domingo, 3 de fevereiro de 2019

Flávio Bolsonaro ainda deve explicações ao seu próprio eleitorado sobre Queiroz, mesmo que o STF não queira



O STF suspendeu a investigação sobre Fabrício Queiroz, o assessor de deputado mais comentado do país, ex-motorista de Flávio Bolsonaro e que teve movimentação suspeita de R$ 1,2 milhões enquanto trabalhava na Alerj.

Mas o fato que permanece é: os eleitores, digamos, “da família Bolsonaro” não se comportam como a manada política de pensamento e marcha única do PT. Petistas pensam no partido acima de algo como o verdadeiro e o bom (e o belo…). Jair Bolsonaro foi chamado de “mito” enquanto nem pensava em disputar  a presidência, além de ter o slogan “ninguém me chama de corrupto”, justamente porque se colocou fora dos esquemas, das tramóias e do toma-lá-dá-cá que é a marca do patrimonialismo brasileiro há séculos.

O imbróglio Queiroz recebeu uma boa resposta do presidente: Jair Bolsonaro disse que esperava pelas explicações, e que cortou relações com o antigo amigo da família enquanto elas não apareciam.

Flávio Bolsonaro, talvez pela proximidade, não fez o mesmo. Claro que há exageros (Queiroz é usado agora como “prova de corrupção” até mesmo do próprio Flávio Bolsonaro, justamente pela esquerda que não enxerga as razões para o impeachment e a prisão de Lula… e de tudo quanto é petista preso), e talvez uma prévia de explicação que não foge a algumas esquisitices.

Como negociante de carros, seria “normal” comprar e vender um carro, digamos, de valor próximo a R$ 80 mil por mês, e chegar a uma movimentação próxima de R$ 1,2 milhões (600 de entrada, 600 de saída) com pouco mais do que uma venda por mês, sem tanto lucro retido. Entretanto, quem é do ramo diz que, na prática, apenas as concessionárias conseguem tal número de vendas – e o mais estranho permanece: por que as movimentações se davam sempre próximas da data de pagamento da Alerj, e por que outros funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro faziam depósitos quase religiosamente cronometrados para Fabrício Queiroz?

Além de tudo, a filha de Fabrício Queiroz, Nathalia Queiroz, a personal trainer que tirava fotos com personalidades em horário de expediente e que, descobriu-se, não teve nenhuma falta computada na Alerj no período, continua sendo uma granada sem o pino. Ainda mais do que a conta bancária de Queiroz, sua relação com a Alerj (fora sua própria contratação, junto a outros membros da família de Queiroz) recai na esfera de responsabilidade do próprio Flávio Bolsonaro.

A mídia, obviamente, faz de um limão um Oceano Pacífico de Ciroc Lemon Martini. Basta lembrar das infantis threads que a Folha de S. Paulo está fazendo, agora que descobriu que a função do jornalismo é criticar o governo, e não succioná-lo e perguntar se também quer uma massagem. Enquanto os assessores de petistas (assessores ainda no cargo) com somas que chegam a ser quase 30 vezes maiores são ignorados, de repente todo o jornalismo trata um assessor como o maior escândalo desde Cabral (com o petrolão, sempre relativizado pela mídia, fresquinho na memória).


E, de antemão, não é possível culpar Flávio Bolsonaro (fora sua estranhíssima demora em tomar as rédeas do caso e exigir explicações ele próprio), em campanha pela presidência do Senado – menos ainda ignorar  ou tratar como contrapeso a todas as excelentes conquistas do novo governo, sobretudo aquelas que tanto irritam jornalistas. Foi exatamente para isso que ele foi eleito.

Mas o principal permanece: quem quer saber da verdade sobre Queiroz, mais do que a esquerda e a mídia (que preferem mesmo o clima de mistério para fazer pressão, ao invés de uma resolução, mesmo uma que defenestre Queiroz) é a própria base de apoio de Bolsonaro, incluindo os eleitores de Flávio. Eles não são petistas. Eles querem a verdade, o bom e o belo, e apóiam os Bolsonaro justamente porque eles parecem buscá-los. Ao contrário de petistas, o eleitorado bolsonarista quer saber ainda mais do que o STF.
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Senso Incomum

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