Com a
solene festa de Cristo, Rei do Universo, chegamos ao final de mais um Ano
Litúrgico; e já iniciamos um novo, com o primeiro domingo do Advento. Este
momento do Ano Litúrgico nos faz pensar no “tempo de Deus”.
Deus é
eterno e não está sujeito ao tempo; mas entrou no tempo do mundo e dos homens,
caminhando com eles, participando de sua vida, mostrando-se um Deus Salvador; o
momento alto dessa revelação de Deus foi a vinda do Filho de Deus ao mundo, sua
vida entre os homens, sua paixão redentora, sua ressurreição e glorificação e o
envio do Espírito Santo.
Por outro
lado, Deus também é Senhor do tempo e da história, continuando a realizar no
presente e no futuro seu desígnio de amor e salvação para conosco e com o
mundo. O início e o final do Ano Litúrgico nos convidam a dar orientação e rumo
à nossa vida e a todas as nossas iniciativas. Que sentido tem nossa vida? Para
onde vamos? Para onde caminha a humanidade? Quem tem a palavra final sobre o
mundo e o destino dos homens?
Não
dominamos o começo, nem o final de nossa vida; fazemos projetos e a maioria
deles fica a meio caminho; sonhamos e conseguimos realizar apenas poucas
coisas. Quem, ou o quê nos faz buscar, sonhar, projetar, esperar? No final de
tudo, cantarão vitória os mais espertos? Os corruptos? Os honestos? Os mais
ricos? Os políticos mais poderosos? Os cientistas? Os soldados?
A fé,
celebrada na Liturgia, nos faz olhar para Deus e exclamar, reconhecendo nossos
limites e nossa incapacidade de “salvar” este mundo e a nós mesmos: só Deus
salva; Jesus Cristo, Filho de Deus vindo a este mundo, é o Salvador! O trecho
do livro do Apocalipse, referido a Deus, Senhor e lido na solenidade de Cristo
Rei, é bem significativo: “Eis que ele vem com as nuvens e todos o verão...
Todas as tribos da terra baterão no peito por causa dele. Sim... ‘Eu sou o alfa
e o ômega’, diz o Senhor Deus, ‘aquele que é, que era e que vem, o
todo-poderoso” (Ap 1,7-8).
Essas
palavras ensinam que só Deus é o subsistente, que está no princípio de todas as
coisas (alfa) e também no final de tudo (ômega). A palavra de Deus permanece
para sempre, conforme também Jesus ensinou: “o céu e a terra passarão, mas as
minhas palavras não passarão" (Mc 13,31). Deus tem a última palavra sobre
a história e a vida dos homens. Também por isso, é somente Deus que poderá
resolver o enigma do mundo, da nossa existência e das nossas aspirações. Só
Deus pode salvar.
Por isso,
logo no início do novo Ano Litúrgico, a Igreja nos coloca diante das promessas
de Deus, que alimentam nossa firme esperança; da necessidade de vigilância
atenta, de sobriedade no viver e da prática do bem. Isso é que dá sentido à
vida e não deixará que nos percamos nas muitas encruzilhadas ao longo da vida.
Assim vivendo, esperamos ser considerados dignos de participar da salvação que
Deus nos prepara.
Enquanto
isso, caminhamos ao encontro do Cristo que vem carregados de boas obras, na
esperança de sermos reunidos à sua direita na comunidade dos justos (cf. Oração
do Dia, do 1º domingo do Advento). De esperança em esperança...
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
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