A Congregação para a
Educação Católica lançou na última segunda (10) um documento chamado “Homem e Mulher os criou”,
que traça uma abordagem
para as questões de gênero nas instituições católicas de
ensino. Também dá algumas diretrizes para a atuação de educadores católicos,
mesmo fora de instituições confessionais.
Segundo o Cardeal
Giuseppe Versaldi, prefeito da congregação, o documento procura diferenciar a
ideologia de gênero que, segundo o Papa Francisco pretende “impor-se como um
pensamento único que determine a educação infantil”, dos estudos de gênero, que
aprofundam adequadamente as diferenças entre homens e mulheres nas diversas
culturas. Essa diferença precisa ser estabelecida para que se possa abrir um
justo diálogo com as áreas de estudo, deixando de lado a imposição ideológica.
Partindo disso, o
cardeal afirma que “o documento traça a história, concentra-se em pontos de
encontro razoáveis e propõe
a visão antropológica cristã” como via para a educação.
O documento é dividido
em 3 partes principais: ouvir, analisar e propor. Abaixo, um breve resumo de
cada uma.
OUVIR
É uma seção de
diagnóstico.
Um breve histórico
demonstra como uma legítima preocupação pelo reconhecimento da igualdade de
homens e mulheres em dignidade acabou sendo manipulada ideologicamente para construir
uma identidade totalmente individualista e desvinculada da verdadeira
humanidade.
“Esta ideologia induz a
projetos educativos e a orientações legislativas que promovem uma identidade
pessoal e uma intimidade afetiva radicalmente desvinculada da diferença
biológica entre masculino e feminino. A identidade humana é entregue a uma
opção individualista, mutável com o tempo, expressão do modo de pensar e agir,
hoje difundido, que confunde « a liberdade genuína com a ideia de que cada um
julga como lhe parece, como se, para além dos indivíduos, não houvesse
verdades, valores, princípios que nos guiam, como se tudo fosse igual e tudo se
devesse permitir »”. (22)
ANALISAR
Essa seção considera, à
luz da razão, os motivos pelos quais a “ideologia
de gênero” deve ser entendida como um erro que vem tentando se impor
como resposta (evidentemente errada) à uma demanda justa da sociedade por igual
dignidade entre sexos e respeito aos indivíduos.
Aqui o documento fala da
impossibilidade de um terceiro “gênero” do ponto de vista médico/biológico,
aponta a importância da alteridade sexual para construção de identidade do
indivíduo e lembra que a complementariedade fisiológica entre homens e mulheres
é a única condição que torna viável a procriação.
O texto é claro ao
enfatizar que, embora se possa lançar mão de recursos técnicos para permitir a
geração de filhos entre pessoas do mesmo sexo, tal conduta não condiz com a
dignidade que se deve dar à reprodução humana.
“(...) o uso das
tecnologias não equivale à concepção natural, na medida que comporta manipulação
de embriões humanos, fragmentação da parentalidade, instrumentalização e/ou
mercantilização do corpo humano, sem esquecer a redução da criança a um objeto
de uma tecnologia científica”. (24)
PROPOR
Feita a identificação
dos problemas relacionados à “ideologia de gênero”, o documento propõe que a educação
católica retome a Antropologia Cristã como base para a estruturação do percurso
educativo.
“(...) sem uma
clarificação convincente da antropologia sobre a qual se funda o significado da
sexualidade e da afetividade não é possível estruturar de modo correto um
percurso educativo coerente com a natureza do homem como pessoa, com o fim de
orientá-lo para a plenitude da sua identidade sexual no contexto da vocação ao
dom de si. E o primeiro passo desta clarificação antropológica consiste no
reconhecimento que « também o homem possui uma natureza, que deve respeitar e
não pode manipular como lhe apetece ». (...)” (30)
O documento coloca
a família como “o lugar natural no qual a comunhão entre homens e mulheres
encontra plena atuação” (36) e, portanto, deve ser o grande ponto de referência
para a educação.
É pedido que as escolas
católicas, atuando com as famílias, tornem-se verdadeiras comunidades
educativas. Aos educadores católicos, o documento pede que mesmo atuando em
escolas não católicas, devem dar
“testemunho da verdade sobre a pessoa humana e estar a serviço da sua promoção”
(40).
*****
O documento finaliza
reconhecendo a existência de um grande desafio: o de acolher respeitosamente as
diferentes inclinações existentes hoje em dia, abrindo um diálogo franco e
sincero, mas propondo a única via que de fato responde às verdadeiras
exigências humanas.
A proposta cristã supera
qualquer tentativa ideológica de responder ao homem. Aos educadores católicos, pede-se
caridade e testemunho.
“Para além de qualquer
reducionismo ideológico ou relativismo homologante, as educadoras e os
educadores católicos – na correspondência à identidade recebida da inspiração
evangélica – são chamados a transformar positivamente os desafios atuais em
oportunidades, percorrendo os caminhos do acolhimento, da razão e da proposta
cristã, e também testemunhando com as modalidades da própria presença a
coerência entre as palavras e a vida.” (54)
O documento é lúcido e
riquíssimo! Se você trabalha com educação ou se interessa pelo tema, leia o
texto completo em português clicando aqui.
______________________
O Catequista
Nenhum comentário:
Postar um comentário