A partir de 13 de janeiro de 2015, os leitores
italianos vão encontrar nas bancas uma nova voz. Uma voz que, para citar o seu
fundador Mario Adinolfi, "não cantará junto com o coro e irá contra toda
mistificação". E não sofrerá de falta de coragem: num momento histórico
que não tem nada de cor-de-rosa para os pequenos editores, o jornal “La Croce”
[“A Cruz”] decidiu renunciar ao financiamento público e embarcar nesta aventura
sem ter por trás nenhum rico empreendedor. É um sinal de confiança no futuro;
de confiança no fato de que um número crescente de leitores está cansado dos
"mitos do progresso" em questões como o aborto, a eutanásia, a teoria
de gênero e os chamados "novos direitos". “La Croce” vai desafiar
esses "mitos" propondo "uma cultura da vida e da família".
E não só isso: todos os dias, o jornal abarcará toda a realidade, da política à
economia, da cultura ao esporte.
Na véspera da estreia nas bancas, Adinolfi
apresenta o “La Croce” para ZENIT.
ZENIT: Vamos
começar com o que eu chamo de “escolha corajosa”: o que motivou você a se
lançar nesta aventura sem financiamento público e sem grandes grupos por trás?
Adinolfi:
A necessidade de fazer desse jeito. Eu escrevi um pequeno livro, “Voglio la
mamma” [“Eu quero a minha mãe”], para um público de poucas centenas de amigos.
De repente, descobri que muitas pessoas queriam falar dos temas-tabu que eu
tinha encarado no livro, do ponto de vista que eu tinha proposto. Milhares,
dezenas de milhares de pessoas se reuniram comigo numa turnê massacrante de 125
reuniões em oito meses, que, no fundo, foram só para repetir em conjunto que
nós temos algo a dizer sobre os temas essenciais do nascer, do amar e do
morrer. Queremos falar "contra os mitos do progresso", como o aborto,
a eutanásia, a paternidade ou maternidade homossexual, a ideologia de gênero, e
dizer que somos a favor da cultura da vida e da família, sempre em apoio dos
mais frágeis e realmente carentes de direitos. Não aceitamos a visão
antropológica de quem quer transformar as pessoas em coisas: os filhos em
objetos de compra e venda, as mulheres em barrigas que podem ser alugadas, os
idosos e os doentes em produtos deteriorados que devem ser eliminados, os ainda
não nascidos em produtos invisíveis que podem ser jogados fora ou usados para
fazer experimentações.
ZENIT: Você
considera que os jornais italianos oferecem uma visão alinhada com os
"mitos do progresso"?
Adinolfi: Eles
oferecem uma visão irreal e mistificada, de que o "bem" seria uma
aceitação supina de um progresso em que não se pode nem sequer chamar a mãe de
mãe, porque seria preciso usar termos politicamente corretos como "genitor
1 e genitor 2". Eu senti a necessidade, depois da experiência de “Voglio
la mamma”, de dar continuidade a esse compromisso com a vida e com a família,
construindo um meio de contato diário e de desenvolvimento cultural constante,
relatando todos os dias a realidade ao nosso redor do jeito que ela é, com uma
voz que não cantará no coro e que será contra qualquer mistificação.
ZENIT: “La
Croce” [“A Cruz”] é uma imagem que evoca uma identidade confessional. Por que
você escolheu esse nome?
Adinolfi:
A cruz não é uma imagem confessional. Muito diferente disso: ela é um sinal de
libertação da escravidão. Nós somos acusados de ser medievais, intolerantes e
retrógrados, mas os nossos acusadores não se lembram de que houve uma época em
que as pessoas eram coisas vendidas no mercado de escravos, podiam morrer por
um capricho de um imperador, eram jogadas de um penhasco se nascessem com
alguma doença. Houve um tempo: faz mais de dois mil anos. Os retrógrados são
aqueles que querem nos levar de volta para esse tempo, o tempo da escravidão,
da qual um Sinal nos libertou. Libertou a todos, crentes e não crentes. Esse
Sinal ainda é escandaloso hoje em dia, dois mil anos depois, no meio de uma
contemporaneidade que às vezes é delirante, que vende o falso como verdadeiro.
Não vamos ter medo de causar escândalo com o nosso jornal. Não vamos nos
envergonhar da Cruz e de nos apresentar como cristãos, mesmo com os nossos
infinitos limites.
ZENIT: Quem
são os redatores do jornal?
Adinolfi:
Uma pequena equipe jovem que está na redação na Piazza del Gesù, em Roma, junto
comigo e com um jovem de 30 anos de grande talento, que conduz o jornal junto
comigo: Giovanni Marcotullio. É um jornal que nasce de baixo, com canetas que
vêm das redes sociais, além de um grupo de colaboradores do mais alto nível: Costanza
Miriano, Franco Nembrini, Roberta Vinerba, Francesca Chaoqui, Giuliano Guzzo,
Marco Scicchitano, Andrea Vannicelli, Fabio Bartoli, Filippo Savarese, para
citar apenas os mais conhecidos na Itália. Temos também uma coluna de conversas
com o pe. Maurizio Botta, um dos jovens sacerdotes mais amados e seguidos da
Itália. Em suma, somos um grupo que vai surpreender.
ZENIT: Além
de discussões sobre a família e a vida, “La Croce” vai lidar também com outros
temas atuais, como política, economia, etc.?
Adinolfi:
“La Croce” vai relatar todos os dias a realidade, toda a realidade. Os fatos da
política e da economia, da cultura e dos meios de comunicação, até mesmo do
esporte. Nosso objetivo é ser o que chamamos de "primeiro jornal":
quem o comprar não vai precisar comprar outros jornais, porque não vamos ser
apenas uma folha de opinião, mas também, e acima de tudo, de informação para os
nossos leitores.
ZENIT: Você
já foi parlamentar. Começou a se ocupar das chamadas "questões
éticas" só depois dessa experiência?
Adinolfi:
Toda a minha atividade política se entrelaça com as questões que eu não gosto
definir como éticas, porque eu não tenho sermões moralistas a fazer para
ninguém. Para mim são temas essenciais desde 1985, quando eu era bem jovem e
liderava os estudantes democratas cristãos do ensino médio que imprimiam
folhetos do "não ao aborto". Em tempos mais recentes, fui julgado
duas vezes pelo Partido Democrático, que eu ajudei a fundar e do qual era
parlamentar, por ter sido caluniado de "homofóbico". E fui absolvido
nas duas vezes. Em 2007, fui candidato ao secretariado nacional do partido e
houve muita polêmica em torno ao meu explícito “não” ao casamento gay, além da
minha disponibilidade expressa para fazer um referendo interno com os membros
do partido sobre este assunto. Algumas pessoas me acusam de me ocupar demais
com estas questões nos meus 30 anos de atividade política. Agora que eu me
livrei dos compromissos institucionais e não tenho nenhuma ligação com
partidos, decidi dedicar todas as minhas energias ao desenvolvimento de ideias
que enfrentem os mitos de progresso da antropologia que querem transformar as
pessoas em coisas.
ZENIT: E
onde foi parar a esquerda, defensora dos oprimidos, diante de uma realidade em
que se quer transformar as pessoas em coisas?
Adinolfi:
Não desapareceram os defensores dos mais fracos, nem mesmo na esquerda. Eles só
ficaram intimidados. É preciso devolver a eles a coragem. É uma questão que não
diz respeito só à esquerda italiana, mas a todo o mundo católico italiano.
ZENIT: Você
mencionou a “turnê” de lançamento do “La Croce”. Qual foi o feedback das
pessoas, inclusive das que se definem como de esquerda?
Adinolfi:
Há um afeto popular impressionante, que vem também da esquerda, de muitos
militantes do Partido Democrata. E mesmo aqueles que me criticam fortemente
reconhecem a minha coragem de dar um testemunho aberto de ideias. Também há um
pequeno segmento, infelizmente forte, inclusive nos meios de comunicação, que
gostaria de me impedir de falar. Eles têm a atitude dos fundamentalistas:
gostariam de proibir de modo absoluto as ideias que eu represento. Com este
massacre em Paris, eu espero que eles tenham refletido um pouco.
ZENIT:
Depois deste massacre, aliás, falou-se muito em liberdade de expressão. A
página do Facebook do seu livro “Voglio la mamma” sofreu constante censura.
Você não acha que, mesmo num contexto supostamente "democrático", a
liberdade de expressão é uma quimera?
Adinolfi: A
liberdade de expressão deve ser conquistada todos os dias. Por exemplo, o
projeto de lei Scalfarotto queria limitá-la aqui na Itália, mas, felizmente, a
grande mobilização popular, junto com muitas associações, conseguiu impedir a
aprovação. Mas temos que lutar pela liberdade todos os dias. Por isso, a partir
de amanhã, o “La Croce” estará nas bancas todos os dias para lembrar disso, em
primeiro lugar, a nós mesmos.
ZENIT: Teve
grande destaque polêmico na mídia o patrocínio da Região da Lombardia para a
conferência da qual você vai participar em Milão no dia 17 de janeiro, com
Costanza Miriano, o pe. Maurizio Botta e Marco Scicchitano. Este clima na
Itália preocupa você?
Adinolfi:
O que me preocupa é que inventem notícias, usem grandes jornais como “La
Repubblica” para dizer coisas completamente falsas e fazer manipulação política
e ideológica. A conferência sobre a família foi descrita por eles como um
"fórum contra os gays" que abordaria a cura da homossexualidade. Tudo
isso é completamente e simplesmente infundado. Também para enfrentar esse
envenenamento constante e diário é que o “La Croce” vai estar nas bancas a
partir de amanhã. Para tentar impedir a transformação do falso em verdadeiro.
Ou, pelo menos, para ser uma voz dissonante no meio do coro. Apoiem, se
puderem.
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ZENIT
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