Maldito o
homem que confia em outro homem. (Jr. 17, 5)
O padre que deixa a batina. O famoso cantor que se
envolve num escândalo extraconjugal. Um líder de comunidade que simplesmente
abandona tudo e desaparece no mapa. A banda que deixa seus fãs a ver navios
depois do show. A cantora que num momento de raiva xinga o técnico de som. Quem
nunca soube ou presenciou algum caso desses? E quem nunca ouviu alguém dizer
“por que eu vou viver isso se nem eles que pregam acreditam no que eles mesmos
falam”?
Todos nós, especialmente quando adentramos uma nova
realidade, precisamos nos espelhar em pessoas que se tornam nossos modelos de
comportamento. Quando chegamos pela primeira vez num grupo de oração, chegamos
meio calados, prestando atenção em como as pessoas se portam, como falam, como
gesticulam e assim aprendemos os códigos de conduta que são aceitos ou que são
considerados inconvenientes naquele local. Esse comportamento é perfeitamente
saudável e mostra como sabemos agir em sociedade. Quando se trata de Igreja, a
coisa se torna um pouco mais profunda porque envolve uma Verdade que nos é
ensinada apenas por meio de líderes que pregam, cantam, celebram, creem e
praticam-na. Ao experimentá-la e assumi-la para nossas vidas, tomamos esses
líderes como modelos inquestionáveis de encarnação dessa Verdade.
Esquecemo-nos, no entanto, de que, embora cristãos,
permanecemos humanos e ninguém está isento de cair numa tentação – inclusive,
todos caímos, diariamente e várias vezes por dia. Dessa forma, para cada líder
religioso que cai infelizmente ele acaba carregando consigo várias outras
pessoas que contavam com seu exemplo para continuar crendo naquela Verdade que
ele defendia com tanto ardor.
Não é difícil perceber que há um grande equívoco
aí. À primeira vista podemos criticar a pessoa que tem sua fé abalada diante de
uma grande decepção acreditando de modo clichê que “não devemos estar na Igreja
por causa das pessoas, mas por causa de Jesus”. É um pensamento tão verdadeiro
quanto simplório, pois ignora a justa queixa do cidadão que aprendeu a fé de
uma pessoa que comprovou não crer naquilo tanto assim.
O maior equívoco está em acreditar que, entre nós,
há pessoas que podem ser consideradas modelos iniludíveis de comportamento
cristão, pois na verdade, enquanto caminhamos gemendo e chorando neste vale de
lágrimas, somos mesmo é um bando de doentes buscando a sua salvação e a de
outros. A Bíblia faz questão de mostrar ao mesmo tempo a grandeza e a
mesquinhez de seus personagens. Por que nos aventuramos de modo inútil e
vaidoso a sustentar ídolos frágeis e quebradiços?
Tudo seria muito mais fácil e verdadeiro se nas
Igrejas não nos relacionássemos com máscaras de seres ideais que encarnam com
perfeição a vida cristã, mas com pessoas de verdade com suas dúvidas, angústias,
fraquezas e imperfeições. Quando lemos a vida dos grandes santos tudo o que
vemos é isso: pessoas comuns iguais a nós que lutam até o sangue permanecerem
fiéis a Cristo, mas que não escondem suas chagas e máculas. Essa mudança de
perspectiva nos pouparia de muitas e desnecessárias decepções que fazem com que
tantos abandonem a Cristo por motivos absolutamente vãos.
Luis Felipe Barbedo
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Catholicus
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