Nem as hóstias ou o cálice foram poupados.
Muito menos a vigília de Santo Antônio impediu que algo inédito acontecesse na
Igreja da Imaculada Conceição de Maria, no bairro do Stiep. Padre, fiéis e
moradores ainda tentam organizar as peças do quebra-cabeça para entender como,
em uma semana, a paróquia foi invadida e roubada duas vezes. Sumiram dali
cofre, ofertório, microfones e até toalhas sem nenhum sinal de arrombamento. A
última ação foi percebida na última terça-feira, quando o primeiro crime ainda
repercutia.
O celular do padre Raimundo de Melo tocou às
17h30 do dia 12 de junho com a notícia de que a igreja havia sido invadida. Uma
das sacristãs, a única com a chave da paróquia, sentiu falta do notebook e do
cofrinho com as ofertas da trezena para Santo Antônio. A pequena caixa ficava
ao lado da imagem do santo, perto do altar. Como as doações seriam retiradas
apenas no último dia da trezena, no dia 13 de junho, ninguém sabe quanto foi
roubado. Às vésperas de um dos dias mais movimentados de igreja, viram-se de
frente a um dilema.
“Mas a gente achava que seria uma coisa de uma
vez, que era só um episódio. Então talvez esse tenha sido nosso erro”, acredita
o padre.
Apenas seis dias depois, no mesmo horário, a
sacristã voltou a ligar ao padre. Estava atordoada. A igreja tinha sido
novamente saqueada. Dessa vez, nem elementos sagrados foram esquecidos. As
hóstias e o cálice foram levados, assim como a chave do sacrário onde estavam
guardados. Também sumiram toalhas, um projetor e três microfones. “Talvez ele
fosse um pouquinho religioso”, brinca o padre.
O crime foi registrado na 9ª Delegacia (Boca
do Rio), mas ainda não há nenhum indício de suspeitos. A sacristã, uma das
frequentadoras mais antigas da igreja, preferiu não ser entrevistada. Por isso,
a reportagem não teve acesso ao interior da paróquia.
Desde então, as missas são realizadas sem
microfone. Diferentemente do que deveria ocorrer nesta quinta (20), o Tapete de
Corphus Christi, feito tradicional com sal e serragem, não foi montado. Não
houve clima, sequer dinheiro. “O clima está péssimo. É uma igreja frequentada
por senhoras. O medo é que aconteça um assalto”, diz Sidney Haack, empresário e
morador do entorno. Não há nenhuma câmera ou sistema de segurança na igreja que
possam ajudar na busca.
“É uma comunidade carente, pobre. Não é como a
Igreja da Vitória, Catedral Basílica”, lamenta Sidney.
Mas as grades, câmeras e alarmes já fazem
parte da rotina local. Afinal, a igreja não é a única pertubada pela violência.
Apenas a mais simbólica.
Insegurança
O salão de beleza de Sheila Sacramento, 41, ao
lado da igreja, é cercado por grades e persianas. O ar-condicionado está
cercado por uma grade, a parte interna é vigiada por câmeras. “Muita
insegurança. A gente fecha assim que acaba o movimento, fica de olho em tudo”,
afirma a cabelereira. No dia anterior à visita da reportagem, um carro havia
sido roubado. No ponto de ônibus, à espera do ônibus, o clima é de medo.
No final do ano passado, um quiosque vizinho a
igreja também foi saqueado. O criminoso entrou na venda pelo telhado. “A gente
vai tentando fechar, colocar grade, mas não inibe. Agora isso da igreja... Aqui
está precisando de um policiamento. A gente fica apreensivo o tempo inteiro”,
comenta Eliane Conceição, 47, que há dois anos divide um ponto com o irmão.
Quando visitou a região, a reportagem foi
aconselhada duas vezes a guardar o celular ou se recolher num lugar
aparentemente mais seguro. Os relatos de roubos são comuns e a movimentação é
quase restrita a chegada de passageiros nas cinco linhas de ônibus .
“Já roubaram meu celular quase na porta de
casa. Sem segurança nenhuma”, afirma a funcionária pública Camila Dias,
43.
A Polícia Militar informou que o policiamento
na região é responsabilidade de 39ª Companhia Independente de Polícia Militar.
As rondas são ostensivas e realizadas por viaturas, afirma a corporação.
O empresário Sidney Haasintetiza o clima na
região: "Eu não tenho segurança nem na minha casa, nem na casa do Senhor
Jesus".
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Correio 24h
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