O que é o
sagrado dentro do contexto pós-moderno que vivemos? Qual o espaço que ele ocupa
dentro do profano da vida? Estas distinções são traiçoeiras e muitas vezes,
corre-se o risco de pecar por serem rasas.
O sagrado
é Deus em si; pois Ele é o criador. De Deus viemos e para Ele retornaremos.
Isto é, tudo lhe pertence. “Cristo ontem e hoje... Princípio e fim ...
Alfa e ômega... A Ele o tempo e a eternidade...A glória e o poder... Pelos
séculos sem fim. Amém”. Nós, seres humanos, somos criaturas. Reconhecer esta
condição é propiciar que sejamos capazes de crescer e estabelecer com Deus um
relacionamento marcado pela intimidade.
Recorda-nos
São Paulo, “não somos filhos de uma escrava, mas filhos de uma mulher livre.
Cristo nos libertou para que fossemos realmente livres.” (Gl 4, 31 – 5,1).
Resgatados para uma condição de filhos de Deus tornamo-nos Povo Régio e
Sacerdotal. “Vós, porém, constituís uma geração escolhida, um sacerdócio
régio, uma gente santa, um poço conquistado, a fim de proclamar as grandezas
daquele que das trevas vos chamou para a sua luz admirável. Outrora não éreis
objeto de misericórdia. Agora sim, sois objeto de misericórdia” ( 1Pe 2, 9-10).
Nas vicissitudes da história e da vida cada cristão é convidado a reconhecer a
gratuidade do amor. Se assim caminha passa-se a elevar a Deus um “cântico novo”
(Sl 33,3) que brota dos lábios como expressão de louvor ao Criador.
A
liturgia que em grego leit (de ‘laós’, povo) e urgia (de érgon, ação, obra).
Assim a liturgia é uma ação, obra que se realiza em favor do povo, da
comunidade, da vida das pessoas. Para os cristãos, é atualização da entrega de
Cristo para a salvação. A liturgia faz o memorial da entrega redentora de
Cristo na cruz. Através da ação litúrgica se é inserido nas realidades da
salvação. Dessa forma, percebe-se claramente a raiz cristológica da liturgia.
Cristo rompe um simples ritualismo e faz a liturgia um “culto agradável e
perfeito” ( Rm 12, 1-2). Porém, a liturgia não se restringe a uma realidade de
espaço e tempo determinado, mas prolonga-se como experiência vital. E mesma a
liturgia conduzida pelo ritual advém de uma experiência transcendental dos
antepassados e dos contemporâneos. Ela é meio do qual Deus se utiliza para
expressar plenificamente todo o realismo de Sua Palavra e de Sua carne. Por
isso, é preciso educar-se para aprender dEle a bem viver e nos alimentar dEle.
A
liturgia da criação é “quebra” e “extensão” de um silêncio criador. “A terra,
porém, estava informe e vazia, e as trevas cobriam o abismo, mas o espírito de
Deus paira por sobre as águas” (Gn 1, 2). A celebração litúrgica é acolhida,
como filhos de Deus do supremo Mistério Pascal (vida, morte e ressurreição do
Senhor). É realidade antiga e nova, capaz de atrair mentes e corações, invade e
toca a nossa realidade, transforma e convida a lançar nossa vida. O memorial da
Nova Aliança torna-nos participantes da vida de Cristo, homens e mulheres,
renascidos a partir do novo Adão, que liberta das fragilidades do pecado.
A partir
de Cristo a realidade e a humanidade não pode mais ser vista como profana. Elas
trazem em si uma reserva de sacralidade. “No princípio existia o Verbo, o Verbo
estava voltado para Deus, e o Verbo era Deus. O Verbo estava, pois,
voltado para Deus no começo. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada se
fez de tudo o que foi criado” (Gn 1, 1-2). O universo é acolhida e morada do Altíssimo.
Por isso, somos eminentemente espirituais e como criaturas, tendemos para estar
com o Criador. O sagrado, Cristo, dignou-se assumir o profano, a humanidade (Fl
2, 5-11), a fim de que a humanidade encaminhasse para o que há de mais sagrado
Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre (Hb 13, 8).
Nosso
coração humano volta-se naturalmente para o que é bom, belo e verdadeiro,
Cristo, o Belo Pastor. A liturgia é a extensão mais digna da Palavra de Deus.
Ela indica a Presença de Jesus e do Evangelho em ritos, orações e símbolos. Ela
é convite para participar da vida divina vivendo ainda a vida humana, ela quer
nos conduzir do visível ao Invisível, proporciona a união entre a Terra, nossa
origem e o Céu, nossa origem primeira.
Pe. Geraldo Trindade
Padre na Arquidiocese de Mariana, natural de Cipotânea (MG), cursou o bacharelado em Filosofia pela FAM (Faculdade Arquidiocesana de Mariana) e Teologia no Seminário São José.
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Pensar Paralelo
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