“Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até
vós em pele de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes”, nos advertiu Jesus
(Mt 7, 15). Profeta é aquele que fala em nome de Deus. Deus é a verdade. E toda
verdade vem de Deus. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo14,6). “Eu vim
ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo o que é da verdade, escuta a
minha voz”, disse Jesus a Pilatos (Jo 18, 37).
Sendo Deus a verdade, quem fala em seu nome
deve falar só a verdade. Se fala mentira, é um falso profeta. O pai da mentira
é o diabo (cf. Jo 8,44).
A mentira atualmente recebeu um nome
jornalístico moderno, um anglicismo: “fakenews”, isto é, notícia falsa. Há
mesmo uma CPI das “fakenews”, procurando quem divulga essas falsidades.
A nossa inteligência, pela sua natureza, é
dirigida para a verdade e só para a verdade; daí que ela só pode ser atraída
pela mentira, se essa tiver algo ou aparência de verdade. Caso contrário não
atrairia a inteligência. Por isso, a pior mentira é a que se parece com a
verdade, ou que tem um pouco de verdade. E tanto pior quanto mais se parece com
ela. Daí que a advertência de Jesus para termos cuidado com os falsos profetas,
que, sendo lobos, vêm vestidos de pele de ovelhas, se refere às mentiras que
têm aparência de verdade.
Conta-se uma anedota do fulano, que foi preso
por fabricar notas falsas, e reclamava com o amigo que o fora visitar na
cadeia: “Eu não sei o que houve: fabriquei notas de um real e saiu bem, de dez
reais e saiu bem, fabriquei nota de 3 reais e fui preso!” É claro, pois não
existe nota de 3 reais. A falsidade só engana quando tem aparência de
verdade!!!
E costuma-se dizer que uma mentira é má pela
sua falsidade, mas é perigosa pela sua aparência com a verdade. Uma cadeira
comum, a que falta uma perna, é má pela perna que falta, mas é perigosa pelas
três que tem. Engana e faz cair quem nela for se sentar. Toda caricatura tem
algo do caricaturado. Mas também pode ser uma “fakenews”, pois deturpa a
pessoa, ressaltando um defeito da pessoa ou tornando-o maior do que realmente
é, falseando assim a verdade. A repetição da mentira é também “fakenews”; é a
arma da “propaganda”, já preconizada por Goebbels: “uma mentira dita cem vezes
torna-se verdade”.
Assim, os diversos tipos de “fakenews” têm
especiais estratégias. É “fakenews”, por exemplo, dar só uma parte da notícia.
É “fakenews” dar uma notícia na manchete e dizer coisa diferente no corpo da
notícia. É “fakenews” manipular o número de pessoas, mostrando só uma parte da
foto. É “fakenews” dar ênfase a um pronunciamento ou a uma sua parte, ênfase
que na realidade não tem. É “fakenews” caricaturar alguém ou uma notícia,
ressaltando maliciosamente aquilo que se pretende criticar. É “fakenews” dar só
uma versão ou uma parte da notícia. Fatos são fatos, mas a versão dos fatos
pode ser enganosa. É “fakenews” manipular ideologicamente os fatos ou parte
deles, para influenciar as pessoas.
Dom Fernando Arêas Rifan,
bispo administrador apostólico da Administração Apostólica Pessoal São
João Maria Vianney.
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