Viagem
do Papa Francisco às Filipinas
HOMILIA
Santa
Missa no Rizal Park em Manila – Filipinas
Domingo,
18 de janeiro de 2015
«Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado»
(Is 9, 5). Sinto uma alegria particular por celebrar convosco o domingo do
«Santo Niño». A imagem do Santo Menino Jesus acompanhou a difusão do Evangelho
neste país desde o início. Vestido com os trajes reais, coroado e ornado com o
ceptro, o globo e a cruz, recorda-nos continuamente a ligação entre o Reino de
Deus e o mistério da infância espiritual. Disto mesmo nos fala Ele no Evangelho
de hoje: «Quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele»
(Mc 10, 15). O «Santo Niño» continua a anunciar-nos que a luz da graça de Deus
brilhou sobre um mundo que habitava nas trevas, trazendo a Boa-Nova da nossa
libertação da escravidão e guiando-nos pela senda da paz, do direito e da
justiça. Além disso, recorda-nos que fomos chamados para espalhar o Reino de
Cristo no mundo.
Ao longo da minha visita, ouvi-vos cantar: «Somos
todos filhos de Deus». Isto é o que o «Santo Niño» nos vem dizer. Recorda-nos a
nossa identidade mais profunda. Todos nós somos filhos de Deus, membros da
família de Deus. São Paulo disse-nos hoje que, em Cristo, nos tornamos filhos
adoptivos de Deus, irmãos e irmãs em Cristo. Isto é o que nós somos. Esta é a
nossa identidade. Vimos uma belíssima expressão disto, quando os filipinos se
uniram em torno dos nossos irmãos e irmãs atingidos pelo tufão.
O Apóstolo diz-nos que fomos abundantemente
abençoados porque Deus nos escolheu: «no alto do Céu [Ele] nos abençoou com
toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo» (Ef 1, 3). Estas palavras têm
uma ressonância especial nas Filipinas, porque é o maior país católico na Ásia.
E isto é já um dom especial de Deus, uma bênção; mas é também uma vocação: os
filipinos estão chamados a ser exímios missionários da fé na Ásia.
Deus escolheu-nos e abençoou-nos com uma
finalidade: ser santos e irrepreensíveis na sua presença (cf. Ef 1, 4).
Escolheu cada um de nós para ser testemunha, neste mundo, da sua verdade e da
sua justiça. Criou o mundo como um jardim esplêndido e pediu-nos para cuidar dele.
Todavia, com o pecado, o homem desfigurou aquela beleza natural; pelo pecado, o
homem destruiu também a unidade e a beleza da nossa família humana, criando
estruturas sociais que perpetuam a pobreza, a ignorância e a corrupção.
Às vezes, vendo os problemas, as dificuldades e as
injustiças, somos tentados a desistir. Quase parece que as promessas do
Evangelho não são realizáveis, são irreais. Mas a Bíblia diz-nos que a grande
ameaça ao plano de Deus a nosso respeito é, e sempre foi, a mentira. O diabo é o
pai da mentira. Muitas vezes, ele esconde as suas insídias por detrás da
aparência da sofisticação, do fascínio de ser «moderno», de ser «como todos os
outros». Distrai-nos com a miragem de prazeres efémeros e passatempos
superficiais. Desta forma, desperdiçamos os dons recebidos de Deus,
entretendo-nos com apetrechos fúteis; gastamos o nosso dinheiro em jogos de
azar e na bebida; fechamo-nos em nós mesmos. Esquecemos de nos centrar nas
coisas que realmente contam. Esquecemo-nos de permanecer interiormente como
crianças. Na realidade, estas – como nos ensina o Senhor – têm uma sabedoria
própria, que não é a sabedoria do mundo. É por isso que a mensagem do «Santo
Niño» é tão importante. Fala profundamente a cada um de nós; recorda-nos a
nossa identidade mais profunda, aquilo que somos chamados a ser como família de
Deus.
O «Santo Niño» recorda-nos também que esta
identidade deve ser protegida. Cristo Menino é o protector deste grande país.
Quando Ele veio ao nosso mundo, a sua própria vida esteve ameaçada por um rei
corrupto. O próprio Jesus viu-Se na necessidade de ser protegido. Ele teve um
protector na terra: São José. Teve uma família aqui na terra: a Sagrada Família
de Nazaré. Desta forma, recorda-nos a importância de proteger as nossas
famílias e a família mais ampla que é a Igreja, a família de Deus, e o mundo, a
nossa família humana. Hoje, infelizmente, a família tem necessidade de ser
protegida de ataques insidiosos e programas contrários a tudo o que nós
consideramos de mais verdadeiro e sagrado, tudo o que há de mais nobre e belo
na nossa cultura.
No Evangelho, Jesus acolhe as crianças, abraça-as e
abençoa-as. Também nós temos o dever de proteger, guiar e encorajar os nossos
jovens, ajudando-os a construir uma sociedade digna do seu grande património
espiritual e cultural. Especificamente, temos necessidade de ver cada criança
como um dom que deve ser acolhido, amado e protegido. E devemos cuidar dos
jovens, não permitindo que lhes seja roubada a esperança e sejam condenados a
viver pela estrada.
Uma criança frágil trouxe ao mundo a bondade de
Deus, a misericórdia e a justiça. Resistiu à desonestidade e à corrupção, que
são a herança do pecado, e triunfou sobre elas com o poder da cruz. Agora, no
final da minha visita às Filipinas, entrego-vos a Jesus que veio estar entre
nós como criança. Que Ele torne todo o amado povo deste país capaz de trabalhar
unido, de se proteger mutuamente a começar pelas vossas famílias e comunidades,
na construção dum mundo de justiça, integridade e paz. O «Santo Niño» continue
a abençoar as Filipinas e a sustentar os cristãos desta grande nação na sua
vocação de ser testemunhas e missionários da alegria do Evangelho, na Ásia e no
mundo inteiro.
Por favor, rezai por mim. Deus vos abençoe a todos!
Boletim da Santa Sé
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