COMUNICADO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA SOBRE A
CELEBRAÇÃO DE UM ANO DOS MORTOS PELA LAMA DA BARRAGEM DE FUNDÃO
A
Arquidiocese de Mariana comunica que celebrará, no sábado, 5 de novembro, uma
missa em memória dos mortos pela maior tragédia socioambiental provocada pelo
rompimento da barragem de Fundão, de propriedade da Samarco mineradora,
ocorrido há um ano.
A missa
será às 19h, na igreja Sagrado Coração de Jesus, no bairro Colina, e terá a
presidência do arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha. A celebração,
para a qual todos estão convidados, é preparada pelos moradores das comunidades
de Bento Rodrigues e Paracatu, juntamente com a paróquia Sagrado Coração de
Jesus.
Nesse
mesmo dia, todas as paróquias dos 79 municípios que compõem a Arquidiocese, em
sintonia com as dioceses dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, estão
orientadas a repicar os sinos, ao meio dia, conforme solicitação do presidente
do Regional Leste 2 da CNBB, Dom Paulo Mendes Peixoto. Esse gesto quer lembrar
a tragédia, fazer memória dos mortos e manifestar solidariedade aos que lutam
na defesa de seus direitos.
Nossa
Senhora da Assunção e São José, padroeiros da Arquidiocese de Mariana, assistam
a todos no compromisso de promoção e defesa da vida, da justiça e da paz.
Mariana, 3 de novembro de 2016
Departamento Arquidiocesano de Comunicação - Dacom
No dia 03 de novembro de 2016, por ocasião da abertura do
Encontro dos Atingidos na bacia do Rio Doce pelo rompimento da barragem de
Fundão, Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Mariana, dirigiu a seguinte
mensagem:
MENSAGEM DE DOM GERALDO POR OCASIÃO DO
ENCONTRO DOS ATINGIDOS PELO ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE FUNDÃO
Com a
participação de aliados e parceiros, este Encontro dos Atingidos pelo
rompimento da barragem de Fundão, no distrito de Bento Rodrigues, município de
Mariana, que espalhou a lama assassina por toda a Bacia do Rio Doce, causando o
maior desastre socioambiental já ocorrido no Brasil e um dos maiores do mundo,
é uma demonstração de que SÓ A LUTA VENCE A LAMA.
Os que
participaram da marcha ao longo do Rio Doce, desde sua foz em Regência, no
município de Linhares, no Estado do Espírito Santo, até chegar a Mariana,
epicentro da grande tragédia, puderam verificar com seus próprios olhos o
triste saldo da devastação que conta com a perda irreparável de 19 vidas
humanas e incontáveis vidas de animais e vegetais. A lama soterrou casas e propriedades
rurais, destruiu patrimônio histórico e artístico, atingiu populações
ribeirinhas, causou dano aos povos indígenas, tirou o ganha-pão de muita gente,
prejudicou o abastecimento de água de muitas localidades, poluiu praias
capixabas e chegou até o Oceano Atlântico, em região de reprodução de espécies
da fauna e da flora marítimas, enfim, provocou um desastre de proporções
incalculáveis e causou prejuízos irreparáveis.
Diante
desse quadro de desolação, é extremamente encorajador experimentar a solidariedade
de todas as pessoas que aqui vieram de outras localidades deste Estado de Minas
Gerais, do Estado do Espírito Santo, de tantas partes do Brasil e de outros
países, bem como representantes de povos indígenas que aqui se unem para fazer
memória de UM ANO DE LAMA E LUTA. A solidariedade que aqui se expressa nos
encoraja a prosseguir na luta para salvar a Bacia do Rio Doce, cujo processo de
degradação se agravou ainda mais com a chegada da lama de dejetos minerais da
barragem de Fundão. “Solidariedade é pensar e agir em termos de comunidade, de
prioridades da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns.
É também lutar contra as causas estruturais da pobreza; a desigualdade; a falta
de trabalho, de terra e de teto; a negação dos direitos sociais e laborais
[...]. A solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo, é uma forma de
fazer história e é isto que os movimentos populares fazem”, disse o Papa
Francisco em seu discurso aos participantes do Encontro Mundial dos Movimentos
Populares, em Roma, no dia 28 de outubro de 2014.
É
sempre bom relembrar que não estamos diante de uma catástrofe produzida pela
natureza. O rompimento da barragem de Fundão tem responsáveis por ela. As
empresas envolvidas e o Poder público estadual e federal têm responsabilidades
que não podem ser escamoteadas. Essa tragédia aconteceu por causa da
deficiência de um marco regulatório que não contempla de forma adequada a
problemática da mineração, pelas falhas na legislação e pela ausência absoluta
de fiscalização por parte dos órgãos do Estado. “Isto acontece porque no centro
deste sistema econômico está o deus dinheiro e não a pessoa humana [...].
Quando a pessoa é deslocada e chega o deus dinheiro dá-se esta inversão de
valores”, disse o Papa naquele encontro em Roma. E ele acrescenta: “Um sistema
econômico centrado no deus dinheiro tem também necessidade de saquear a
natureza; saquear a natureza para manter o ritmo frenético de consumo que lhe é
próprio. A mudança climática, a perda da biodiversidade, o desmatamento já
estão mostrando seus efeitos devastadores nas grandes catástrofes que
assistimos [...]. Irmãos e irmãs: a criação não é uma propriedade da qual
podemos dispor a nosso bel-prazer; e muito menos é uma propriedade só de
alguns, de poucos. A criação é um dom, uma dádiva maravilhosa de Deus para que
dela nos ocupemos e a utilizemos em benefício de todos, sempre com respeito e
gratidão”.
É
importante recordar o que disse o Papa Francisco no discurso em Santa Cruz dela
Sierra, na Bolívia, no dia 9 de julho de 2015. Ele não fica em considerações
genéricas e abstratas, mas aponta caminhos: “A primeira tarefa é pôr a economia
a serviço dos povos. Os seres humanos e a natureza não devem estar a serviço do
dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o
dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta
economia destrói a Mãe Terra. A economia não deveria ser um mecanismo de
acumulação, mas a condigna administração da casa comum. Isto implica cuidar com
zelo da casa e distribuir adequadamente os bens entre todos.
A
segunda tarefa é unir os nossos povos no caminho da paz e da justiça. Os povos
do mundo querem ser artífices do seu próprio destino. Querem caminhar em paz
para a justiça. Não querem tutelas nem interferências, onde o mais forte
subordina o mais fraco”.
A
terceira tarefa, e talvez a mais importante que devemos assumir hoje, é
defender a Mãe Terra. A casa comum de todos nós está sendo saqueada, devastada,
vexada impunemente [...]. Os povos e os seus movimentos são chamados a clamar,
mobilizar-se, exigir – pacífica, mas tenazmente – a adoção urgente de medidas
apropriadas. Peço-lhes, em nome de Deus, que defendam a Mãe Terra” disse o Papa
Francisco.
Também
eu, unido ao Papa Francisco, lhes dirijo este pedido: Unamo-nos no apoio aos
atingidos pela tragédia do rompimento da barragem de Fundão para que tenham
seus direitos respeitados, sua dignidade reconhecida, seus bens ressarcidos e
seu protagonismo considerado na busca de soluções que atendam a seus legítimos
interesses. Unamo-nos para salvar a Bacia do Rio Doce. Unamo-nos para que
continuemos na luta e não desanimemos diante da lama, dos obstáculos e da
prepotência. Em fim, permaneçamos unidos na LUTA QUE VENCE A LAMA.
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Arquidiocese de Mariana
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