PONTIFÍCIO
CONSELHO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
MENSAGEM
PARA O MÊS DO RAMADÃ
E
‘Id al-Fitr 1436 H. / 2015 A.D.
Cristãos e Muçulmanos: não à violência em
nome da religião.
Queridos irmãos e irmãs muçulmanos
É-me grato dirigir-vos, quer em nome dos católicos
do mundo inteiro, quer pessoalmente, os melhores votos por uma serena e
jubilosa celebração de 'Id al-Fitr. No mês de Ramadã respeitastes muito as
práticas religiosas e sociais, como o jejum, a oração, a esmola, a ajuda aos
pobres, as visitas aos familiares e amigos.
Espero e rezo para que os frutos destas boas obras
possam enriquecer a vossa vida!
Para alguns de vós, assim como para outros
pertencentes às diversas comunidades religiosas, a recordação dos próprios
entes queridos, que perderam a vida e os seus bens ou sofreram física, mental e
até espiritualmente por causa da violência, lança uma sombra sobre a alegria da
festa. Comunidades étnicas e religiosas em numerosos países do mundo padeceram
sofrimentos enormes e injustos: o assassinato de alguns dos seus membros, a
destruição do seu patrimônio cultural e religioso, emigração forçada das suas
casas e cidades, moléstias e estupros das suas mulheres, escravização de alguns
dos seus membros, tráfico de seres humanos, comércio de órgãos, e até venda de
cadáveres!
Estamos todos cientes da gravidade destes crimes.
Todavia, o que os torna ainda mais hediondos é a tentativa de os justificar em
nome da religião. Trata-se de uma clara manifestação da instrumentalização da
religião para obter poder e riqueza.
Seria supérfluo dizer que quantos são responsáveis
pela segurança e pela ordem pública têm também o dever de proteger as pessoas e
as suas propriedades da violência cega dos terroristas. Por outro lado, há
também a responsabilidade daqueles que têm a tarefa da educação: as famílias,
as escolas, os textos escolares, os líderes religiosos, o discurso religioso,
os meios de comunicação. A violência e o terrorismo nascem primeiro na mente
das pessoas desviadas, sucessivamente são perpetradas em concreto.
Todos aqueles que estão concernidos na educação dos
jovens e nos vários âmbitos educativos deveriam ensinar o carácter sagrado da
vida e a dignidade que dela deriva para cada pessoa, independentemente da sua
etnia, religião, cultura, posição social ou escolha política. Não existe uma
vida que seja mais preciosa do que outra devido à sua pertença a uma específica
raça ou religião. Portanto, ninguém pode matar. Ninguém pode matar em nome de
Deus; isto seria um duplo crime: contra Deus e contra a própria pessoa.
Não pode existir ambiguidade alguma na educação. O
futuro de uma pessoa, de uma comunidade e da humanidade inteira não pode ser
construído sobre esta ambiguidade ou verdade aparente. Cristãos e muçulmanos, cada
um segundo a respectiva tradição religiosa, olham para Deus e relacionam-se com
Ele como a Verdade. A nossa vida e o nosso comportamento na qualidade de
crentes deveria reflectir esta convicção.
Segundo são João Paulo II, cristãos e muçulmanos
têm «o privilégio da oração» (Discurso aos Chefes Religiosos Muçulmanos,
Kaduna, Nigéria, 14 de Fevereiro de 1982). Há uma grande necessidade da nossa
oração: pela justiça, pela paz e segurança no mundo; por quantos se afastaram
do caminho certo da vida e cometeram violência em nome da religião, a fim de
que possam voltar a Deus e mudar a sua vida; pelos pobres e doentes.
Aliás, as nossas festas alimentam em nós a
esperança para o presente e para o futuro. É com esperança que olhamos para o
futuro da humanidade, em particular quando fazemos o melhor que podemos para
que os nossos sonhos legítimos se tornem realidade.
Juntamente com o Papa Francisco, desejamo-vos que
os frutos do Ramadão e a alegria de 'Id al-Fitr possam trazer paz e
prosperidade, favorecendo o vosso crescimento humano e espiritual.
Boas festas a todos vós!
Jean-Louis Cardinale Tauran
Presidente
Padre Miguel Ángel Ayuso Guixot, M.C.C.I.
Secretário
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