CARTA
DO SANTO PADRE A MONS. FISICHELLA,
ESCLARECENDO
A INDULGÊNCIA, A ABSOLVIÇÃO DE PECADOS GRAVES
E A POSSIBILIDADE DOS MEMBROS DA COMUNIDADE
SÃO PIO X
DE
CONFESSAR-SE VÁLIDA E LICITAMENTE
Ao Venerado Irmão
D. Rino Fisichella
Presidente do Pontifício Conselho
para a Promoção da Nova Evangelização
A proximidade do Jubileu Extraordinário da
Misericórdia permite-me focar alguns pontos sobre os quais considero
importante intervir para consentir que a celebração do Ano Santo seja para
todos os crentes um verdadeiro momento de encontro com a misericórdia de Deus.
Com efeito, desejo que o Jubileu seja uma experiência viva da proximidade
do Pai, como se quiséssemos sentir pessoalmente a sua ternura, para que a fé de
cada crente se revigore e assim o testemunho se torne cada vez mais eficaz.
O meu pensamento dirige-se, em primeiro lugar, a
todos os fiéis que em cada Diocese, ou como peregrinos em Roma, viverem a graça
do Jubileu. Espero que a indulgência jubilar chegue a cada um como uma
experiência genuína da misericórdia de Deus, a qual vai ao encontro de todos
com o rosto do Pai que acolhe e perdoa, esquecendo completamente o pecado
cometido. Para viver e obter a indulgência os fiéis são chamados a realizar uma
breve peregrinação rumo à Porta Santa, aberta em cada Catedral ou nas igrejas
estabelecidas pelo Bispo diocesano, e nas quatro Basílicas Papais em Roma, como
sinal do profundo desejo de verdadeira conversão. Estabeleço igualmente que se
possa obter a indulgência nos Santuários onde se abrir a Porta da Misericórdia
e nas igrejas que tradicionalmente são identificadas como Jubilares. É
importante que este momento esteja unido, em primeiro lugar, ao Sacramento da
Reconciliação e à celebração da santa Eucaristia com uma reflexão sobre a
misericórdia. Será necessário acompanhar estas celebrações com a profissão de
fé e com a oração por mim e pelas intenções que trago no coração para o bem da
Igreja e do mundo inteiro.
Penso também em quantos, por diversos motivos,
estiverem impossibilitados de ir até à Porta Santa, sobretudo os doentes e as
pessoas idosas e sós, que muitas vezes se encontram em condições de não poder
sair de casa. Para eles será de grande ajuda viver a enfermidade e o sofrimento
como experiência de proximidade ao Senhor que no mistério da sua paixão, morte
e ressurreição indica a via mestra para dar sentido à dor e à solidão. Viver
com fé e esperança jubilosa este momento de provação, recebendo a comunhão ou
participando na santa Missa e na oração comunitária, inclusive através dos
vários meios de comunicação, será para eles o modo de obter a indulgência
jubilar. O meu pensamento dirige-se também aos encarcerados, que experimentam a
limitação da sua liberdade. O Jubileu constituiu sempre a oportunidade de uma
grande amnistia, destinada a envolver muitas pessoas que, mesmo merecedoras de
punição, todavia tomaram consciência da injustiça perpetrada e desejam
sinceramente inserir-se de novo na sociedade, oferecendo o seu contributo
honesto. A todos eles chegue concretamente a misericórdia do Pai que quer estar
próximo de quem mais necessita do seu perdão. Nas capelas dos cárceres poderão
obter a indulgência, e todas as vezes que passarem pela porta da sua cela,
dirigindo o pensamento e a oração ao Pai, que este gesto signifique para eles a
passagem pela Porta Santa, porque a misericórdia de Deus, capaz de mudar os
corações, consegue também transformar as grades em experiência de liberdade.
Eu pedi que a Igreja redescubra neste tempo jubilar
a riqueza contida nas obras de misericórdia corporais e espirituais. De facto,
a experiência da misericórdia torna-se visível no testemunho de sinais
concretos como o próprio Jesus nos ensinou. Todas as vezes que um fiel viver
uma ou mais destas obras pessoalmente obterá sem dúvida a indulgência jubilar.
Daqui o compromisso a viver de misericórdia para alcançar a graça do perdão
completo e exaustivo pela força do amor do Pai que não exclui ninguém.
Portanto, tratar-se-á de uma indulgência jubilar plena, fruto do próprio evento
que é celebrado e vivido com fé, esperança e caridade.
Enfim, a indulgência jubilar pode ser obtida também
para quantos faleceram. A eles estamos unidos pelo testemunho de fé e caridade
que nos deixaram. Assim como os recordamos na celebração eucarística, também
podemos, no grande mistério da comunhão dos Santos, rezar por eles, para que o
rosto misericordioso do Pai os liberte de qualquer resíduo de culpa e possa
abraçá-los na beatitude sem fim.
Um dos graves problemas do nosso tempo é certamente
a alterada relação com a vida. Uma mentalidade muito difundida já fez perder a
necessária sensibilidade pessoal e social pelo acolhimento de uma nova vida. O
drama do aborto é vivido por alguns com uma consciência superficial, quase sem
se dar conta do gravíssimo mal que um gesto semelhante comporta. Muitos
outros, ao contrário, mesmo vivendo este momento como uma derrota, julgam que
não têm outro caminho a percorrer. Penso, de maneira particular, em todas as
mulheres que recorreram ao aborto. Conheço bem os condicionamentos que as
levaram a tomar esta decisão. Sei que é um drama existencial e moral. Encontrei
muitas mulheres que traziam no seu coração a cicatriz causada por esta escolha
sofrida e dolorosa. O que aconteceu é profundamente injusto; contudo, só a sua
verdadeira compreensão pode impedir que se perca a esperança. O perdão de Deus
não pode ser negado a quem quer que esteja arrependido, sobretudo quando com
coração sincero se aproxima do Sacramento da Confissão para obter a
reconciliação com o Pai. Também por este motivo, não obstante qualquer
disposição em contrário, decidi conceder a todos os sacerdotes para o Ano
Jubilar a faculdade de absolver do pecado de aborto quantos o cometeram e,
arrependidos de coração, pedirem que lhes seja perdoado. Os sacerdotes se
preparem para esta grande tarefa sabendo conjugar palavras de acolhimento
genuíno com uma reflexão que ajude a compreender o pecado cometido, e indicar
um percurso de conversão autêntica para conseguir entender o verdadeiro e
generoso perdão do Pai, que tudo renova com a sua presença.
Uma última consideração é dirigida aos fiéis que
por diversos motivos sentem o desejo de frequentar as igrejas oficiadas pelos
sacerdotes da Fraternidade São Pio X. Este Ano Jubilar da Misericórdia não
exclui ninguém. De diversas partes, alguns irmãos Bispos referiram-me acerca da
sua boa fé e prática sacramental, porém unida à dificuldade de viver uma
condição pastoralmente árdua. Confio que no futuro próximo se possam encontrar
soluções para recuperar a plena comunhão com os sacerdotes e os superiores da
Fraternidade. Entretanto, movido pela exigência de corresponder ao bem destes
fiéis, estabeleço por minha própria vontade que quantos, durante o Ano Santo da
Misericórdia, se aproximarem para celebrar o Sacramento da Reconciliação junto
dos sacerdotes da Fraternidade São Pio X, recebam validamente e licitamente a
absolvição dos seus pecados.
Confiando na intercessão da Mãe da Misericórdia,
recomendo à sua protecção a preparação deste Jubileu Extraordinário.
Vaticano, 1 de Setembro de 2015
Franciscus
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ZENIT
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