Já falamos por aqui uma das estratégias mais
abjetas e, ao mesmo tempo, mais eficazes – justamente porque tem suas origens
na astúcia do próprio Satanás – que é utilizada para fazer com que uma agenda
específica avance. Outros exemplos poderiam ser dados, certamente, observando o
mesmo modus operandi em outras áreas e ações. A televisão é a campeã número 1
em fazer esse tipo de joguete: trata-se de manipular as pessoas através de suas
emoções, fazendo com que adiram a determinadas manifestações e causas por
sentimentalismo.
Precisamos dizer, por mais óbvio que seja, que
certo “sentimentalismo” não é ruim em essência. É necessário que nos indignemos
com os males do mundo, é necessário que soframos em consonância com Cristo as
dores pelas quais o mundo também passa. Isso é, para usar uma palavra da moda,
o que popularmente se chama de empatia, que para o Catolicismo ganhará o nome
de Caridade. Aquela mesma Caridade que São Paulo vai dizer que é o “vínculo da
perfeição” na carta aos Colossenses (3,14) e que dirá ainda em Coríntios
(13,13) ser suprema a todas as outras maiores virtudes, permanecendo mesmo após
a nossa morte.
Esse tipo de “sentimentalismo” – que, na
verdade, é a Caridade, o sofrer por amor as dores de outrem – nunca deixará de
ser, inclusive, uma via segura de salvação dos homens, a lei suprema deixada
por Nosso Senhor ao dizer que devemos amar incondicionalmente (Jo 13,34). É
característica própria dos cristãos, uma maneira imediata de reconhecê-los, como
nos mostra o mesmo Cristo (Jo 13,35).
Acontece, entretanto, que os filhos das
trevas, os cães de Satanás, não descansam um único segundo de seus intentos
malignos e, por malícia e astúcia, sabem se valer das coisas criadas por Deus
para perverter os homens. Foi o que aconteceu ontem com o caso da menina de dez
anos, estuprada pelo tio desde os seis, que foi levada a fazer o aborto de seu
bebê de cinco meses. O caso aconteceu na pequena cidade de São Mateus, no
Espírito Santo.
Aqui, não percamos de vista: estamos falando
do estupro sistemático de uma menina de dez anos cometido por um familiar. É um
crime tão abjeto, uma violência tão inimaginável, que nunca saberemos bem o
tanto de sofrimento e dor que essa menina, divulgada apenas como K., passou em sua
breve vida. Seu corpo e sua alma foram maculados e profanados de uma maneira
indelével, sabemos bem. É o tipo de coisa que brada aos céus por reparação e
justiça. Em nenhum momento minimizaremos isso e em nenhum momento deixaremos de
lutar para que, na justiça de Deus e na justiça dos homens, o estuprador seja
punido devidamente por seus atos.
Pois bem. Sabendo desse caso tão absurdo,
movimentos feministas e “pró-escolha” – uma palavra moderninha para
“abortista”, “assassino”, “infanticida” ou outras similares – organizaram-se
para induzir a criança a cometer o aborto do bebê que crescia em seu ventre.
Aproveitaram-se da fragilidade da menina e do caos da situação para transformar
o cenário em uma bandeira ideológica muito bem orquestrada, articulada e mascarada.
Vamos a uma breve cronologia:
– Procuraram a criança sorrateiramente e
incutiram nela que “o que crescia” em sua barriga precisava ser retirado porque
era a continuação dos estupros.
– Com a avó da criança, convenceram-na de que
o aborto era a melhor solução para que a violência não fosse mais lembrada.
Afinal, o bebê vivo seria a recordação perene dos estupros e do estuprador.
– Foram à justiça pedir pela “interrupção da
gravidez” (um eufemismo mesquinho e demoníaco para aborto) alegando que era o
que a menina queria.
– Internaram a criança para o procedimento do
aborto no Espírito Santo, alegando que era uma questão de saúde e que a menina
de dez anos poderia sofrer, dentre outras coisas, de diabetes gestacional.
Alegavam ainda que corria severo risco de morte porque poderia desenvolver
diabetes gestacional.
– Na opinião pública, igualmente serva de
Satanás, começaram uma campanha de mobilização para o caso, acompanhando cada
passo da história.
Até aqui, já é possível perceber claramente a
estratégia implantada. Basta seguir o fio do novelo:
– Que criança de dez anos tem consciência para
compreender o que é um aborto, quais as suas consequências, qual o procedimento
a ser realizado e o que mais está envolvido em todo o processo? Mais do que
isso, que criança de dez anos ESTUPRADA durante quatro anos pode responder a
isso?
– Que avó, ao saber que seu filho estuprou a
própria sobrinha durante anos e que agora ela engravidou, não ficaria
transtornada com a notícia? Nesse quadro, qual o grau de consciência e
raciocínio em que ela está para decidir algo tão grave?
– Que juiz – compreendendo ainda a atual
formação marxista de nossas universidades – não ficaria “comovido” com o caso e
não aceitaria os pedidos dos advogados pelo aborto? Afinal, o juiz seria o
único nesse caso que poderia dar “um fim” a toda a dor.
– E, por fim, o mais importante: que homem ou
mulher poderia ter conhecimento de todo o caso e não ficar indignado com tudo o
que aconteceu? Não sofrer junto com essa menina, por “empatia”? Seria
necessário ser algum psicopata para não se compadecer da menina.
É aí que começa o “jogo”. Apoiados naquele
sentimentalismo que dissemos antes, manipulando os sentimentos das pessoas e
sua justa indignação com o caso, os abortistas começam uma campanha sistemática
para convencer a todos de que o aborto é o único modo de reparar o mal
praticado. Foram da menina à avó, da avó aos juízes, dos juízes aos médicos.
Foram, como passo mais ousado, atrás da população. Escolheram as palavras,
criaram o cenário, cuidaram dos detalhes e montaram a narrativa: o aborto era a
única forma de fazer justiça para a pobre menina.
Repetimos: a narrativa foi muito bem
planejada, orquestrada e executada. Não se anteciparam, não meteram os pés
pelas mãos, não se precipitaram. Souberam dar os passos nos momentos corretos
de acordo com sua estratégia. Como convencer os juízes se a avó e a criança não
fossem convencidas antes? Como dar respaldo aos médicos sem antes terem
conseguido autorização judicial? Conseguem compreender a sordidez do
planejamento da morte?
Qualquer argumento favorável ao aborto, por
mais aparentemente elaborado que seja, não é mais do que retórica, manipulação,
falácia ou joguete de linguagem. Nada, absolutamente nada, sob nenhuma
hipótese, poderia justificar a barbaridade do aborto. Para não alongarmos muito
o texto, comentaremos apenas um dos argumentos utilizados pelos abortistas: o
de que estavam fazendo tudo pelo bem da menina.
O bebê no ventre tinha já cinco meses. Nessa
idade, muitos outros bebês prematuros ou prematuros extremos sobrevivem, ainda
que demandem muitos cuidados e recursos – e, claro, nenhum recurso pode ser
anteposto à dignidade de uma vida. O bebê estava saudável, com peso e idade
superior à já iníqua lei que permite o aborto em determinados casos. Dizendo em
outras palavras, o bebê, em pouco tempo, nasceria de maneira habitual e
saudável. Não havia nenhum indício em contrário.
Ao passar pelo procedimento do aborto, ao
menos três pontos chamam a atenção de maneira imediata: K. passou por um
processo psicologicamente desgastante ao extremo, terá de retirar
cirurgicamente os restos de seu bebê e ainda lidar com as consequências do
aborto.
Alguém consegue imaginar o que se passa na
cabeça e no coração de uma menina de dez anos, estuprada, vulnerável,
fragilizada, que passa por meses de tentativas de movimentos abortistas para
convencê-la a realizar o aborto, que vê sua história virando notícia em todo o
mundo e que peregrina de hospital em hospital, mudando até de estado, para
realizar o procedimento de morte?
Alguém consegue imaginar o que se passa na
cabeça e no coração de uma menina de dez anos, estuprada, vulnerável,
fragilizada, que é obrigada a injetar veneno no coração de seu bebê para
matá-lo, passar por um procedimento de indução ao parto (e por toda a dor que
um parto possui), por outros procedimentos de raspagem, curetagem, limpeza e
outros para retirar dela um bebê saudável de cinco meses?
Alguém consegue imaginar o que se passa na
cabeça e no coração de uma menina de dez anos, estuprada, vulnerável,
fragilizada, e que ainda terá de conviver pelo resto da vida com os traumas de
todo o processo do aborto e do circo midiático em que foi inserida? Isso,
ainda, sem esquecer o trauma já existente dos estupros.
Ao fim, assim como manipularam os sentimentos
das pessoas para trazer a opinião pública para o lado favorável à morte,
manipularam a menina e sua dor para que ela servisse como objeto de promoção do
aborto no Brasil. Usaram a menina e sua triste história para avançar um passo a
mais na legalização do aborto, no convencimento popular de que o aborto é uma
saída e de que não é moralmente condenável realizá-lo porque ele foi feito
“pensando no melhor para a vítima”.
Do estuprador, nenhuma palavra foi dita por
esses movimentos. Da captura, julgamento e condenação do estuprador, nenhum
juiz manifestou nada. Dos valorosos médicos do Espírito Santo que inicialmente
se negaram a realizar o aborto, ficará apenas uma vaga lembrança, assim como dos
valorosos católicos que foram para a porta do hospital rezar o terço e
manifestar a justa indignação com o caso.
Ontem foi dia de perder uma batalha.
Dolorosamente, nada pudemos fazer. O que nos resta agora, e que é possível
fazermos, é apontar a estratégia utilizada pelos servos do inferno para que ela
não se repita nunca mais. E, claro, rezar: algo assim não passa desapercebido
por Deus.
Por Jefferson
Evaristo
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Centro Dom Bosco
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