A notícia foi veiculada por órgãos de
informação em todo o mundo: Noa Pothoven morreu no domingo depois de ser
eutanasiada. Hoje as dúvidas sobre a causa da morte da jovem holandesa ecoam
pelos jornais depois das questões levantadas por Naomi O’Leary, correspondente
do Politico, no twitter.
Há meios de comunicação que estão a substituir
a palavra “eutanásia”, nas notícias de terça-feira, pela expressão “suicídio
assistido” ou “suicídio”, numa tentativa de difundir a outra versão da morte da
jovem. Os novos relatos dão conta que a jovem morreu em consequência da falta
de alimentação, mas continua sem ser claro o que aconteceu.
Como morreu afinal Noa? A jovem já tinha
pedido a eutanásia clínica Levenseind em Haia, mas recebeu de resposta que teria de
esperar até o seu cérebro estar totalmente desenvolvido, aos 21 anos, para
fazer novo pedido. Foi a própria jovem a anunciar no Instagram que morreria
“dentro de 10 dias”, apontando aparentemente para uma data concreta. As
informações hoje divulgadas dão conta que a jovem terá morrido à fome e à sede,
quando por iniciativa própria deixou de se alimentar, mas a dúvida persiste.
Apesar de não ser claro como terá morrido Noa
Pothoven, o que é certo é que a jovem faleceu no domingo antes de completar
sequer os 18 anos de idade.
Noa Pothoven foi abusada a primeira vez quando
tinha apenas 11 anos, numa festa da escola. No ano seguinte foi novamente
violentada, numa festa de amigos. Dois anos mais tarde, com 14 anos, dois
homens violaram-na no bairro de Elderveld em Arnhem. Durante anos ninguém soube
de nada e Noa carregou consigo o peso das agressões.
Os pais descobriram por um mero acaso, quando
encontraram no seu quarto um envelope plástico com cartas de despedida da jovem
para a família e amigos, contou a mãe ao jornal de Gelderlander em dezembro de
2018.
Noa deixou de se alimentar, sofria de stress
pós-traumático, depressão e anorexia. Lançou uma biografia, em 2016, “Ganhar ou
Aprender” onde descreve as violações de que foi alvo nos diferentes momentos e
confessa que as escondeu “por vergonha e medo”.
A primeira vez que abordou a clínica
Levenseind em Haia, sem que os pais soubessem, para perguntar se era elegível para
eutanásia recebeu um “não”.
“Eles acham que sou muito jovem para morrer.
Eles acham que eu deveria completar o tratamento do trauma e que o meu cérebro
deve primeiro estar totalmente desenvolvido. Isso só acontece aos 21 anos.
Estou arrasada, porque não posso esperar tanto”, explicava ao jornal.
Entre o primeiro pedido e a morte da jovem
passou cerca de um ano. No entretanto foi submetida a uma série de tratamentos
de eletroconvulsoterapia e numa página de crowdfunding que criou e que ainda
hoje se mantém ativa (falta um pouco mais de 17 dias para terminar) dizia “não
querer desistir”.
Na página, as doações e comentários de ânimo
deram lugar a mensagens de pesar e lamentos pela partida da jovem. Conseguiu
morrer no domingo, rodeada de família e amigos na sala de casa.
Durante a sua curta vida foi internada várias
vezes, admitida em clínicas de reabilitação e sujeita a internamentos onde
apenas usava um vestido de um tecido forte para que não pudesse rasgá-lo e
usá-lo para tirar a própria vida. Foi alimentada através de uma sonda enquanto
aguardava a admissão numa clínica de tratamento para distúrbios alimentares.
No final do livro deixava a esperança em
aberto para os tratamentos de eletroconvulsoterapia, aos quais dava a
oportunidade de lhe “trazerem paz”, mas não trouxeram. Num último post no
instagram a jovem dizia que “a luta estava terminada”.
Vou direto ao ponto: no máximo dentro de 10
dias morrerei. Depois de anos de luta, está terminada. Deixei de comer e de
beber e depois de difíceis confrontos ficou decidido que posso morrer porque o
meu sofrimento é insuportável”, podia ler-se no post entretanto eliminado.
Foi a irmã que confirmou, no Instagram, a
partida da jovem de 17 anos, seis anos depois de ter sido violada pela primeira
vez.
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Observador
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