Viagem
do Papa Francisco
ao Sri Lanka
HOMILIA
Santa
Missa e Canonização do beato José Vaz
Colombo
– Sri Lanka
Quarta-feira,
14 de janeiro de 2015
«Todos os confins da terra verão a salvação do
nosso Deus» (Is 52, 10).
Esta é a magnífica profecia que ouvimos na primeira
leitura de hoje. Isaías prediz o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo até aos
confins da terra. Esta profecia tem um significado especial para nós, que
celebramos a canonização do grande missionário do Evangelho, São José Vaz. Ele,
como tantos outros missionários na história da Igreja, respondeu à ordem dada
pelo Senhor ressuscitado para fazer discípulos de todas as nações (cf. Mt 28,
19). Com as suas palavras e, o mais importante, com o exemplo da sua vida,
conduziu o povo desta nação à fé que nos concede «parte na herança com todos os
santificados» (Act 20, 32).
Em São José, vemos um sinal eloquente da bondade e
do amor de Deus pelo povo do Sri Lanka. Mas, nele, vemos também um estímulo
para perseverar no caminho do Evangelho a fim de crescermos nós próprios em
santidade e testemunharmos a mensagem evangélica de reconciliação à qual
dedicou a sua vida.
Padre do Oratório, José Vaz deixa Goa, sua terra
natal, e chega a este país movido apenas pelo zelo missionário e por um grande
amor a estes povos. Por causa da perseguição religiosa em acto, vestia-se como
um mendigo, cumpria os seus deveres sacerdotais encontrando secretamente os
fiéis, muitas vezes durante a noite. Os seus esforços deram energia espiritual
e moral à população católica assediada. Sentia uma ânsia particular de servir
os doentes e atribulados. O seu ministério em favor dos enfermos, durante uma
epidemia de varíola em Kandy, foi tão apreciado pelo rei, que lhe foi concedida
maior liberdade de ministério. A partir de Kandy, pôde alcançar outras partes
da ilha. Deixou-se consumir pelo trabalho missionário e morreu, exausto, aos
cinquenta e nove anos de idade, venerado pela sua santidade.
São José Vaz continua a ser um exemplo e um mestre
por muitas razões, mas gostaria de focalizar três.
Antes de mais nada, foi um sacerdote exemplar. Hoje
temos aqui connosco muitos sacerdotes, religiosos e religiosas, que, como ele,
estão consagrados ao serviço do Evangelho de Deus e do próximo. Encorajo cada um
de vós a olhar para São José como para um guia seguro. Ensina-nos a sair para
as periferias, a fim de tornar Jesus Cristo conhecido e amado por toda a parte.
Ele é também um exemplo de sofrimento paciente por causa do Evangelho, de
obediência aos superiores, de solícito cuidado pela Igreja de Deus (cf. Act 20,
28). Como nós, São José viveu num período de transformações rápidas e
profundas; os católicos eram uma minoria e, com frequência, dividida no seu
seio; havia hostilidade ocasional, e até mesmo perseguição, dos de fora. Apesar
disso, ele, permanecendo constantemente unido ao Senhor crucificado na oração,
foi capaz de se tornar para todos um ícone vivo do amor misericordioso e
reconciliador de Deus.
Em segundo lugar, São José mostrou-nos a importância
de transcender as divisões religiosas no serviço da paz. O seu amor indiviso a
Deus abriu-o ao amor do próximo; gastou o seu ministério em favor dos
necessitados, sem olhar quem fosse e onde estivesse. O seu exemplo continua a
inspirar hoje a Igreja no Sri Lanka, a qual, de bom grado e generosamente,
serve todos os membros da sociedade. Não faz distinção de raça, credo, tribo,
condição social ou religião, no serviço que proporciona através das suas
escolas, hospitais, clínicas e muitas outras obras de caridade. Nada mais pede
do que liberdade para exercer a sua missão. A liberdade religiosa é um direito
humano fundamental. Cada indivíduo deve ser livre de procurar, sozinho ou
associado com outros, a verdade, livre de expressar abertamente as suas convicções
religiosas, livre de intimidações e constrições externas. Como nos ensina a
vida de José Vaz, a autêntica adoração de Deus leva, não à discriminação, ao
ódio e à violência, mas ao respeito pela sacralidade da vida, ao respeito pela
dignidade e a liberdade dos outros e a um solícito compromisso em prol do
bem-estar de todos.
Finalmente, São José oferece-nos um exemplo de zelo
missionário. Embora tenha partido para o Ceilão a fim de assistir e apoiar a
comunidade católica, na sua caridade evangélica ele veio para todos. Deixando
para trás a sua casa, a sua família, o conforto dos lugares que lhe eram
familiares, respondeu à chamada para ir mais longe, para falar de Cristo onde
quer que se encontrasse. São José sabia como oferecer a verdade e a beleza do Evangelho
num contexto plurirreligioso, com respeito, dedicação, perseverança e
humildade. Este é, também hoje, o caminho para os seguidores de Jesus. Somos
chamados a ir mais longe com o mesmo zelo, com a mesma coragem de São José, mas
também com a sua sensibilidade, com o seu respeito pelos outros, com a sua
ânsia de partilhar com eles a palavra da graça (cf. Act 20, 32) que tem o poder
de os edificar. Somos chamados a ser discípulos missionários.
Amados irmãos e irmãs, rezo para que, seguindo o
exemplo de São José Vaz, os cristãos desta nação possam ser confirmados na fé e
dar uma contribuição ainda maior para a paz, a justiça e a reconciliação na
sociedade srilanquesa. Isto é o que Cristo espera de vós. Isto é o que São José
vos ensina. Isto é o que a Igreja precisa de vós. Confio-vos todos à
intercessão do nosso novo Santo, para que, em união com toda a Igreja espalhada
pelo mundo inteiro, possais cantar um cântico novo ao Senhor e proclamar a sua
glória até aos confins do mundo. Porque o Senhor é grande e digno de todo o
louvor (cf. Sal 96/95, 4). Amen.
Boletim da Santa Sé
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