domingo, 18 de janeiro de 2015

Papa pede que jovens sejam sábios, não "jovens de museu".


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
ÀS FILIPINAS


ENCONTRO COM OS JOVENS
DISCURSO DO SANTO PADRE
Campo Desportivo da Universidade de São Tomás, Manila
Domingo, 18 de Janeiro de 2015

Queridos jovens amigos!

É uma alegria para mim estar hoje convosco. Saúdo cordialmente a cada um de vós e agradeço a todos aqueles que tornaram possível este encontro. Durante a minha visita às Filipinas, senti uma vontade particular de me encontrar convosco, queridos jovens, para vos escutar e falar. Desejo exprimir o amor e a esperança que a Igreja tem por vós e em vós. A minha intenção é encorajar-vos, como cidadãos cristãos deste país, na oferta de vós mesmos feita com entusiasmo e honestidade para o grande compromisso de renovar a vossa sociedade e contribuir para a construção de um mundo melhor.

De modo especial, agradeço aos jovens que me dirigiram palavras de boas-vindas. Expressaram de forma eloquente, em vosso nome, as vossas preocupações e ansiedades, a vossa fé e as vossas esperanças. Falaram das dificuldades e expectativas dos jovens. Embora não possa responder a cada uma destas questões de forma exaustiva, sei que, juntamente com os vossos pastores e entre vós, ireis considerá-las cuidadosamente com a ajuda da oração e fareis propostas concretas de acção.

Hoje quero sugerir-vos três áreas-chave onde tendes uma contribuição significativa a dar à vida do vosso país. A primeira é o desafio da integridade. O termo «desafio» pode ser entendido de duas maneiras. A primeira, de modo negativo, como uma tentativa de agir contra as vossas convicções morais, contra tudo o que vós professais acerca do que é verdadeiro, bom e justo. A nossa integridade pode ser desafiada por interesses egoístas, pela ganância, pela desonestidade ou pela intenção de manipular os outros.

Mas a palavra «desafio» pode-se entender também em sentido positivo. Pode ser vista como um convite a ser corajoso, a dar um testemunho profético da própria fé e de tudo o que se crê e considera sagrado. Neste sentido, o desafio da integridade é algo com que é preciso confrontar-vos nestes tempos e nas vossas vidas. Não se trata de algo que se pode adiar para quando fordes mais idosos ou tiverdes maiores responsabilidades. Mesmo agora, sois desafiados a agir com honestidade e lealdade nas vossas relações com os outros, sejam eles jovens ou idosos. Não fujais deste desafio. Um dos maiores desafios que os jovens têm pela frente é o de aprender a amar. Amar significa assumir um risco: o risco da rejeição, o risco de ser usados ou, pior, usar o outro. Não tenhais medo de amar. Mas, mesmo amando, preservai a vossa integridade. Também nisso, sede honestos e leais.

Na leitura que acabámos de ouvir, Paulo diz a Timóteo: «Ninguém escarneça da tua juventude; antes, sê modelo dos fiéis na palavra, na conduta, no amor, na fé, na castidade» (1 Tm 4, 12).

Portanto sois chamados a dar bom exemplo, exemplo de integridade. Ao fazê-lo, naturalmente tereis de enfrentar oposições e críticas, o desânimo e até o ridículo. Mas vós recebestes um dom que vos permite superar estas dificuldades: o dom do Espírito Santo. Se alimentardes este dom com a oração diária e tirardes força da participação na Eucaristia, sereis capazes de alcançar aquela grandeza moral a que vos chama Jesus. Tornar-vos-eis também uma bússola para os vossos amigos que andam à deriva. Penso especialmente nos jovens que se sentem tentados a perder a esperança, a abandonar os seus altos ideais, a deixar a escola ou a gozar o dia-a-dia.

Por isso, é essencial não perder a vossa integridade, não comprometer os vossos ideais, nem ceder às tentações contra a bondade, a santidade, a coragem e a pureza. Abraçai o desafio. Com Cristo, vós sereis – na verdade, já o sois – os artífices duma cultura filipina renovada e mais justa.

Uma segunda área onde sois chamados a dar a vossa contribuição é mostrar solicitude pelo meio ambiente. Isto não se deve apenas ao facto de que o vosso país, mais do que outros, corre o risco de ser seriamente afectado pelas alterações climáticas. Sois chamados a cuidar da criação, não só como cidadãos responsáveis, mas também como seguidores de Cristo. O respeito pelo ambiente requer mais do que simplesmente usar produtos não poluentes ou reciclá-los. Estes são aspectos importantes, mas não suficientes. Temos necessidade de ver, com os olhos da fé, a beleza do plano de salvação de Deus, a ligação entre o ambiente natural e a dignidade da pessoa humana. O homem e a mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus, tendo-lhes sido dado o domínio sobre a criação (cf. Gn 1, 26-28). Como administradores da criação, somos chamados a fazer da Terra um belíssimo jardim para a família humana. Quando destruímos as nossas florestas, devastamos o solo e poluímos os mares, traímos esta nobre vocação.

Há três meses, os vossos bispos abordaram estes temas numa Carta Pastoral profética. Pediram a cada um que reflectisse sobre a dimensão moral das nossas actividades e dos nossos estilos de vida, nos nossos consumos e no uso que fazemos dos recursos naturais. Hoje peço-vos que o façais no contexto das vossas vidas e do vosso compromisso em prol da construção do Reino de Cristo. Queridos jovens, o uso e a gestão correctos dos recursos naturais é uma tarefa urgente, para a qual tendes uma importante contribuição a dar. Sois o futuro das Filipinas. Mostrai-vos interessados por tudo o que sucede na vossa belíssima terra.

Outra área, para a qual podeis prestar uma contribuição, é particularmente querida a todos vós: o cuidado dos pobres. Somos cristãos, membros da família de Deus. Cada um de nós – não importa se, individualmente, temos muito ou pouco – é chamado a estender a mão pessoalmente e servir os nossos irmãos e irmãs necessitados. Há sempre alguém perto de nós que está em necessidade: material, psicológica, espiritual. O maior presente que lhe podemos dar é a nossa amizade, a nossa solicitude, a nossa ternura, o nosso amor por Jesus. Recebê-Lo significa receber com Ele tudo; dá-Lo significa dar o maior presente de todos.

Muitos de vós sabem o que significa ser pobre. Mas, muitos de vós terão experimentado também algo da bem-aventurança que Jesus prometeu aos «pobres em espírito» (Mt 5, 3). Gostaria de deixar aqui uma palavra de incentivo e gratidão àqueles de vós que escolheram seguir Nosso Senhor na sua pobreza, através da vocação ao sacerdócio e à vida religiosa; bebendo naquela pobreza, enriquecereis a muitos. A todos vós, porém, especialmente àqueles que podem fazer e dar mais, peço: Por favor, fazei mais! Por favor, dai mais! Quando ofereceis algo do vosso tempo, dos vossos talentos e dos vossos recursos a tantas pessoas carentes que vivem marginalizadas, sois diferentes. É uma diferença de que há uma necessidade desesperada e pela qual sereis abundantemente recompensados pelo Senhor, pois – como Ele disse - «tereis um tesouro no céu» (Mc 10, 21).


Vinte anos atrás, São João Paulo II afirmou, neste mesmo lugar, que o mundo precisa de «um novo tipo de jovem»: um jovem que esteja comprometido com os mais altos ideais e desejoso de construir a civilização do amor. Sede aqueles jovens de que falava São João Paulo II. Não percais os vossos ideais. Sede jubilosas testemunhas do amor de Deus e do plano maravilhoso que Ele tem para nós, para este país e para o mundo em que vivemos. Por favor, rezai por mim. Deus vos abençoe a todos.
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Santa Sé

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