Resolver essa pergunta é importante porque este
“morrer de Pedro em Roma e ser enterrado em Roma”, capital do Império Romano,
sempre foi interpretado pela Igreja como uma vontade implícita de Cristo,
fundador da Igreja, que o Bispo de Roma deve ser
considerado o sucessor de Pedro e o seu Vigário na terra.
Temos
testemunhos literários que confirmam tudo isso:
1- A carta do Papa Clemente de Roma aos Coríntios
(ano 96). Falando da perseguição de Nero, ano 64, escreve: “Lancemos os olhos
sobre os excelentes apóstolos: Pedro foi para a glória que lhe era devida… A
esses homens … juntou-se grande multidão de eleitos que, em consequência da
inveja, padeceram muitos ultrajes e torturas, deixando entre nós magnífico
exemplo” (5,3-7; 6,1).
2- Ireneu (140-203), Bispo de Lião-França,
escreveu uma obra importante “Contra as Heresias”. Nesta nos confirma a chegada
de Pedro a Roma: “À maior e mais antiga e conhecida por todos, à Igreja
fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos Pedro
e Paulo” (III, 3, 2); “Os bem-aventurados apóstolos que fundaram e edificaram a
Igreja romana transmitiram o governo episcopal a Lino” (III, 3, 3).
3- Tertuliano (160-250), no escrito “Sobre o
Batimo”: Não há nenhuma diferença entre aqueles que João batizou no Jordão e
aqueles que Pedro batizou no Tibre” (IV, 3). O Tibre é o rio que
atravessa Roma; de tal forma que Tertuliano confirma a presença de Pedro em
Roma.
4- Eusébio de Cesaréia (260-340), na sua
“História Eclesiástica”: “O apostolo Pedro na Judéia, empreendeu
uma longa viagem além-mar… para o Ocidente, veio para Roma” (História , II, 14,
4-5). “Nero foi também o primeiro de todos os inimigos de Deus, que teve
a presunção de matar os apóstolos. Com efeito conta-se que sob o
seu reinado Paulo foi decapitado em Roma. E ali igualmente Pedro
foi crucificado. Confirmam tal asserção os nomes de Pedro e de Paulo, até
hoje atribuidos aos cemitérios da cidade” (História, II, 25, 5).
5- Ainda Eusébio refere o testemunho do
Presbítero Gaio (ano 199) que viveu durante o pontificado do Papa
Zefirino (199-217), no seu escrito contra Proclo, chefe da seita dos Montanistas:
“Nós aqui em Roma temos algo melhor do que o túmulo de São Filipe. Possuímos os
troféus dos apóstolos fundadores desta Igreja local. Vai à via Óstia e lá
encontrareis o troféu de Paulo; vai ao Vaticano e lá vereis o troféu de Pedro”
(História, II, 25, 6).
6- O mesmo Eusébio nos refere outros testemunhos.
No livro II refere o testemunho de Dionísio bispo de Corinto (ano 170): “Tendo
vindo ambos a Corinto, os dois apóstolos Pedro e Paulo nos formaram na doutrina
evangélica. A seguir, indo para a Itália, eles vos transmitiram os mesmos
ensinamentos e, por fim, sofreram o martírio na mesma ocasião” (História,
II,25,8).
7- Orígenes, (185-253), na obra Comentários
ao Gênesis, terceiro livro (conservado na História de Eusébio,
III,1, 2): “Pedro, finalmente tendo ido para Roma, lá foi crucificado de
cabeça para baixo, conforme ele mesmo desejara sofrer”.
Além desses testemunhos, foram encontrados e
decifrados grafites anônimos dos séculos II e III escritos sobre o túmulo de
São Pedro localizado durante as escavações arqueológicas realizada debaixo da
Basílica do Vaticano nas décadas de 50 e 60 (do séc. XX) que confirmam a
sepultura do Apóstolo Pedro em Roma: “Pedro está aqui.” (=Petros Eni) , “Pedro,
pede a Cristo Jesus pelas almas dos santos cristãos sepultados junto do teu
corpo”, “Salve, Apóstolo!”, “Cristo e Pedro” , “Viva em Cristo e em
Pedro”, “Vitória a Cristo, a Maria e a Pedro”.
Em 1953 foi achado um antigo túmulo hebraico com a
inscrição “Simão filho de Jonas”.
Provas
arqueológicas.
Em 1939, o Papa Pio XII iniciou uma série de
escavações debaixo da basílica de São Pedro. Nessas buscas descobriu-se, entre
outros restos, o que se julga ser o túmulo de São Pedro. A
descoberta foi anunciada pelo Papa Pio XII no Ano Santo, Radiomensagem de
natal, 23 de dezembro de 1950:
“As escavações debaixo da Confissão mesma, pelo
menos enquanto se relacionam com a tumba do Apóstolo … e seu exame científico,
foram, durante este Ano jubilar, concluídas muito bem. Este resultado foi de
suma riqueza e importância. Mas a questão essencial é esta: A tumba de São
Pedro foi realmente achada? A tal pergunta a conclusão final dos trabalhos e
dos estudos responde com um claríssimo Sim. A tumba do Príncipe dos Apóstolos
foi encontrada. Uma segunda questão, subordinada à primeira, diz respeito às
relíquias do Santo. Estas já foram descobertas? Na beira do túmulo foram
encontrados restos de ossos humanos, que no entanto não é possível provar com
certeza que pertencem aos restos mortais do Apóstolo. Isto deixa, portanto, intacta
a realidade histórica da tumba. A cúpula gigantesca foi erguida justamente
sobre o sepulcro do primeiro Bispo de Roma, do primeiro Papa; sepulcro
originalmente muito humilde, mas sobre o qual a veneração dos séculos
posteriores com maravilhosa sucessão de obras ergueu o maior templo do
Cristandade”.
Paulo VI continuou as escavações. A resposta
positiva a apresentou na Audiência Geral da Quarta-feira, 26 de junho de 1968:
“Uma segunda questão, subordinada à primeira, diz respeito às relíquias do Santo.
Elas foram encontradas? A resposta então dada pelo venerável Pontífice foi
duvidosa. Novas investigações pacientíssimas e precisas foram feitas mais tarde
com resultados que Nós, confortados pelo juízo de prudentes e valiosas pessoas
competentes, acreditamos que seja positivo: também as relíquias de São Pedro
foram identificadas… Temos razão para acreditar que foram encontrados os
poucos, mas sacrosantos restos mortais do Príncipe dos Apóstolos, de Simão,
filho de Jonas, do Pescador chamado Pedro por Cristo, daquele que foi eleito
pelo Senhor como fundamento da sua Igreja, e ao qual o Senhor confiou as
chaves supremas do seu reino, com a missão de apascentar e de reunir o seu
rebanho, a humanidade redimida, até a sua última vinda gloriosa”.
Os estudos continuaram. O mesmo Paulo VI, na
Audiência Geral da quarta-feira, 28 de junho de 1978, voltou ao assunto: “Sim,
a prova histórica, não somente da tumba, mas também dos seus veneradíssimos
restos mortais, foi encontrada. Pedro está aqui, onde a análise documentária,
arqueológica, cheia de indícios e lógica finalmente nos indica… Nós temos assim
o consolo de ter um contato direto com a fonte da tradição apostólica romana
mais segura, aquela que nos garante a presença física do Chefe do Colégio dos
primeiros discípulos de Jesus Cristo em Roma”.
Mons.
Vitaliano Mattioli,
Nasceu em
Roma em 1938, realizou estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi
professor na Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e
Redator da revista “Palestra del Clero”. Atualmente é missionário Fidei Donum
na diocese de Crato, no Brasil.
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Ecclesia
Militans
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