NOTA
DE REPÚDIO À DESCRIMINALIZAÇÃO
DO
ABORTO
Caríssimos
irmãos em Cristo: Paz e bênção no Senhor!
Quando a sociedade vive o clima
de caminhada para a Páscoa, certeza da vida que vence a morte, é imperioso que
de novo saiamos em defesa da vida daqueles que não tem voz. A sociedade
necessita de construção de um clima de respeito à vida e não de incentivo a
violência de matar inocentes. São muitas mortes em nossa sociedade!
Vivemos em tempos em que urge a
oração e a unidade do povo cristão em favor de nossa tão querida nação, diante
de tantas ameaças à dignidade humana e à paz. E de todas essas ameaças à
dignidade, qual poderia ser maior além daquela que sentencia a morrer os
cidadãos inocentes que apenas buscam viver? E os brasileiros que mais estão sob
o risco dessa sentença são os filhos da pátria não-nascidos, perseguidos desde
a sua concepção, como se víssemos um tipo daquilo que mostra o Apocalipse em
sua narrativa sobre “a mulher que está prestes a dar a luz a um filho e que é
perseguida pelo dragão que anseia loucamente devorar o filho que lhe nascer”
(cf. Ap 12,1-17). E esse dragão hoje tem um nome, é chamado “cultura de morte”
e ele alça seu vôo homicida sobre nossas cabeças para, através do aborto,
ceifar vidas. A guerra contra a vida é o fim da paz e o início de uma era de
destruição de tudo aquilo que há de bom e valoroso.
Jesus atribui a si a vida dos
padecentes, pequeninos e inocentes: “O que fizerdes ao menor dos vossos irmãos,
é a Mim que o fazeis. Quando recebeis uma criança, é a Mim que recebeis. Se em
Meu nome oferecerdes um copo de água, é a Mim que o fazeis (Mc 9,37; Mt
10,42)”. Se, do contrário, fizermos o mal a estes que sofrem e são inocentes
pequeninos, o fazemos a Ele. E ainda nas Escrituras, depois de Saulo perseguir
os cristãos com sentença de morte, ele é parado no meio do caminho por uma
intervenção de Cristo: “Saulo, Saulo, por que me persegues”? (At 9,4). Ora,
como poderia ser perseguido quem subiu aos céus? Nos cristãos inocentes, nos
que sofrem sem amparo e defesa! E digo-vos que Cristo mais uma vez está sendo
perseguido nos inocentes que não têm sequer direito de ter seu nome civil e nem
mesmo o de cristão, pois morrem antes pelas mãos deste sanguinário dragão.
Porém, Cristo mesmo lhes dá um nome, o seu nome quando diz: “é a mim que o
fazeis”. E reitera a estes algozes: “Por que me persegues?”; e se faz advogado
dos inocentes diante do Pai.
O coração do nosso pastoreio
está ferido porque a lança da morte mais uma vez fere o coração de Cristo.
Sofremos agora as dores que Ele toma para si porque somos um com Nosso Senhor.
Advogaremos com Ele até o fim, mesmo depois de qualquer sentença dada, e não
nos cansaremos de recorrer a favor da vida como direito natural dos concebidos,
que para nós, cristãos, também é um direito divino, pois Jesus mesmo atesta:
“Eu sou a vida” (Jo 14,6).
Emergem novas investidas contra
a vida, que envolvem políticos e ativistas que apelam aos membros do STF, este
que logo julgará a matéria da petição que apela pela descriminalização da
prática do aborto até as 12 semanas de vida. Nós, pastores do povo de Deus,
repudiamos com veemência o aborto em todas as suas formas, bem como sua
descriminalização. Demandamos, em respeito à vida e ao povo brasileiro, que as
autoridades civis somem-se a nós nesta busca pela paz e pelo progresso de nossa
nação, que começa no direito à vida, defendido sem nenhuma exceção desde o
momento de sua concepção até seu fim natural.
Que os cidadãos se manifestem
pacificamente em sua opinião pública, valendo-se da democracia e de sua
liberdade civil, e inclusive do caráter de constitucionalidade da defesa da
vida humana. E, “não tenhais medo” (Jo 6,20), tampouco desanimeis e não
desistam da vida, que é Cristo Senhor Ressuscitado.
Saudamos os participantes do
movimento pró-vida, das associações e grupos de apoio à mulher e ao nascituro.
Vocês não estão sozinhos. Têm a nossa oração e apoio fraterno. Convocamos que
mais pessoas se unam a essa batalha pela vida. Estejamos unidos na Eucaristia,
que é a força de nosso labor pela vida.
Que a Páscoa que se aproxima
preencha os nossos corações com a certeza da vitória da vida sobre a morte e da
caminhada histórica de um povo que não perde a esperança porque baseada n’Aquele
que ressuscitou e vive presente entre nós.
Rio de Janeiro, 06 de abril de 2017
D.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist
Arcebispo
da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
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