Tenho acompanhado o caso da menina de dez anos
que foi violada por um parente e teve uma gravidez como resultado da violência
sexual. A absurdidade da situação causa em todos nós uma justificada comoção, a
qual pode, porém, ser usada de modo a obscurecer uma análise atenta e racional
dos fatos.
Gostaria de chamar a atenção para alguns
detalhes:
1. O movimento que visa a expansão da prática
do aborto adota como técnica retórica a sistemática invisibilização do bebê. E
a razão disso foi explicitamente declarada pela então presidente das “Catholics
for Choice”, Frances Kissling, na entrevista que concedeu a Rebecca Sharpless
em 2002, Washington DC:
“Quando você contrapõe um feto contra uma
mulher, a mulher perde. Você sabe disso. Bebês contra mulheres, os bebês
vencem”.
2. Ora, no caso concreto deste fim de semana,
todo o noticiamento silenciou cuidadosamente o fato de que o bebê estava com 23
semanas de gestação, ou seja, quase seis meses. Tratava-se de um bebê já
formado.
3. O objetivo deste silenciamento era: – fazer
o aborto acontecer às pressas, através de uma autorização judicial, para
conseguir-se um precedente; – manter a opinião pública imobilizada ou confusa,
concentrando todas as atenções sobre a violência sexual, fazendo apelo aos
sentimentos de revolta da população; – amordaçar todos os pró-vidas como
fanáticos, fundamentalistas, obscurantistas que querem apenas salvar a vida de
um bebê, a despeito da vida da mãe.
4. A força desta retórica está na
invisibilização do bebê, mas também na mentalidade utilitarista que se
conseguiu incutir na mente das pessoas, que pensam mais ou menos assim: “como
uma criança vai gestar uma criança?, e esta menina, não vai para a escola?,
quem vai cuidar do bebê?” – São questões importantes, mas cuja solução ética é
também exigente.
Em outras palavras, todos nós temos muitos
problemas que, por exemplo, se revolveriam com a eliminação de uma pessoa, mas
esta não é a solução verdadeira, pois não se pode atropelar uma vida humana.
Aqui, a afirmação de um aspecto (a vida do
bebê) não equivale à negação do outro (a vida da mãe). Trata-se de um falso
dilema. A verdadeira solução ética consistiria em salvar as duas vidas e fazer
tudo que fosse humanamente possível para tornar as duas viáveis, coisa que é
muito mais exigente e que demanda muito mais atenção.
Pe José Eduardo,
Diocese de Osasco – SP
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