Como soa bem, no
meio dos conflitos que ferem a humanidade em tantas partes do mundo, o convite
de Jesus à paz. É algo que mantém viva a esperança, pois sabemos que Ele mesmo
é a paz e prometeu que nos daria a sua paz.
O Evangelho de
Marcos traz essa frase de Jesus no final de uma série de máximas dirigidas aos
discípulos, reunidos na casa em Cafarnaum, com as quais Ele explica como
deveria viver a sua comunidade. A conclusão é clara: tudo deve conduzir à paz,
na qual se encerra todo bem.
Uma paz que
somos chamados a experimentar na vida de cada dia: na família, no trabalho, com
aqueles que pensam de modo diferente na política. Uma paz que não tem medo de
confrontar-se com opiniões discordantes, sobre as quais precisamos falar
abertamente, se quisermos uma unidade cada vez mais verdadeira e profunda. Uma
paz que, ao mesmo tempo, exige a nossa atenção para que o relacionamento de
amor nunca desapareça, porque a pessoa do outro vale mais do que as
diversidades que possam existir entre nós.
“Onde quer que
chegue a unidade e o amor mútuo”, afirmava Chiara Lubich,
“chega a paz, ou melhor, a paz verdadeira. Porque onde existe o amor mútuo,
existe uma certa presença de Jesus no nosso meio, e Ele é justamente a paz, a
paz por excelência”1.
O seu ideal de
unidade tinha surgido durante a Segunda Guerra Mundial e imediatamente
revelou-se como antídoto a ódios e dilacerações. Desde então, diante de cada
novo conflito, Chiara sempre propôs com persistência a lógica evangélica do
amor. Por exemplo, quando explodiu a guerra no Iraque em 1990, ela manifestou a
amarga surpresa de ouvir “palavras que pareciam estar sepultadas, como: ‘o
inimigo’, ‘os inimigos’, ‘começam as hostilidades’, e depois os boletins de
guerra, os prisioneiros, as derrotas (…). Percebemos, com perplexidade, que
fora ferido gravemente o princípio fundamental do cristianismo, o ‘mandamento’
por excelência de Jesus, o mandamento ‘novo’. (…) Ao invés de se amarem, ao
invés de estarem prontos a morrer um pelo outro”, aí está a humanidade
novamente “no abismo do ódio”: desprezo, torturas, assassinatos2. Como sair disso?, perguntava-se ela. “Deveríamos tecer,
onde for possível, relacionamentos novos, ou aprofundar os que já existem entre
nós cristãos e os fiéis das religiões monoteístas: os muçulmanos e os judeus”3, ou seja, entre aqueles que naquela ocasião estavam em
conflito.
A mesma coisa
vale diante de todo tipo de conflito: tecer entre pessoas e povos
relacionamentos de escuta, de ajuda mútua, de amor, diria Chiara ainda, até
“estar prontos a morrer um pelo outro”. É preciso conter as próprias razões
para entender as do outro, mesmo sabendo que nem sempre chegaremos a
compreendê-lo até o fundo. Também o outro provavelmente faz o mesmo em relação
a mim e às vezes, quem sabe, também ele não entende a mim e os meus motivos. No
entanto, queremos ficar abertos ao outro, mesmo na diversidade e na
incompreensão, salvando acima de tudo o relacionamento com ele.
O Evangelho
coloca isso de modo imperativo: “Vivei em paz”. Sinal de que
nos pede um empenho sério e exigente. É uma das mais essenciais expressões do
amor e da misericórdia que somos chamados a ter uns para com os outros.
Fabio Ciardi
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1-Na TV da
Baviera, 16 de setembro de 1988.
2-28 de
fevereiro de 1991, cf. Santos juntos, São Paulo : Cidade Nova 1995,
pp. 63-64.
3-Ibid., p.
67.
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Movimento dos Focolares Brasil
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