"Tu és Petrus et super hanc petram aedificabo
Ecclesiam meam"
O discurso contemporâneo tenta colocar a figura de
Jesus Cristo como figura subversiva que, atualizada a nossos tempos, acabaria
por ser a favor de certas “pautas”, e irremediavelmente incomodaria aqueles que
estão contra essas “pautas”.
De fato, Jesus Cristo mesmo tomado apenas como ser
histórico é aquele que dá claridade e visibilidade à lei e “rompe” – seria mais
correto falar de amadurecimento e perfeição da lei -, de certa forma, com a lei
dada por Moisés aos homens, segundo o coração duro daqueles que estavam com
ele. Mas Cristo vai muito além do que isso: Ele incomodaria a você e a mim
mesmo, Ele diria coisas e colocaria diante de nós questões que nos tirariam do
eixo. Jesus não esteve e nem está comprometido com uma pauta ideológica, mas
sim com a verdade, e como diria Santo Agostinho, "a verdade tem poucos
amigos".
Por dizer a verdade, sabemos onde Cristo foi parar,
e hoje acabaria morrendo da mesma forma, não por causa de um lado conservador
ou um lado progressista, não por uma direita ou uma esquerda, mas por que a
verdade incomoda o ser humano, tira-o do seu eixo de estagnação. Queremos
enfim, a preguiça das ideias relativas, das opiniões infundadas e das relações
superficiais; Cristo quer dinâmica das verdades concretas, das opiniões cheias
de sentido (significado e também DIREÇÃO) e das relações pessoais e íntimas
(empatia, fraternidade, caridade, justiça).
Não seria surpresa que os dois últimos papas de
nossa Igreja tenham sido ao mesmo tempo tão louvados e odiados pela maioria das
pessoas. Esse misto entre admiradores e perseguidores de ambos acabou por criar
um clima nada católico dentro da Igreja. Considero-a uma divisão que só existe
nos olhos daqueles que insistem em criar uma profunda cisão no seio da Igreja.
Bento XVI e Francisco podem ter perfis diferentes, mas, fica claro a qualquer
observador atento que ambos sempre tiveram e têm o mesmo objetivo: mostrar o
perigo do pensamento moderno para a fé e para a dignidade humana.
Embora visto como conservador, Bento XVI não deixou
de lado os temas sociais, e muitas vezes se posicionou de forma clara como
pontífice da Igreja. Não havia, no entanto, uma perseguição ao Papa Emérito
nesse sentido: seu viés intelectual e teológico sustentava de forma sólida tudo
que dizia, e até hoje muitos abrem os ouvidos para ouvi-lo movidos pelo
respeito e reconhecimento a esse grande homem da razão. Bento XVI foi a
misericórdia de Deus em sua divina providência, conservando a Igreja nas mãos
de um homem que soube defender a doutrina, a teologia e os dogmas da fé cristã,
diante de um mundo que perdia a fé e relativizava tudo.
Agora, temos o Papa Francisco. Se atacavam Bento
XVI chamando-o de conservador, à Francisco atacam-no chamando-o de comunista.
As suspeitas surgirem graças ao seu viés mais pastoral, e por Francisco ser um
fiel seguidor da Doutrina Social da Igreja. É novamente um presente da
providencia divina que coloca Francisco, homem da verdadeira caridade, à frente
da Igreja em um tempo em que precisamos reaprender com Ela e com a palavra de
Cristo sobre o sentido da verdadeira caridade, e das implicações de vivermos
esse amor. Diante da crise no mundo, Francisco afirma-se e reflete de forma
cada vez mais profunda a respeito de sua responsabilidade como pontífice da
Igreja de Cristo. O meio pelo qual Ele encontrou para curar os males do mundo é
o caminho do exemplo, da vida como evangelho último, e talvez o único evangelho
que alguém poderá ler na vida. Em resumidas palavras: o que comove o mundo é o
exemplo.
Francisco e Bento XVI não estão opostos, pois seus
esforços são para combater os problemas no mundo. Francisco incomoda por que
lembra ao mundo que ele se tornou egoísta e que ser egoísta é uma falta de
caráter, mesmo no mundo em que se esconde o egoísmo por trás do "amar a si
mesmo", "se você não gostar de si não vai gostar de mais
ninguém" e etc.; Bento XVI incomoda o mundo por lembrar a eles da verdade,
não só da verdade de que Cristo é amor (suas cartas DEUS CARITAS EST e CARITAS
IN VERITATEM lembram-nos desse papa apaixonado pelo Deus amor), mas a verdade
de que a lógica do mundo não está em conformidade com a de Cristo: "o
mundo vos odiará por que primeiro odiou a mim” (Jo 15,18). No mundo egoísta e
relativista em que vivemos, quase nunca haverá espaço para homens como
Francisco e Bento XVI: amantes de Deus e da verdade, apóstolos dos últimos
dias, que precisam lembrar ao mundo muitas das coisas que ele esqueceu.
Felipe de
Oliveira Ramos
______________________________________
O Fiel
Católico
Nenhum comentário:
Postar um comentário