita a escravidão;
- Gregório XIV, na Cum Sicuti, de 1591, condenou
abertamente a escravidão;
- Urbano VIII, na Commissum Nobis, de 1639,
reiterou a condenação da Igreja à escravidão.
O professor Ricardo encerra com um conselho que
deveria ser óbvio, mas passa batido na atual "educação" obediente a
interesses ideológicos peculiares:
"Devemos estudar o passado, não
inventá-lo".
Por fim, achamos que a pele dos seguintes santos
católicos, por si só, dispensa maiores comentários:
Ricardo da
Costa
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Aleteia
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