Repugna
ao senso comum a chacina perpetrada contra os jornalistas do Charlie Hebdo. Todo
homicídio é um pecado gravíssimo e jamais justificável. As religiões têm
um papel insubstituível na manutenção da paz.
O
cartunismo, contudo, não há de pactuar com a ofensa à religiosidade. Qual
é o católico que não se sente visceralmente vituperado com a charge do papa
Bento XVI, no ato da consagração eucarística, envergando uma camisinha
(preservativo) no lugar da hóstia santa?
É
inequívoco que o cartunismo supõe certa complacência, uma boa dose de espírito
esportivo e a capacidade de o leitor rir de si próprio. Isto é saudável! Sem
embargo, os países ditos democráticos precisam normatizar a tão propalada e
exaltada liberdade de expressão ou de imprensa, salvaguardando, destarte, os
valores religiosos, sobretudo dos grupos cuja suscetibilidade encontra-se à
flor da pele. Para determinados crentes, a “brincadeira” da charge consiste em
autêntico vitupério à fé; algo comparável a xingar a mãe.
Se
quisermos edificar um mundo harmonioso, onde coexistam as diversas religiões, é
mister impormo-nos limites razoáveis, principalmente na temática das crenças,
pois neste setor o melindre conta bastante e amiúde degenera em comportamentos
antissociais ou criminosos.
No
Brasil, quem engendrar uma caricatura detrimentosa de qualquer religião ou
escrever um artigo aleivoso estará sujeito a cominações cíveis e criminais.
Lembremo-nos, por exemplo, que anos atrás a justiça brasileira proibiu que uma
escola de samba levasse à avenida uma imagem do Cristo Redentor.
O
episódio dantesco na redação do Charlie Hebdo, reprovável sob todos os
aspectos, decerto questiona-nos acerca de dois problemas momentosos: o
fanatismo religioso e a conveniência de eventuais lindes democráticos
para a famigerada liberdade de manifestação do pensamento.
Edson Sampel
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ZENIT
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