A Igreja Católica se vê
às voltas com os abusos de menores e/ou práticas homossexuais por parte de
clérigos (homens que receberam o sacramento da Ordem) em vários países. Essas
escabrosas ocorrências merecem breves reflexões.
O primeiro tópico a ser
esclarecido – como lembrou o Papa Francisco, na viagem de volta do Panamá, no
dia 27 de janeiro último –, é o de que o abuso de menores por parte de adultos
(pedofilia) não se dá, evidentemente, apenas entre clérigos. Ao contrário, é
algo comum a alguns seres humanos. O jornalista Leandro Sarmatz, por exemplo,
após bem estudar o tema, declara que “nos Estados Unidos, cerca de 80% dos
casos de abuso sexual de crianças ocorrem na intimidade do lar: pais, tios e
padrastos são os principais agressores. O noticiário da TV alardeia o escândalo
dos padres pedófilos […], mas o grosso dos casos acontece mesmo dentro da casa”
(Superinteressante, maio de 2002, p. 40).
Tal constatação, no
entanto, jamais quer dizer que o tema não deva ser – séria e urgentemente –
tratado, na Igreja, no que se refere aos danosos abusos por parte de seus
ministros ordenados. Eles, após julgamento justo e lícito, hão de ser, se
culpados, condenados. Isso é que a sociedade espera. Dom Cláudio Hummes, à
época prefeito da Congregação para o Clero, afirmou, em entrevista ao jornal O
Estado de S. Paulo, de 20/04/10, p. A 21, que os padres pedófilos
“cometeram horríveis e sérios crimes de abuso sexual contra menores, que
devemos condenar de uma maneira absoluta”, por isso, “esses indivíduos devem
responder por seus atos perante Deus e os tribunais, incluindo as cortes
civis”. O problema, no entanto, é que, na ampla maioria das vezes, o pedófilo –
de fora ou de dentro das fileiras clericais – não é punido. O Papa Francisco
mesmo disse, na entrevista, que “50% dos casos são denunciados, e somente para
5% destes casos há uma condenação”. É preciso, portanto, no âmbito civil e
eclesial, verdadeira tolerância zero para com os violadores de menores.
O segundo ponto, que
deverá (ou deveria) ser tratado, é o da prática homossexual presente em parte
do clero, mas, às vezes, ocultada sob o termo pedofilia, pois, de acordo com o
Cardeal alemão Walter Brandmüller, “não seria realista esquecer ou não admitir
que 80% dos casos de abusos na Igreja foram perpetrados contra adolescentes
homens, não crianças. Esta relação entre abusos e homossexualidade foi provada
estatisticamente e não tem nada a ver com homofobia, independente do que se
acredite que esse termo signifique”, disse o Arcebispo, em entrevista à CNA
Deutsch – agência alemã do Grupo ACI, em 11/01/10 (cf. também: Pe. David
Francisquini. Catolicismo n. 818, fevereiro de 2019, p. 5). A seriíssima
questão a que o Cardeal se refere já foi apontada no livro Adeus, homens de
Deus: como corromperam a Igreja Católica dos EUA (Campinas: Ecclesiae,
2015, 290 páginas), do jornalista norte-americano Michael S. Rose. Aí, é
denunciada a chamada “‘Máfia da Lavanda’, um círculo de homossexuais
diletantes, sustentados por uma camada subterrânea de membros progressistas da
hierarquia, determinados a mudar as doutrinas, disciplinas e missão da Igreja
Católica desde dentro” (obra citada, p. 10).
A solução para isso,
segundo Rose, seria varrer do meio clerical quem permitiu essa catástrofe moral
aí, seja ele cardeal, bispo, padre formador, ex-reitor de Seminário etc.
Contudo, nos Estados Unidos, poucos seminaristas ousam denunciar esse ambiente
imoral por medo do reitor ou do próprio bispo. Sim, quem denuncia pode ser
expulso – sob qualquer pretexto – do seminário e, por conseguinte, não será
ordenado nunca (cf. Adeus, homens de Deus, p. 10). Aliás, não só ficará
“impedido” de ser padre, mas se tornará um “sepultado vivo” no mundo eclesial
(cf. idem, p. 102). Tais temas – pedofilia e práticas homossexuais no
clero – deverão ser tratados na reunião do Papa com os presidentes das
Conferências Episcopais de todo o mundo, de 21 a 24 de fevereiro.
Importa muito acompanhar
todo esse triste quadro com oração confiante, pois o Senhor Jesus está na Barca
(a Igreja). Ele parece dormir, na tempestade, mas, na hora certa, age e
restabelece a ordem (cf. Mc 4,36-41).
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Aleteia
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