Quando você ouve falar em "cristãos
perseguidos", o que vem à sua mente?
Você pensa em algum lugar do Oriente Médio? Você
pensa em igrejas destruídas, mosteiros pilhados, crianças decapitadas, mulheres
vendidas como escravas sexuais, sacerdotes e fiéis sendo obrigados a fugir da
própria terra para salvar a vida? Você fica aliviado quando lhe dizem que estas
atrocidades são cometidas só por pessoas que "mal interpretaram" a
"religião da paz"? Talvez sim. Você encontra pelo menos um “frio
conforto” ao ouvir dizer que a perseguição contra os cristãos só acontece em
terras distantes, em cidades que quase nem encontramos no mapa, com pessoas
cujos nomes não sabemos pronunciar e cujas línguas não falamos? Eu espero que
não.
E também espero que ninguém ache que os cristãos
aqui no Ocidente não têm inimigos civis, sociais, morais e espirituais
altamente motivados a destruí-los. Eu espero que nós não sejamos como os judeus
alemães em 1935, que vasculhavam os textos das Leis de Nuremberg em busca de
algum trecho que lhes garantisse que as leis antissemitas se aplicavam a
qualquer outro grupo de judeus, mas não a eles.
Já faz décadas que o dogmatismo anticristão em
geral e o fanatismo anticatólico em particular vêm sendo socialmente
aceitáveis. Um agressor pode levar uma vida tranquila e agradável numa cultura
popular que vê como “normal” insultar católicos e suas crenças. Mais
recentemente, o vasto aparato da burocracia civil, aqui nos Estados Unidos, por
exemplo, voltou os seus olhos malignos contra os fiéis cristãos, em especial
contra os católicos. Armados com um arsenal de leis, regulamentos e ordens, com
um exército de burocratas não eleitos e irresponsáveis, apoiados por juízes e
tribunais e, em última análise, fortificados por homens com distintivos e
armas, os poderes políticos têm se alinhado aos poderes culturais contra os
católicos e contra os cristãos como um todo.
Três exemplos atuais, aqui nos EUA:
1. A posição católica pró-vida de um candidato a um
cargo público foi vilipendiada em uma recente propaganda política; essa
propaganda, fanaticamente grosseira, é inimaginável contra um candidato
muçulmano, hindu ou judeu.
2. Em Houston, no Texas, um projeto foi transformado
em lei pela primeira prefeita assumidamente lésbica da cidade. A Lei “HERO”
[que significa “herói”, em inglês, mas é usada como acrônimo de “Houston Equal
Rights Ordinance”, ou Portaria sobre a Igualdade de Direitos em Houston]
permitiria, entre outras coisas, que as pessoas usassem os banheiros do sexo
oposto. Centenas de igrejas locais reuniram assinaturas pedindo que essa lei
fosse submetida a um referendo público. Quando a prefeitura rejeitou a petição,
as paróquias entraram com uma ação judicial. Em resposta, a prefeitura resolveu
intimidar os párocos exigindo que eles se abstivessem de sermões e
correspondências nas quais fizessem referências à homossexualidade, à
identidade de gênero, à portaria HERO ou à prefeita. Os padres que
descumprissem a lei enfrentariam multas, prisão ou as duas coisas.
3. Em Coeur D'Alene, uma cidade no Estado de Idaho,
dois ministros receberam ordens de autoridades da cidade para realizar
casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Caso eles se negassem a obedecer,
seriam multados e até presos.
Poderíamos dizer a nós mesmos que estes casos são
isolados e excepcionais. Mas eu acho que a Liga Católica, que tem publicado
relatórios anuais sobre a intolerância anticatólica nos EUA desde 1994,
discordaria. Assim como São João Paulo II.
Em 1976, o então cardeal Karol Wojtyla se
pronunciou durante um Congresso Eucarístico aqui nos Estados Unidos, em que se
comemorava o bicentenário da assinatura da Declaração de Independência do país.
Ele disse as seguintes palavras proféticas:
“Estamos hoje presenciando o maior confronto
histórico que a humanidade jamais experimentou. Eu acho que o grande círculo da
sociedade americana, ou o grande círculo da comunidade cristã, ainda não
percebe isto plenamente. Estamos presenciando a confrontação final entre a
Igreja e a anti-igreja, entre o Evangelho e o anti-evangelho, entre Cristo e o
anticristo. Esse confronto está dentro dos planos da Divina Providência. Ele
faz parte, portanto, do Plano de Deus, e é um desafio que a Igreja deve assumir
e enfrentar com coragem (...) Temos de nos preparar para sofrer grandes
provações, que exigirão de nós a disposição de abrir mão até mesmo da vida, bem
como uma dedicação total a Cristo e para Cristo (...) Com as orações de vocês e
minhas, é possível mitigarmos a tribulação que virá, mas já não é possível
evitá-la, pois só com ela a Igreja poderá ser efetivamente renovada. Quantas
vezes a renovação da Igreja aconteceu por meio do derramamento de sangue? Desta
vez não vai ser diferente. Nós temos que ser fortes, nos preparar e confiar em
Cristo e na sua Santa Mãe”.
Em nossos tempos, as linhas de separação entre
"a Igreja e a anti-igreja", como disse o cardeal Wojtyla, se tornaram
muito evidentes. E um lado, pelo menos, está pronto para a batalha e ansioso
pela luta. Um lado, aliás, já está claramente em marcha. E o outro lado?
Eu não acho que possamos evitar esse conflito ou
encontrar um lugar tranquilo e confortável para esperar a tempestade passar.
Também não podemos ter a certeza de que o assédio de hoje não vai se tornar a
ativa perseguição de amanhã. E acho que os fiéis católicos podem contar com
muito poucos aliados. Quem estará do nosso lado? O governo Obama, que está
processando as Irmãzinhas dos Pobres para obrigá-las a pagar os
anticoncepcionais das suas funcionárias? Os católicos do Congresso, que votaram
esmagadoramente a favor dessa política de saúde pública do governo Obama? A
Suprema Corte, que “descobriu” um direito constitucional à sodomia?
Onde é que podemos encontrar aliados dentro da
cultura popular para defender os fiéis católicos? Será que podemos esperar que
surjam eloquentes editoriais no New York Times em nossa defesa? Sátiras
inteligentes a nosso favor no Saturday Night Live? Podemos imaginar Miley Cyrus
derramando a alma em hinos de apoio à nossa fé?
Será que vamos encontrar defensores da fé oriundos
do mundo acadêmico? Podemos esperar que os graduados típicos da maioria das
escolas públicas (de qualquer nível) sejam versados defensores dos direitos
civis dos católicos? Podemos esperar que as universidades católicas que pagam
os abortos das suas funcionárias se levantem firmes contra as forças da
anti-igreja?
Precisamos fazer um levantamento muito sóbrio e
humilde dos nossos opositores, dos nossos aliados, das nossas obrigações e dos
nossos recursos. Os nossos opositores têm número e poder assombrosos. Nossos
aliados são poucos em quantidade. As nossas obrigações são grandes – temos que
garantir que as luzes da fé e da razão sejam repassadas à próxima geração. A
nossa fidelidade a Cristo nos exige isso. Devemos, corajosamente, amorosamente,
persistentemente, anunciar a Cristo. Se não o anunciarmos agora, enquanto a
tempestade está ainda se formando, então pode ser que vivamos para ver o dia em
que os nossos filhos terão que sussurrar o seu nome nas catacumbas. Pior ainda:
pode ser que vivamos para ver o dia em que os nossos netos murmurarão o seu
nome na forca.
Os nossos recursos são a nossa grande esperança. A
graça de Deus, as promessas de Cristo, a intercessão de Nossa Senhora e dos
santos e o ministério da Igreja estão do nosso lado. Sejamos bons custódios
desses recursos!
Pe. Robert Mcteigue
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Aleteia
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