sábado, 16 de fevereiro de 2019

A morte de Boechat e a guerra entre abutres e hienas

A tragédia com Ricardo Boechat revelou o pior do ser humano: hienas tentando rir da morte de quem discordam e abutres procurando lucrar numa hora de luto

A morte trágica e precoce do jornalista Ricardo Boechat revelou um dos aspectos mais nefastos do Brasil contemporâneo: pessoas de esquerda e direita que se aproveitaram do acidente para ganhar dividendos políticos.

Surgiram as hienas, tripudiando sobre a morte do jornalista, enquanto os abutres usavam a tragédia para fazer proselitismo ideológico.


É sabido que basta morrer alguém ou acontecer uma tragédia pra que logo os abutres rodeiem e façam um escarcéu, para então usar as carcaças em proveito próprio. Desde a múmia de Lênin é assim. A própria idéia de ‘revolução’ nada mais é do que um convite à morte.

 
Porém os abutres conquistaram a hegemonia no meio cultural, academia, em parte da Igreja etc, conquistando corações, não mentes. Além de comerem restos mortais, eles constroem uma auto-imagem do bem. Usam palavras como ‘social’, ‘direitos’, ‘igualdade’, ‘ecologia’, ‘justiça’ etc para fomentar na impressão dos demais uma aura positiva. E isto funciona.


Enquanto as hienas apenas riem quando encontram comida, a impressão que causam no espectador é de egoísmo e maldade. As palavras-chave das hienas são ‘individualismo’, ‘liberalismo’, ‘conservadorismo’ etc. As hienas causam repulsa, pois é muito mais difícil explicar para os abutres que ‘individualismo’, filosoficamente falando, é diferente de ‘egoísmo’, e fica fácil para os abutres acusar as hienas de serem ‘malditas conservadoras racistas-fascistas-homofóbicas’.

Não é de hoje que vivemos numa savana ideológica no Brasil. Muito antes das últimas eleições já se evidenciava um sectarismo latente entre a sociedade. As eleições foram apenas um símbolo de uma época, um marco. É certo também que esse sectarismo, a divisão da sociedade entre ‘nós e eles’, gays contra héteros, negros contra brancos, mulheres contra homens etc, foi causado pelos abutres, que pensam deter o monopólio das boas intenções.

 
É natural que existam abutres e hienas, por mais repulsivos que sejam, por mais que se odeiem, por mais que não sejam animais que as pessoas tatuam na pele e tomam como símbolos. Sua simbologia remete à podridão, à repulsa. Apesar disso, goste-se ou não, as espécies existem e cumprem alguma função, nem que seja a de inspirar reflexões.

Não entenda errado: não digo que hienas representam a direita e abutres, a esquerda. Apenas afirmo que há abutres e hienas no mundo. Muita gente de esquerda não é abutre e muitos de direita não são hienas.

 
Precisamos categorizar nossos inimigos. Há os grandes demônios: Mao, Stalin, Hitler, Mussolini, etc. Esses podem e devem ser humilhados e expostos. Porém há aqueles que, devido a qualquer razão ou emoção, podem discordar natural e civilizadamente entre si. Como afirma Edward Griffin:

“A única coisa que coletivistas e individualistas têm em comum é que a grande maioria deles é bem-intencionada. Querem a melhor vida possível para suas famílias, seus compatriotas, e para a humanidade. Querem prosperidade e justiça para o homem comum. O desacordo está em como conseguir essas coisas.”

Ou seja, coletivistas (socialistas, nazistas, fascistas etc) pensam que o estado irá proporcionar as melhorias almejadas enquanto os individualistas (liberais, conservadores, etc) preferem pensar que dar poder ao estado é que causa as mazelas. Isto é aceitável e natural. Aqueles que divergem intelectualmente de nós não merecem o nosso ódio. Isto é o princípio básico do cristianismo: “Perdoai-os, pois não sabem o que fazem”.

O fato é que ninguém quer ser hiena ou abutre. Nós gostamos de cães, gatos, leões, águias, dragões; até mesmo cobras, aranhas e outros bichos escrotos detêm posição mais privilegiada no nosso conceito.

 
Sejamos leões, dignos, que comem apenas o conquistado através da justa caça. Ou águias, para voar como os abutres, porém na condição de caçadores com visão aguçada. Escolher ser abutre ou hiena é feio, indigno e fará você comer carniça por toda a vida.

Perdão pelo spoiler: na guerra entre as hienas e os abutres, os últimos vencem, porque as hienas um dia morrem.
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Senso Incomum

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