Em síntese:
Há quem alegue que na Bíblia não se encontra a palavra homossexualismo;
por isto não se pode dizer que a S. Escritura condena
tal prática. — Em resposta, observamos que, se a palavra não ocorre, ocorre,
sim, o conceito de homossexualismo, que é severamente condenado em Lv20,13; Rm
1,23-27; 1Cor 6,9s.
Alega-se
também que Jesus jamais condenou o homossexualismo; se fosse tão grave, Ele o
teria repudiado. — Respondemos que os Evangelhos não pretendem ser um relato
completo de tudo o que Jesus disse e fez, como nota São João no final do seu
Evangelho (cf. 20,30s; 21,25). Por isto os Evangelhos hão de ser lidos no
contexto dos demais escritos do Novo Testamento; estes, sem dúvida, rejeitam o
homossexualismo, como se depreende dos textos atrás citados. — Ademais, antes
que a Escritura condene tal prática, a própria lei natural, incutida em todo
ser humano, o rejeita, visto que a natureza conhece dois sexos, que são
complementares entre si.
A
campanha homossexualista não cessa de procurar justificar a prática que ela
propugna. Temos em mãos um panfleto intitulado "O que todo cristão deve saber
sobre homossexualidade"; foi-nos enviado com um pedido de esclarecimentos,
que passamos a propor, distinguindo quatro pontos do panfleto.
1.
"NA BIBLIA NÃO SE ENCONTRA A PALAVRA HOMOSSEXUALISMO"
Assim
começa o impresso:
"Não
há na Bíblia nenhuma só vez as palavras HOMOSSEXUAL, LÉSBICA nem
HOMOSSEXUALISMO. Todas as Bíblias que empregam estas expressões, estão erradas
e mal traduzidas. A palavra HOMOSSEXUAL só foi inventada em 1869, reunindo duas
raízes linguísticas: HOMO (do
grego, significa "igual") e SEXUAL (do latim). Portanto, como a
Bíblia foi escrita de dois a quatro mil anos atrás, não poderiam os escritores
sagrados ter usado uma palavra inventada só no século passado. Elementar,
irmão!
A
prática do amor entre pessoas do mesmo sexo, porém, é muito mais antiga que a
própria Bíblia. Há documentos egípcios de 500 anos antes de Abraão, que revelam
a prática do homoerotismo não só pelos homens, mas também entre os deuses Horus
e Seth. 'O homossexualismo é
tão antigo como a própria humanidade', dizia o célebre escritor Goethe".
A
propósito observamos:
a) a
antiguidade da prática homossexual não é suficiente para legitimá-la. Nem tudo
o que é antigo, é aceitável;
b) o
fato de que Bíblia nunca apresenta a palavra "homossexualismo", nada
quer dizer; a Bíblia descreve o homossexualismo e condena peremptoriamente a
sua prática. Assim:
Lv
20,13; "O homem que se deita com outro homem
como se fosse uma mulher, ambos cometeram uma abominação; deverão morrer, e o
seu sangue cairá sobre eles".
Rm
1,23-27: "Trocaram a glória do Deus
incorruptível por imagens do homem corruptível, de aves, quadrúpedes e répteis.
Por isto Deus os entregou, segundo o desejo de seus corações, à impureza em que
eles mesmos desonraram seus corpos..., suas mulheres mudaram as relações
naturais por relações contra a natureza; igualmente os homens, deixando a
relação natural com a mulher, arderam em desejo uns para com os outros,
praticando torpezas homens com homens e recebendo em si mesmos a paga da sua
aberração".
Não
resta dúvida, portanto, de que a S. Escritura rejeita severamente o
homossexualismo.
2.
"JESUS JAMAIS O CONDENOU"
Mais
adiante diz o folheto em foco:
"O
maior argumento para se comprovar que as Escrituras Sagradas não condenam o amor
entre pessoas do mesmo sexo é o fato de que Jesus Cristo nunca falou alguma
palavra contra os homossexuais. Se o homossexualismo fosse uma coisa tão
abominável, certamente o Filho de Deus teria incluído esse tema em sua
mensagem. O que Jesus condenou, sim, foi a dureza do coração, a intolerância
dos fariseus hipócritas, a crueldade daqueles que dizem Senhor,
Senhor!, mas esquecem a caridade e o respeito aos
outros (cf. Mt 7,21). E foi o próprio Messias quem deu o exemplo de tolerância
em relação aos 'desviados', andando e comendo com prostitutas, pecadores e
publicanos. E tem mais: Jesus Cristo mostrou-se particularmente aberto à
homossociabilidade, revelando carinhosa predileção por João
Evangelista..."
A
propósito observamos:
a)
Os Evangelhos não são uma súmula teológica ou um compêndio sistemático das
verdades da fé e da Moral cristã. Também os Evangelhos não pretendem
transmitir-nos tudo o que Jesus disse e fez. O próprio S. João no fim do seu
Evangelho o observa em duas passagens:
20,30s:
"Jesus fez, diante de seus discípulos, muitos
outros sinais ainda, que não se acham escritos neste livro. Estes, porém, foram
escritos para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenhais a vida em seu nome".
21,25:
"Há muitas outras coisas que Jesus fez e que, se
fossem escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter os livros que
se escreveriam".
Positivamente,
os Evangelhos são o eco da pregação oral dos Apóstolos. Esta não foi toda
consignada por escrito; ficou viva na Tradição oral da Igreja. Por isto, para
ler corretamente os Evangelhos, devemos colocá-los sempre dentro do quadro da
Tradição oral. Esta, de geração em geração, vem transmitindo as verdades que
não foram registradas nos escritos sagrados. Jamais será lícito isolar os
Evangelhos dos demais escritos bíblicos e da Tradição oral da Igreja. Ora é
certo que a Escritura condena o homossexualismo. Além dos textos já citados,
outros se podem aduzir:
1Cor
6,9s: "Não sabeis que os injustos não
herdarão o Reino de Deus? Não vos iludais. Nem os impudicos, nem os idólatras,
nem os adúlteros, nem os depravados, nem os efeminados nem os sodomitas...
herdarão o Reino de Deus".
Nesta
passagem o Apóstolo se refere aos sodomitas, lembrando assim o episódio de
Sodoma, a cidade dos homossexuais que foi tremendamente punida, como narra Gn
19,1-29. — A propósito, porém, o panfleto que analisamos, levanta uma objeção:
Por
que os católicos conservam somente a condenação do homossexualismo dentre as
sentenças legislativas do Antigo Testamento e abandonam dezenas de outras
proibições decretadas pelo mesmo Senhor; assim esquecem que o Antigo Testamento
proíbe comer carne de porco (cf. Lv 11,7); não obstante, os católicos comem
carne de porco.
Respondemos
que a proibição de homossexualismo é algo decorrente da própria natureza humana
ou da lei natural, como diremos mais adiante. Ao contrário, a proibição de
comer carne de porco é algo decorrente de uma lei positiva, lei momentânea,
passageira, não fundada na natureza humana como tal. A proibição de carne de
porco se devia, no Antigo Testamento, a uma norma de higiene: julgavam os
antigos que o porco era um animal imundo e contaminava os homens; por isto não
se devia comer a sua carne. Ora hoje pode-se pensar diversamente.
b)
O final do texto atrás transcrito, em que se fala da homossociabilidade de
Jesus chega a ser irreverente ou blasfemo. — Jesus teve discípulos masculinos,
porque os homens eram tidos como indicados para continuar a história dos doze
Patriarcas do Antigo Testamento; a Igreja está fundada sobre os doze Apóstolos
(cf. Ap 21, 14), que representavam as doze tribos de Israel, cada qual
encabeçada por um dos filhos de Jacó.
3.
A LEI NATURAL
É
de notar que, antes mesmo que a Escritura condene o homossexualismo, a própria
lei natural o repudia. É uma aberração ou um desvio das funções que o Criador
instituiu. Se existem dois sexos, isto se dá precisamente para que um
complemente o outro; o homem tem predicados que a mulher não tem, e vice-versa.
Por isto o casamento só pode ocorrer natural e legitimamente entre homem e
mulher.
4.
SAUL E JONATAS
Lê-se
o seguinte no panfleto mencionado:
"Se
o homossexualismo fosse prática tão condenável, como Justificar a indiscutível relação
homossexual existente entre o rei Davi e Jonatas? Eis a declaração do salmista
para o seu bem-amado: 'Tua amizade me era mais maravilhosa do que o amor das
mulheres. Tu me eras deliciosamente querido' (2Sm 1,26)... Negar o amor
homossexual entre estes dois importantes personagens bíblicos... é negar a
própria evidência dos fatos".
Observamos
em resposta:
1)
A interpretação gay do texto bíblico é destituída de fundamento, como será
evidenciado a seguir. Mas, ainda que o vício existisse entre Davi e Jonatas,
não seria modelo aprovado pela Bíblia para legitimar o homossexualismo. A
Escritura narra também as fraquezas dos homens que Deus escolhe como seus
instrumentos.
2)
Na verdade, Davi parece ter nutrido para com Jonatas a amizade de dois bons companheiros
de luta, interessados em apaziguar os ânimos do rei Saul; Davi era o perseguido
e Jonatas o protetor de Davi. Esta atitude de Jonatas basta para explicar a
profunda gratidão e amizade de Davi para com Jonatas.
Notemos,
aliás, que Davi teve muitas mulheres — o que não se dá com os homossexuais
propriamente ditos. Seja citado o texto de 2Sam 5, 13-16:
"À
sua chegada de Hebron, tomou Davi ainda concubinas e mulheres em Jerusalém, e
nasceram-lhe filhos e filhas. Estes são os nomes dos filhos que lhe nasceram em
Jerusalém: Samua, Sobab, Natã, Salomão, Jebaar, Elisau, Nafeg, Jáfia, Elisama,
Baalida, Elifalet".
Considerem-se
também os dizeres de 2Sm 16,21 s, que falam repetidamente das "concubinas
de Davi".
Ademais
é muito significativo o caso de Davi, que se apoderou da mulher Betsabéia, do
general Urias, e, por isto, mandou matar Urias expondo-o na frente de batalha
às invectivas do inimigo; cf. 2Sm 11,2-17. O texto sagrado dá a entender que
Davi se apaixonou por tal mulher e dela teve um filho, que morreu, e outro, que
foi o rei Salomão. Ora tais coisas não costumam acontecer aos homossexuais.
Donde se vê que gratuita é a hipótese de ter sido Davi um homossexual. Como
dito, mesmo que o tivesse sido, daí não se poderia depreender argumento nenhum
em favor do homossexualismo.
Dom
Estêvão Bettencourt (OSB)
Título original: "Jesus jamais condenou o homossexualismo"
Disponível em: Católicos Online
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