Desde o momento que soube do assassinato da
bebê de mais de 5 meses, de São Mateus (ES), com uma injeção de potássio na
cavidade cardíaca da criança, em Recife (PE), cuja mãe é uma menina de dez
anos, fiquei pensando, como explicar esse crime hediondo.
Por que não foi permitido esse bebê viver? Que
erro ele cometeu? Qual foi seu crime? Por que uma condenação tão rápida, sem um
processo justo e fora da legalidade? Por que o desprezo a tantas outras
possibilidades de possíveis soluções em prol da vida? Foram muitos os
envolvidos, mas o silêncio e omissão dos órgãos institucionais que têm a
prerrogativa de defender a vida, se entregaram às manobras de quem defende a
morte de inocentes. Por quê?
É uma história que precisa ser esclarecida. É
um processo que precisa ser desvendado. Duas crianças que poderiam viver… teve
laudo técnico a favor da vida, teve suporte profissional a favor da vida, teve
hospital disposto a cuidar até o fim da gestação, tiveram todas as condições de
salvar as duas vidas, mas, de repente, uma transferência, de um Estado para o
outro, e toda uma mobilização para que o aborto fosse realizado. Nas mãos de
quem ficou a tutela dessa menina, quem decidiu tudo por ela?
Por que a obsessão de apresentar uma única
saída? Por que burlar as leis para alcançar esse objetivo de usar de uma
criança para um intento assassino?
Difícil raciocinar o que aconteceu, como
aconteceu e porque terminou assim!
Ministério Público do Espírito Santo, Conselho
Tutelar, Secretários Municipais da Saúde de Vitória e Recife e Secretários
Estaduais da Saúde do Espírito Santo e de Pernambuco têm muitas explicações a
dar à sociedade brasileira. Por que foi rejeitado um laudo técnico de
profissionais e o suporte dos mesmos, obrigando o hospital a dar alta e
subitamente transferir a menina-mãe para um hospital em outro Estado? Há
claramente um abuso de poder que merece ser investigado.
Mas, de tudo isto, ainda resta a pergunta: por
que o bebê não pôde viver? Por que foi sentenciado à morte, mesmo sendo
inocente, e tendo todas as condições para vir à vida com os devidos cuidados e
com o apoio técnico profissional à disposição? Por que optaram pela morte e não
pela vida, desrespeitando a lei, pois se tratava de um bebê de 22 semanas?
Se não somos capazes nem de defender a nossa
própria espécie, que tipo de humano estamos nos tornando? Estamos negando nossa
própria humanidade. A violência do estupro e do abuso sexual é infame e
horrenda, mas a violência do aborto provocado em um ser inocente e sem defesa é
tão terrível quanto. Ambos são crimes. Apontam como sinais da degradação moral
e da decadência dos costumes, ferindo os valores mais sublimes como o respeito
à dignidade do ser humano e a sacralidade do valor da vida!
Mesmo sendo rechaçados pelo nosso discurso
religioso em prol da vida, quero dizer que não se trata de nenhum
fundamentalismo, mas do uso da reta razão. Quando vem à mente um tema tão
básico, tão racional, tão científico, tão antigo, de uma regra de ouro que é
uma verdade basilar e aceita por qualquer sociedade civilizada: “Não matarás um
inocente”, então nos perguntamos: Por que estão matando nossas crianças? Ou
perdemos o fio da história ou nos tornamos reféns de uma razão autodestrutiva,
que se odeia e, por isso, mata o seu futuro antes dele nascer…
Hoje faço uma prece por todas as crianças que
gostariam nascer, brincar, chorar e viver, mas, foram assassinadas antes de
nascer! Esperamos explicações e respostas sobre esse caso. Chega de violência!
Não ao aborto! Escolhe, pois, a vida (Dt, 30,19).
Rio Grande (RS), 17 de agosto de 2020.
Dom
Ricardo Hoepers
Presidente
da Comissão Vida e Família da CNBB
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CNBB
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