O Vaticano apresentou ao público no dia 17 de
junho, o "Instrumentum laboris", o documento que irá auxiliar os
Bispos e participantes do Sínodo da Amazônia, que acontece entre os dias 06 e
27 de outubro deste ano [1].
A expectativa, desde o anúncio do Sínodo,
ficou centrada em dois pontos: o celibato e a ordenação de mulheres. Muito se
especulou, e os que ousaram alertar sobre as manobras, os riscos e perigos,
eram logo descartados como histéricos. Mas, tudo agora parece confirmado.
Sobre o celibato, o documento estabelece o
seguinte: "Afirmando que o celibato é uma dádiva para a Igreja, pede-se
que, PARA AS ÁREAS MAIS REMOTAS DA REGIÃO, se estude a possibilidade da
ORDENAÇÃO SACERDOTAL DE PESSOAS IDOSAS, de preferência INDÍGENAS, respeitadas e
reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e
estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e
sustentem a vida cristã" (129, a, 2).
É evidente que uma proposta sobre o celibato
não seria colocada de forma radical, algo que escandalizasse os fiéis,
sobretudo com a polêmica que se arrasta, inclusive com autoridades
eclesiásticas levantando-se veementemente para defender a tradição da Igreja. A
mudança é gradativa, e o passo inicial pode estar aí: "PARA AS ÁREAS MAIS
REMOTAS DA REGIÃO, se estude a possibilidade da ORDENAÇÃO SACERDOTAL DE PESSOAS
IDOSAS, de preferência INDÍGENAS" [...].
Acontece que o interesse alegado -
"assegurar os Sacramentos", acompanhar e sustentar a "vida
cristã" - fica sob suspeita com a própria redação do documento e contradiz
toda a argumentação que os seus proponentes e entusiastas têm utilizado para
justificar a ordenação de homens casados. Se pregavam sobre a necessidade de
atender as tais "áreas remotas", percorrendo todas as comunidades e
tribos, como "pessoas idosas" darão conta de um trabalho tão exigente
e extenuante? Ademais. Como farão com o cuidado, a atenção e o sustento de suas
próprias famílias com as novas e rigorosas atribuições?
No que se refere à ordenação de mulheres, o "Instrumentum
laboris" não é nada claro: "Identificar o tipo de ministério oficial
que pode ser conferido à mulher, tendo em consideração o papel central que hoje
ela desempenha na Igreja amazônica" (129, a, 3). Essa imprecisão não parece
ser inocente.
A palavra final do Papa São João Paulo II, na
Carta Apostólica "Ordinatio Sacerdotalis", sempre foi levantada para
frear os intentos de ordenar "sacerdotisas". O diaconato feminino,
contudo, nunca saiu da pauta. Em 2016, o próprio Papa Francisco ordenou a criação
de uma comissão de estudos sobre o assunto; e, embora tenha recentemente
tergiversado sobre a conclusão dos estudos, na coletiva de imprensa dada a
bordo do voo que o trouxe de volta da Macedônia a Roma, o "Intrumentum
laboris" não deixa dúvida de que a possibilidade de ordenação de
diaconisas está aberta, no mínimo para "discussão". A propósito, a
ordenação de "diaconisas" - e também de "sacerdotisas" (!)
- foi um pedido da própria Regional Norte 1 da CNBB - Conferência dos Bispos,
com a publicação de uma carta da "assembleia territorial
pré-sinodal", que se reuniu exatamente em Manaus, na capital do estado do
Amazonas. Regional Norte 1 que tem como presidente Dom Mário Antônio da Silva,
agora o segundo vice-presidente da CNBB [2].
Enfim, no que diz respeito a esses dois
principais temas - o celibato e a ordenação de mulheres -, o Sínodo da Amazônia
vem para tentar o que alguns já apontavam: abrir as portas e introduzir já
certas mudanças significativas, na esperança de uma "revolução" ainda
maior no futuro. Os índios são apenas um pretexto. Trata-se de um verdadeiro
atentado "progressista" contra a Santa Igreja Católica.
Diálogo ecumênico e inter-religioso
Creio que a muitos já ouviram falar no
fenômeno da "protestantização" da Santa Igreja, identificando-o na
compreensão torta das Sagradas Escrituras por muitos fiéis e até padres, nas
celebrações da Santa Missa na sua paróquia e no comportamento dos próprios
católicos. Porém, eis aqui uma ocorrência das mais escabrosas, pois assumida em
um documento oficial do Vaticano.
No capítulo VI do "Instrumentum
laboris" do Sínodo da Amazônia, dedicado ao "Diálogo ecumênico e
inter-religioso" [3], um entusiasmo patente com o modo como
"pastores" nos "mostram outro modo de ser Igreja, onde O POVO SE
SENTE PROTAGONISTA, onde os fiéis podem EXPRESSAR-SE LIVREMENTE, SEM CENSURAS,
SEM DOGMATISMOS, NEM DISCIPLINAS RITUAIS".
É a celebração da heresia e do cisma, que
devem ser agora - com o Sínodo da Amazônia - fonte de inspiração para a Santa
Igreja. Porém, uma Igreja sem dogmas, Magistério e "disciplinas
rituais" - sem Liturgia - já não é Igreja. Trata-se de outra coisa. Mas, é
exatamente isso o que certas autoridades eclesiásticas e entusiastas do Sínodo
querem: destruir a Santa Igreja Católica. Duvida? Está aí a prova.
O Sínodo da Amazônia e a "Opção preferencial pelos Pobres"
O Sínodo da Amazônia e a "Opção preferencial pelos Pobres"
Mencionei a Teologia da Libertação na última
"nota" sobre o Sínodo da Amazônia. Por isso, cito aqui mais um trecho
do escandaloso "Instrumentum laboris". A passagem é um pouco extensa,
mas vale a pena lê-la - faço em seguida uma observação:
"A partir de sua encarnação, o encontro com Jesus Cristo se
realizou sempre no horizonte de um diálogo cordial, histórico e escatológico.
Ele tem lugar nos diferentes cenários do mundo plural e entrelaçado da
Amazônia. Inclui as relações políticas com os Estados, sociais com as
comunidades, culturais com as diferentes formas de viver e ecológicas com a
natureza e consigo mesmo. O diálogo procura o intercâmbio, o consenso e a
comunicação, os acordos e as alianças, 'mas sem perder de vista a questão
fundamental', ou seja, a 'preocupação por uma sociedade justa, capaz de memória
e sem exclusões' (EG, 239). Por isso, o diálogo tem sempre UMA OPÇÃO
PREFERENCIAL PELOS POBRES, marginalizados e excluídos. As causas da justiça e
da alteridade são causas do Reino de Deus. Não defendemos 'um projeto de poucos
para poucos, nem de uma minoria esclarecida' (ibidem). No diálogo estabelecemos
'um acordo para viver juntos, de um pacto social e cultural' (ibidem). Em
virtude deste pacto, a Amazônia representa um pars pro toto, um paradigma, uma
esperança para o mundo. O diálogo é o método que se deve aplicar sempre, para
favorecer o bem viver de todos. As principais questões da humanidade que
sobressaem na Amazônia não encontrarão soluções através da violência nem da
imposição, mas sim mediante o diálogo e a comunicação".
Observe, neste n. 37 do "Instrumentum
laboris", uma distorção escandalosa. O "diálogo" de Jesus Cristo
não é mais instrumento de conversão, para conduzir as pessoas - os índios ou
quem quer que seja (!) - à fé da Santa Igreja. "Diálogo" aqui (e
também no restante do documento) é instrumento para a construção de um projeto
político. A presença de um mantra da Teologia da Libertação não parece ser por
acaso: "UMA OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES" (cf. imagem). A expressão,
na "literatura" e no "apostolado" revolucionário, foi
sempre pregada em favor de um ideal político, para instigar uma "luta de
classes" contrária à fé da Igreja, condenada por Ela mesma, e que aparece
no próprio texto citado: "Não defendemos 'um projeto de poucos para
poucos, nem de uma minoria esclarecida". A palavra "diálogo",
que encanta e seduz tantas pessoas, serve apenas para maquiar essa "luta
de classes", - um projeto político -, falsamente anunciado com o nome de
Jesus Cristo.
Bruno Braga
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REFERÊNCIAS
[2] Cf. "A 57a. Assembleia Geral dos Bispos e a militância cnbbista", nota IV
[3] Cf. Capítulo VI, "Diálogo ecumênico e inter-religioso", 138
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