O Brasil vive uma crise de caráter antropológico, é
o que constata o Arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
ao fazer uma análise da atual situação do país. Segundo ele, para superar tal
contexto, é necessária uma revolução cultural na sociedade que leve às mudanças
que o Brasil realmente precisa.
“Bem no início desta contagem do ano novo de 2016,
em meio ao tratamento dos problemas que continuam gerando suas consequências e
preços a pagar, é urgente considerar que a crise das crises - a crise motora de
todas essas outras em curso - é a de caráter antropológico”, escreve o Prelado
em recente artigo, intitulado “Falências e reações”.
“É hora de efetivar mudanças”, afirma o Arcebispo,
ao observar o “legado desolador deixado pelo ano que passou”, no qual “os
horizontes da democracia e dos admiráveis avanços científicos e tecnológicos
contracenam com os rios de lama da corrupção, dos desvarios no mundo da
política, da submissão de poderes a interesses partidários e cartoriais, dos
abomináveis desastres ambientais e humanitários”.
Entretanto, analisa que uma mudança de hábitos não
é o suficiente, nem “resolver o caos perpetuado na sede dos poderes” – embora
neste último estejam “urgências que precisam de novas e velozes
reconfigurações”.
Para Dom Walmor, tal crise antropológica, sendo
“algo mais sério e profundo”, implica na necessidade de “novos entendimentos e
grande investimento na configuração mais consistente do tecido cultural”.
Por isso, diz ser preciso uma “revolução cultural
na sociedade brasileira”, a qual não se corresponde apenas a um “movimento
político partidário e nem se reduz a formas e dinâmicas de governo”.
“Trata-se de investir e conquistar entendimentos
novos sobre a própria realidade histórico-cultural, promovendo clarividências.
Todos precisam compreender melhor a sua missão e vocação para efetivar, a
partir de riquezas próprias, por vezes desprezadas, desconhecidas e
maltratadas, novo conjunto de hábitos”.
Neste sentido, o prelado aponta um caminho: “O
processo de enfrentamento da grande crise antropológica – afirma – parece não
poder ser tratado senão a partir de ações nos muitos contextos regionais do
Brasil”, um “país com dimensões continentais”.
“No conjunto da crise antropológico-cultural estão
os rasgões na diversidade que configura a unidade do povo”, avalia o Arcebispo,
ao indicar a necessidade de “resgates pontuais e incidentes” nos substratos da
“gigante realidade cultural brasileira”.
Na avaliação de Dom Walmor, “os líderes
governamentais, educacionais, políticos, culturais e religiosos são desafiados
a olhar o conjunto de sua realidade sociocultural e definir, com sabedoria, os
investimentos prioritários, parcerias que façam aumentar os tradicionais
patrimônios – culturais, religiosos e educacionais – que têm força para
contribuir com as transformações capazes de dar ao país novo rumo”.
Segundo o Prelado, “as reformulações mais profundas
não virão simplesmente das intenções de planos governamentais”, sendo preciso
abordar de maneira técnica, científica e educativa “os substratos que alavancam
ou esvaziam a cultura de cada região”.
Entre os elementos que devem ser elencados, o Bispo
indica a consciência de “pertença” ao povo. Nesse caso, cita a importância da
“superação de um tipo de deboche – superficial e ridículo – que parece colocar
de fora das próprias fronteiras o que é a riqueza do seu território”.
O Arcebispo sublinha que, quando se predomina uma
“visão distorcida, que considera importante e interessante apenas o que está e
o que se edifica fora do próprio território”, isso contribuiu para que a
população não trate “adequadamente seu patrimônio” e não invista “em
empreendimentos com força para fazer avançar a sua história”.
Por fim, após indicar a responsabilidade de
diferentes líderes (governantes, políticos, educadores, produtores culturais,
religiosos e a população em geral) neste processo de revolução cultural, Dom
Walmor indica que agora cabe “compreender a crise antropológica e reagir com
ardor para aperfeiçoar recursos, dar velocidade a projetos, priorizar as
necessidades dos pobres”.
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ACI Digital
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