O que
significa a estátua de Satã recém-inaugurada na cidade de Detroit, nos Estados
Unidos?
De acordo com O Globo,
a imagem de bronze, com quase 3 metros e mais de 900 quilos, "seria
inaugurada inicialmente em Oklahoma, em protesto contra uma escultura sobre
os Dez Mandamentos no Capitólio estadual". Ainda segundo a reportagem,
"o Satanic Temple defende a separação entre Estado e
religião".
Não que
se esperasse uma palavra de condenação da mídia à estátua de Bafomet – uma
represália assim poderia "ofender" os adoradores de Satanás –, mas,
não fosse trágico, seria cômico o modo como eles colocam as coisas: a imagem de
Bafomet, na crônica do dia, não passaria de uma defesa da "separação entre
Estado e religião", um "protesto" contra uma escultura dos Dez
Mandamentos em lugar público. Quem lê a reportagem é tentado a achar que o
grande problema não é nem a estátua de Satã, mas sim aquele monumento
judaico-cristão no Capitólio de Oklahoma. O valor supremo da modernidade,
agora, é o "Estado laico" e, para defendê-lo, até cultuar o demônio
está valendo.
Pena que
não faltarão pessoas confirmando a frase em negrito. Para alguns, realmente, o
Decálogo no Capitólio – e, com ele, os crucifixos nos tribunais, o sinal da
cruz nos estádios de futebol, a palavra "Jesus" na cabeça do Neymar – são realmente piores que uma imagem satânica, contanto
que ela esteja em um ambiente privado.
Quando as
coisas atingem esse ponto, é preciso fazer uma pausa e reajustar a bússola da
humanidade – ou, pelo menos, tentar entender desde quando a verdade foi tão
negligenciada assim, a ponto de a entidade perversa por excelência ser cultuada
no lugar do próprio Deus.
A
resposta está em um longo e tortuoso caminho de desprezo por Jesus Cristo e
pela religião que Ele fundou – a Igreja Católica. Sobre esse assunto específico,
há um famoso discurso do Papa Pio XII a respeito do qual já escrevemos
várias postagens aqui. Quanto à rejeição do reinado de Deus pelas
próprias sociedades civis, cabe dizer algumas breves palavras, principalmente a
partir de uma lição valiosíssima, dada pelo Papa Leão XIII em sua encíclica Immortale
Dei. Ele escreve:
"Se
a natureza e a razão impõem a cada um a obrigação de honrar a Deus com um culto
santo e sagrado, (...) unidos pelos laços de uma sociedade comum, os homens
não dependem menos de Deus do que tomados isoladamente; tanto, pelo menos,
quanto o indivíduo, deve a sociedade dar graças a Deus, de quem recebe a
existência, a conservação e a multidão incontável dos seus bens. É por isso
que, do mesmo modo que a ninguém é lícito descurar seus deveres para com
Deus, (...) assim também as sociedades não podem sem crime comportar-se como se
Deus absolutamente não existisse." [1]
A
convicção de que os Estados civis não devem ser
indiferentes à autoridade divina parte de uma visão antropológica
perfeitamente racional: o homem é um ser essencialmente religioso e,
assim como não se pode mutilar o ser humano, ignorando essa dimensão intrínseca
de seu ser, não é possível construir uma sociedade prescindindo de Deus. Se Ele
realmente "pode ser conhecido pela luz natural da razão humana", como
assegura o Concílio Vaticano I [2], negar-Lhe a obediência e o devido lugar na
vida social é, não só uma afronta ao direito divino, como também um atentado à
própria inteligência.
O fato é
que, ao decretar a morte de Deus com sua indiferença, o Estado terminou
matando o próprio homem: é o que se vê nas legislações de todo o mundo,
marcadas pelo aborto, pela eutanásia, pela manipulação indiscriminada da vida
humana, pela destruição das famílias et caterva. É cada vez mais forte
no mundo o sistema do pecado institucionalizado e, de aplaudir o pecado para
cultuar o seu autor, de fato, não são precisos grandes esforços.
Por isso,
diz o Papa Francisco, "quando não se confessa Jesus Cristo, confessa-se
o mundanismo do diabo, o mundanismo do demônio" [3]. O ser humano não
consegue viver sem Deus: se não adora o verdadeiro, ele mesmo ajusta para si
outros deuses. Nessa busca por uma nova religião, poucas frases soam tão
agradáveis como a máxima "Faz o que quiseres", a qual parece ser o
principal "mandamento" do satanismo – e também o grande imperativo da
modernidade ateia, liberal e avessa a Nosso Senhor.
Eis os
frutos de uma civilização que colocou a sua liberdade acima da própria verdade
das coisas. Todavia – advertiu certa vez São João Paulo II –, "a
liberdade não se realiza nas opções contra Deus". "Na verdade –
perguntava o Papa –, como poderia ser considerado um uso autêntico da
liberdade, a recusa de se abrir àquilo que permite a realização de si
mesmo?" [4]. Nessa perspectiva, é preciso dizer que o satanismo não é só
um tremendo escárnio à fé cristã e uma grande blasfêmia, mas representa, no fim
das contas, a demolição do próprio ser humano. Da aparente liberdade que os
filhos das trevas têm nesta vida segue-se uma eternidade de escravidão no
inferno.
No
Capitólio ou não, só os Mandamentos da Lei de Deus podem verdadeiramente
alegrar e libertar o ser humano.
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Referências:
- Papa Leão XIII, Carta Encíclica Immortale Dei
(1º de novembro de 1885), n. 11.
- Concílio Vaticano I,
Constituição Dogmática Dei Filius, 2: DS 3004.
- Homilia durante Santa Missa
com os Cardeais (14 de março de 2013).
- Papa João Paulo II, Carta Encíclica Fides et Ratio
(14 de setembro de 1998), n. 13.
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Equipe Christo Nihil Praeponere
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