O Brasil e o mundo se assustaram com o terrível
desastre do rompimento da barragem em Brumadinho MG, especialmente com o
sofrimento e a morte de pessoas, com a dor dos seus familiares, colegas e
amigos.
Com o Papa Francisco, exprimimos também os nossos
sentimentos de pesar pela tragédia que atingiu o Estado de Minas Gerais. E com
Sua Santidade recomendamos à misericórdia de Deus todas as vítimas e ao mesmo
tempo rezamos pelos feridos, exprimindo o nosso afeto e proximidade espiritual
às suas famílias. Estamos solidários com os Bispos de Minas, suas dioceses e o
povo mineiro em geral.
Mas esse desastre ambiental, com sintomas de crime,
nos leva a questionamentos e reflexões. A lama muitas vezes é tomada na Sagrada
Escritura como símbolo do pecado. Será que essa lama de Minas Gerais não aponta
pecados graves de omissão nos responsáveis?
Um dos princípios fundamentais da Doutrina Social
da Igreja é a prioridade do ser humano sobre os bens materiais: “É preciso
acentuar o primado do homem no processo de produção, o primado do homem em
relação às coisas” (S. João Paulo II, Lab exercens, 12f). Quando o ser humano é
tratado apenas como peça de uma engrenagem de produção, quando se põe o lucro e
o dinheiro acima das pessoas, estamos no inverso do que se espera de uma
sociedade humana e cristã. E essa prioridade é negligenciada quando se pensa
mais no lucro e no dinheiro do que na segurança e bem-estar das pessoas, com
gravíssimas consequências, como as que presenciamos. O Papa Francisco tem nos
advertido contra a cultura do lucro, do descarte e da indiferença, sobretudo em
se tratando de pessoas. O preço da vida humana é inestimável.
São Leonardo de Porto Maurício, exímio pregador,
falando sobre a grande responsabilidade dos que têm outros sob sua guarda,
conta-nos uma curiosa parábola: certo pastor de cabras foi preso e lançado na
prisão sem saber por quê. E ele dizia a si mesmo: eu não fiz mal algum. E no
tribunal lhe perguntaram: você não é o pastor tal, guardião daquele rebanho?
Sim, respondeu ele. Você está condenado às galés. Mas por que? Enquanto você
tocava sua flauta e descansava, suas cabras romperam a cerca, entraram na
plantação do vizinho e destruíram tudo. Elas são animais irracionais. Mas você
era o guardião e responsável: crime de omissão. Pela sua negligência, está
condenado a pagar todos os prejuízos.
Grandes tragédias já aconteceram por negligência
dos (ir)responsáveis. No Titanic, o telegrafista não se importou com as
insistentes advertências dos outros navios sobre a presença de perigosos
icebergs. Uma inadvertência do comandante do transatlântico, um cochilo do
piloto do avião que depois ficou ingovernável, a falta de colocação de
disjuntores em aparelhos de ar condicionado, etc. Mede-se a gravidade da
negligência pelo tamanho do prejuízo causado. Os responsáveis devem ser
responsabilizados e punidos, para se evitar desastres futuros.
Dom Fernando Arêas
Rifan,
bispo administrador
apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney.
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