No Evangelho deste domingo (Jo 6,24-35), depois do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus se apresenta como o “Pão da Vida”, a Eucaristia.
Entusiasmado com o milagre, o povo procura Jesus. Vê-se que o povo não entendeu o sentido daquele gesto. Quando viram que não conseguiam encontrar nem a Jesus nem aos seus discípulos, subiram às barcas e foram a Cafarnaum.
Quando O encontraram novamente, Jesus disse-lhes: “Em verdade, em verdade, Eu vos digo: estais Me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”(Jo 6,26). Comenta Santo Agostinho: “Buscais-me por motivos da carne, não do espírito. Quantos há que procuram Jesus, guiados unicamente pelos seus interesses materiais! Só se pode procurar Jesus por Jesus”. Jesus quer ajudar a multidão a ir além da satisfação imediata das próprias necessidades materiais, por mais importantes que sejam. Deseja abrir a um horizonte da existência que não é simplesmente o das preocupações quotidianas do comer, do vestir, da carreira. Jesus fala de um alimento que não perece, que é importante procurar e receber. Ele afirma: “Trabalhai, não pelo alimento que perece, mas por aquele que dura até à vida eterna, que o Filho do Homem vos dará” (v. 27).
A multidão não compreende, e julga que Jesus pede a observância de preceitos para obter a continuação daquele milagre, e pergunta: “Que devemos fazer para praticar as obras de Deus?” (v.28). A resposta de Jesus é clara: “A obra de Deus é esta: que acrediteis naquele que Ele enviou” (v. 29). O centro da existência, aquilo que dá sentido e esperança firme ao caminho muitas vezes difícil da vida é a fé em Jesus, o encontro com Cristo. Também nós perguntemos: “Que devemos fazer para ter a vida eterna?”. E Jesus diz: “Acreditai em mim”. A fé é o elemento fundamental. Não se trata aqui de seguir uma ideia, um programa, mas de encontrar Jesus como uma Pessoa viva, de se deixar comprometer totalmente por Ele e pelo seu Evangelho. Jesus convida a não se limitar ao horizonte puramente humano e a abrir-se ao horizonte de Deus, ao horizonte da fé. Ele exige uma única obra: aceitar o plano de Deus, ou seja, “acreditar naquele que Ele enviou” (v. 29). Moisés tinha dado a Israel o maná, o pão descido do céu com que o próprio Deus alimentara o seu povo. Jesus não concede algo, doa-se a Si mesmo: Ele é o “Pão Verdadeiro, descido do Céu”, Ele, a Palavra viva do Pai; e é no encontro com Ele que acolhemos o Deus vivo.
“Que devemos fazer para praticar as obras de Deus?” (v. 29), pergunta a multidão, pronta a agir, para que o Milagre do Pão continue. Mas Jesus, verdadeiro Pão de Vida que sacia a nossa fome de sentido, de verdade, não se pode “ganhar” com o trabalho humano; Ele chega a nós somente como Dom do Amor de Deus, como Obra de Deus que devemos pedir e acolher.
Jesus Cristo é o verdadeiro alimento que nos transforma e nos dá forças para realizarmos a nossa vocação cristã. Exorta vivamente São João Paulo II: “Só mediante a Eucaristia é possível viver as virtudes heroicas do cristianismo: a caridade até o perdão dos inimigos, até o amor pelos que nos fazem sofrer, até a doação da própria vida pelo próximo; a castidade em qualquer idade e situação de vida; a paciência, especialmente na dor e quando estranhamos o silêncio de Deus nos dramas da história ou da nossa existência. Por isso, sede sempre almas eucarísticas para poderdes ser cristãos autênticos”.
A igreja vive da Eucaristia. O concílio Vaticano II afirmou que o sacrifício eucarístico é “fonte e centro de toda a vida cristã” (LG, 11). Com efeito, “na Santíssima Eucaristia, está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o Pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo” (PO, 5).
A Igreja vive de Jesus Eucarístico, por Ele é nutrida, por Ele é iluminada. A Eucaristia é mistério de fé e, ao mesmo tempo, mistério de luz. Sempre que a Igreja a celebra, os fiéis podem de certo modo reviver a experiência dos dois discípulos de Emaús: “Abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-no” (Lc 24,31).
Referindo-se à Eucaristia, ensinava São Josemaría Escrivá: “O maior louco que já houve e haverá é Ele (Jesus). É possível maior loucura do que entregar-se como Ele se entrega, e àqueles a quem se entrega?
Porque, na verdade, já teria sido loucura ficar como um Menino indefeso; mas, nesse caso, até mesmo muitos malvados se enterneceriam, sem atrever-se a maltratá-Lo. Achou que era pouco: Quis aniquilar-se mais e dar-se mais. E fez-se comida, fez-se Pão. Divino Louco! Como é que te tratam os homens?… E eu mesmo?” (Forja, 824).
Na Eucaristia, a comunhão é tão perfeita que conduz ao apogeu de todos os bens: nela alcançamos a Deus e Ele une-Se conosco pela união mais perfeita. A comunhão eucarística foi-nos dada para nos alimentarmos de Deus sobre esta terra, à espera da saciedade plena no Céu. Esta relação de íntima e recíproca permanência permite antecipar de algum modo o Céu na terra. É verdadeiramente um pedaço de Céu que se abre sobre a terra; é um raio de glória que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso caminho. A Divina Eucaristia é penhor de vida eterna. É a continuação e ampliação real e universal do mistério do Deus que se fez carne e habitou entre nós, mistério de Deus que ama o seu povo a ponto de morar com eles. A presença de Jesus em nossos sacrários é por si um reflexo e uma ampliação desse fato: Deus se fez carne e mora entre nós. É de justiça que pelo menos de vez em quando façamos visita ao Senhor no Sacrário.
Da Eucaristia brotam todas as graças e todos os frutos de vida eterna – para cada alma e para a humanidade – porque neste Sacramento “está contido todo o bem espiritual da Igreja” (PO, 5).
Quando nos aproximamos da mesa da Comunhão, podemos dizer: “Senhor, espero em Ti; adoro-Te, amo-Te, aumenta-me a fé. Sê o apoio da minha debilidade, Tu, que ficaste na Eucaristia, inerme, para remediar a fraqueza das criaturas” (Forja, 832).
Façamos nosso (no bom sentido) o pedido do povo citado no Evangelho: “Senhor, dá-nos sempre desse pão” (Jo 6, 34).
“Eis que estou convosco todos os dias” (Mt 28,20). Jesus não se contentou em dar a vida por nós na Cruz, não quis separar-se materialmente de nós. Eis Jesus aqui, sempre conosco. Permanece acessível, próximo. Mais acessível e mais próximo do que na Palestina há dois mil anos, quando se dizia que estava ora em Nazaré, ora em Jerusalém, ora em Betânia. Agora está materialmente aqui, com seu Corpo, com seu Sangue, com sua Alma, com sua Divindade. Aquele mesmo que as multidões buscavam encontrar e tocar.
Maria pode guiar-nos para o Santíssimo Sacramento porque tem uma profunda ligação com Ele.
“Feliz daquela que acreditou” (Lc 1,45): Maria antecipou também, no mistério da encarnação, a fé eucarística da Igreja. E, na visitação, quando leva no seu ventre o Verbo encarnado, de certo modo ela serve de “sacrário” – o primeiro “sacrário” da história –, para o Filho de Deus, que, ainda invisível aos olhos dos homens, se presta à adoração de Isabel, como que “irradiando” a sua luz através dos olhos e da voz de Maria. E o olhar extasiado de Maria, quando contemplava o rosto de Cristo recém-nascido e o estreitava nos seus braços, não é porventura o modelo inatingível de amor a que se devem inspirar todas as nossas comunhões eucarísticas?” Impossível imaginar os sentimentos de Maria, ao ouvir dos lábios de Pedro, João, Tiago e os restantes apóstolos as palavras da Última Ceia: Isto é o meu corpo que vai ser entregue por vós” (Lc 22,19). Aquele corpo, entregue em sacrifício e presente agora nas espécies sacramentais, era o mesmo corpo concebido no seu ventre! Receber a Eucaristia devia significar para Maria quase acolher de novo no seu ventre aquele coração que batera em uníssono com o dela e reviver o que tinha pessoalmente experimentado junto da Cruz. (Carta Encíclica Ecclesia De Eucharistia , São João Paulo ll, 55 – 56 ).
O primeiro domingo de agosto é dedicado à vocação Sacerdotal.
Rezemos pelos padres! Rezemos ao Senhor para que continue enviando sacerdotes para a Igreja. Que Ele continue abençoando e plenificando a vida de todos os sacerdotes.
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Textos: Ex 16, 2-4.12-15; Ef 4, 17.20-24; Jo 6, 24-35
Caros irmãos, a liturgia da Palavra deste domingo nos apresenta como primeira leitura um texto do Livro do Êxodo, onde temos uma das grandes questões do Pentateuco: a marcha pelo deserto, e faz lembrar que Deus acompanha o seu povo rumo à Terra Prometida e o alimenta com o pão necessário à vida (cf. Ex 16,2-4.12-15). O episódio começa com a murmuração do povo “contra Moisés e contra Aarão” (v. 2), que lembra do tempo em que passou no Egito e que comia “pão com fartura” (v. 3). A resposta de Deus é “fazer chover pão do céu” (v. 4) e dar ao seu povo o alimento em abundância (v. 12). O objetivo não é só satisfazer as necessidades materiais do povo, mas se revelar a eles como o Deus da bondade e do amor, que cuida e caminha com todos.
O texto evangélico nos faz lançar um olhar retrospectivo para as leituras do último domingo, quando Jesus alimentou a multidão com cinco pães e dois peixes, na outra margem do Lago de Tiberíades (cf. Jo 6,1-15). O texto bíblico nos diz que, ao cair da tarde desse dia, Jesus e os discípulos voltaram a Cafarnaum (cf. Jo 6,16-21). O episódio evangélico deste domingo sequencia o mesmo tema e nos situa no dia seguinte ao da multiplicação dos pães e dos peixes. A multidão que tinha sido alimentada pelos pães e pelos peixes ainda estava do outro lado do lago e ao notar que Jesus tinha regressado a Cafarnaum, dirigiu-se ao seu encontro. Confrontado com a multidão, Jesus profere um discurso onde explica o sentido do gesto precedente que havia realizado: a multiplicação dos pães e dos peixes; e nos ensina que é preciso esforçar-se por conseguir, não só o alimento que mata a fome física, mas, sobretudo, o alimento que sacia a fome de vida. Ao preocupar-se apenas com o alimento material, esquecem o essencial: o alimento que dá a vida definitiva. Esse alimento que dá a vida eterna é o próprio Jesus que o traz (v. 27).
Nesta passagem evangélica Jesus diz: “O meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu” (v. 32). A Eucaristia é, então, dom do Pai, um dom que prolonga o da encarnação: Deus tanto amou o mundo, que deu a nós na encarnação, e continua a dar na Eucaristia, o seu Filho unigênito (cf. Jo 3,16). A Eucaristia vem, pois, do Pai. Mas o mais importante é que a Eucaristia nos conduz ao Pai. Quem se alimenta do pão que é Jesus, ou seja, quem nele crê, tem a vida eterna, porque se predispõe a fazer sempre a vontade de Deus.
A vida que vem a nós na Eucaristia é a vida que tem como fonte e princípio o Pai e que, através de Jesus Cristo, se derramou sobre o mundo, pois o próprio Jesus nos diz: “Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim” (Jo 6,57). No momento da apresentação das oferendas, dirigindo-se a Deus Pai, diz o Sacerdote: “Bendito sejais, Senhor, Deus do Universo, pelo pão que recebemos de vossa bondade. Fruto da terra e do trabalho humano que agora Vos apresentamos e para nós vai se tornar o Pão vida”. É significativo constatarmos que o pão que recebemos é fruto da bondade de Deus. Mas o pão que oferecemos é também o pão que recebemos, a Eucaristia.
Na liturgia da missa, isso é posto em evidência pelo fato de que tudo se dirige ao Pai. A Oração Eucarística, pronunciada pelo sacerdote, é um diálogo em que a Igreja, corroborada pelo Espírito Santo, por meio de Jesus, está voltada para Deus. O fato de que esse Sacramento tenha assumido o nome “Eucaristia”, que quer dizer “Ação de Graças”, expressa precisamente isto: que a transformação da substância do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo é fruto do dom que Cristo fez de si mesmo, dom de um amor mais forte do que a morte. Por esta razão a Eucaristia é o alimento de vida eterna, Pão da vida. Tudo procede de Deus, da onipotência do seu amor Uno e Trino.
A palavra “comunhão”, que usamos também para designar a Eucaristia, resume em si as dimensões vertical e horizontal do dom de Cristo. Quando recebemos a comunhão, expressão referida ao gesto de comer o Pão eucarístico, entramos em comunhão com a própria vida de Jesus, no dinamismo desta vida que se doa a nós e por nós. Santo Agostinho nos ajuda a compreender a dinâmica da comunhão eucarística quando faz referência a uma espécie de visão que teve, na qual Jesus lhe disse: “Eu sou o alimento dos fortes. Cresce e receber-me-ás. Tu não me transformarás em ti, como o alimento do corpo, mas és tu que serás transformado em mim” (S. AGOSTINHO, Confissões VII, 10, 18).
Portanto, enquanto o alimento corporal é assimilado pelo nosso organismo e contribui para o seu sustento, no caso da Eucaristia trata-se de um Pão diferente: não somos nós que o assimilamos, mas é ele que nos assimila a si, de tal modo que nos tornamos membros do corpo de Jesus Cristo, um só com ele. É o próprio Cristo que, na comunhão eucarística, nos transforma em si. Assim a Eucaristia, enquanto nos une a Cristo, nos abre também aos outros, tornando-nos membros uns dos outros (cf. BENTO PP XVI, Homilia, quinta-feira, 23 de junho de 2011).
O caminho que percorremos nesta terra é sempre um caminho marcado pela procura da nossa realização, da nossa felicidade. Temos fome de vida, de amor, de paz, de esperança, de transcendência e procuramos, de muitos modos, saciar essa fome; mas continuamos sempre insatisfeitos, tropeçando nos nossos erros, em tentativas falhas de realização, em propostas que parecem sedutoras, mas que só geram escravidão e dependência. Precisamos ter consciência de que só em Cristo Jesus podemos encontrar o “pão” que mata a nossa fome de vida. Só em Cristo podemos ser homens novos, como nos diz São Paulo na segunda leitura (cf. Ef 17,20-24). Ele é o “pão” enviado por Deus para dar a vida ao mundo. É esta a questão central que o Evangelho deste domingo nos propõe.
Mas para termos acesso a esse “pão” que desce do céu para dar a vida ao mundo precisamos aderir a Jesus e escutar o seu chamamento, acolher a sua Palavra, assumir e interiorizar os seus valores, segui-lo como. A nossa adesão a Jesus deve partir de uma profunda convicção de que só Ele é o “pão” que nos dá a vida.
O ápice da passagem do evangelho deste domingo está nesta frase: “Moisés não vos deu o pão do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu” (v. 32). Jesus é um pão sobre o qual o Pai imprimiu o seu sinal. Com isto, ao recordarmos a peregrinação de Israel durante os quarenta anos no deserto, quando o Senhor fez cair do céu o pão como alimento, como vimos na primeira leitura, devemos ter sempre consciência de que a Hóstia Sagrada é, hoje, o nosso maná com o qual o Senhor nos alimenta; é verdadeiramente o pão do céu, mediante o qual ele se doa a si mesmo por cada um de nós. Saibamos redescobrir a beleza e o significado do Sacramento da Eucaristia, onde recebemos o próprio Cristo que deseja estar sempre conosco.
E por feliz coincidência, hoje a Igreja nos faz lembrar o dia do padre. E é precisamente na Eucaristia que se encontra o segredo da nossa santificação, mas, sobretudo, da santificação de cada sacerdote. Em virtude da sagrada ordenação, o presbítero recebe a dádiva e o compromisso de repetir sacramentalmente os gestos e as palavras com que Jesus instituiu na última Ceia o Sacramento da Eucaristia. Nas mãos de cada sacerdote renova-se este grande milagre de amor, do qual ele é chamado a tornar-se uma testemunha e um anunciador cada vez mais fiel (cf. MND, 30). Sabemos que a validade do Sacramento não depende da santidade do celebrante, mas a sua eficácia, para ele mesmo e para os outros, será tanto maior quanto mais ele o viver com fé profunda, amor ardente e fervoroso espírito de oração.
Muitos sacerdotes tornaram-se exemplos de santidade, de fé e de devoção à Eucaristia; dentre tantos, podemos citar São João Maria Vianney, cujo dia celebramos aos 4 de agosto. Foi ele um humilde pároco de Ars, na França. Mediante a santidade de vida e o zelo pastoral, ele conseguiu fazer daquele pequeno povoado um modelo de comunidade cristã, animada pela Palavra de Deus e pelos Sacramentos. Peçamos a sua intercessão por cada sacerdote, para que saibam viver e dar testemunho deste Mistério da fé que é depositado em suas mãos para a salvação do mundo. Interceda também por cada um de nós a Virgem Maria, ela que ofereceu ao mundo o Pão da vida, nos ensine a viver sempre em profunda união com ele. Assim seja.
PARA REFLETIR
Primeiramente, Cristo censura duramente o povo: procuram-no – como tantos hoje em dia – não porque viram o sinal que ele realizou! Mas, que sinal? Fez o povo sentar-se na relva, como o Pastor do Salmo 22 faz a ovelha descansar em verdes pastagens; prepara uma mesa para o fiel, multiplicando-lhe os pães, como Moisés no deserto… Ante tudo isto, amados em Cristo, o povo ainda pensou em Jesus como sendo o Profeta que Moisés prometera (cf. Dt ); mas, infelizmente, não passou disso. Daí a repreensão do Senhor: aqueles lá o procuravam simplesmente porque comeram pão, como hoje tantos o procuram para ganhar benefícios – e, assim, são enganados pelos charlatões de plantão! A prova de que o povo não compreendeu o sinal, é que ainda vai perguntar no Evangelho de hoje: “Que sinal realizas? Que obra fazes?” Como estes, lá com Jesus, se parecem conosco, tantas vezes cegos para os sinais do Senhor na nossa vida!
Observai, irmão! Notai como os judeus não conseguem compreender que o que Jesus quer deles é a fé na sua pessoa e na sua missão! Vede como eles pensam que podem agradar ao Senhor simplesmente com um fazer exterior, sem compromisso de amor que brota do coração: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” Fazer! De nós, Jesus quer muito mais do que um simples fazer! Eis a resposta do nosso Salvador: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou!” Resposta admirável: tua obra, cristão, já não é cumprir a Lei de Moisés; também não é fazer e fazer coisas, mas crer e amar a Jesus! Daí sim, tudo decorre, e também tuas boas obras, feitas por amor a Jesus e na fé em Jesus, serão aceitas pelo Senhor!
Diante da palavra do Cristo, os judeus duros de compreender, pedem a Jesus outro sinal! Não compreenderam o que ele fizera! E ainda citam Moisés, como que dizendo: Tu nos deste pão agora; Moisés nos deu o maná por quarenta anos! Aí, o nosso Salvador faz três revelações surpreendentes e consoladoras! Ei-las:
Primeiro: Aquele maná dado por Moisés não é o pão que vem do céu. É pão terreno mesmo, dado por Deus; pão que mata a fome do corpo, mas não enche de paz o coração; pão que alimenta esta vida, mas não dá a Vida divina, a Vida que dura para sempre! Aquele maná do deserto era apenas pálida imagem de um outro maná, de um outro pão que o Pai daria mais tarde.
E aqui vem a segunda revelação, surpreendente, consoladora: agora o Pai está dando o verdadeiro maná, o verdadeiro Pão do céu, que dá a vida divina ao mundo: Moisés não deu (no passado); meu Pai vos dá (agora, no presente)! Os judeus ficam perplexos, admirados; e pedem: Dá-nos desse pão! Pão que alimenta a fome de vida, de paz, de sentido, de eternidade!
Jesus faz, então, a terceira e desconcertante revelação: “Eu sou o Pão da vida!” Pronto: o pão verdadeiro é uma Pessoa, é ele mesmo! Os pães que ele multiplicara eram imagem dele mesmo, que se nos dá, que nos alimenta, que nos enche de vida: “Eu sou o Pão da vida! O Pão que desce do céu e dá a vida ao mundo! Quem vem a mim nunca mais terá fome de vida e de sentido de existência; quem crê em mim nunca mais terá sede no seu coração!”
Eis, meus caros! Corramos para Jesus! Seja ele nosso alimento! E dele nos alimentando, sejamos nele, novas criaturas, despojando-nos do homem velho, deixando o velho modo de pensar, que conduz não à Vida, mas ao nada, como diz o Apóstolo na segunda leitura! Se nos alimentamos de Cristo, se bebemos de sua santa palavra, como poderemos pensar como o mundo, agir como o mundo, viver como o mundo? Como ainda poderíamos consentir nas velhas paixões que nos escravizam?
Que alimentando-nos de Jesus, Pão bendito de nossa vida, nós atravessemos o deserto desta vida não como o povo de Israel, que murmurou e descreu, mas como verdadeiros cristãos, renovados pelo Senhor, despojados da velhice do pecado e saciados de vida eterna, vida que é o Cristo nosso Deus, bendito pelos séculos dos séculos. Amém.
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