quinta-feira, 20 de junho de 2019

Considerações sobre o documento 'Instrumentum laboris' que auxiliará bispos no Sínodo da Amazônia


O Vaticano apresentou ao público no dia 17 de junho, o "Instrumentum laboris", o documento que irá auxiliar os Bispos e participantes do Sínodo da Amazônia, que acontece entre os dias 06 e 27 de outubro deste ano [1].

A expectativa, desde o anúncio do Sínodo, ficou centrada em dois pontos: o celibato e a ordenação de mulheres. Muito se especulou, e os que ousaram alertar sobre as manobras, os riscos e perigos, eram logo descartados como histéricos. Mas, tudo agora parece confirmado.

Sobre o celibato, o documento estabelece o seguinte: "Afirmando que o celibato é uma dádiva para a Igreja, pede-se que, PARA AS ÁREAS MAIS REMOTAS DA REGIÃO, se estude a possibilidade da ORDENAÇÃO SACERDOTAL DE PESSOAS IDOSAS, de preferência INDÍGENAS, respeitadas e reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã" (129, a, 2).

É evidente que uma proposta sobre o celibato não seria colocada de forma radical, algo que escandalizasse os fiéis, sobretudo com a polêmica que se arrasta, inclusive com autoridades eclesiásticas levantando-se veementemente para defender a tradição da Igreja. A mudança é gradativa, e o passo inicial pode estar aí: "PARA AS ÁREAS MAIS REMOTAS DA REGIÃO, se estude a possibilidade da ORDENAÇÃO SACERDOTAL DE PESSOAS IDOSAS, de preferência INDÍGENAS" [...].

 
Acontece que o interesse alegado - "assegurar os Sacramentos", acompanhar e sustentar a "vida cristã" - fica sob suspeita com a própria redação do documento e contradiz toda a argumentação que os seus proponentes e entusiastas têm utilizado para justificar a ordenação de homens casados. Se pregavam sobre a necessidade de atender as tais "áreas remotas", percorrendo todas as comunidades e tribos, como "pessoas idosas" darão conta de um trabalho tão exigente e extenuante? Ademais. Como farão com o cuidado, a atenção e o sustento de suas próprias famílias com as novas e rigorosas atribuições?

No que se refere à ordenação de mulheres, o "Instrumentum laboris" não é nada claro: "Identificar o tipo de ministério oficial que pode ser conferido à mulher, tendo em consideração o papel central que hoje ela desempenha na Igreja amazônica" (129, a, 3). Essa imprecisão não parece ser inocente.

A palavra final do Papa São João Paulo II, na Carta Apostólica "Ordinatio Sacerdotalis", sempre foi levantada para frear os intentos de ordenar "sacerdotisas". O diaconato feminino, contudo, nunca saiu da pauta. Em 2016, o próprio Papa Francisco ordenou a criação de uma comissão de estudos sobre o assunto; e, embora tenha recentemente tergiversado sobre a conclusão dos estudos, na coletiva de imprensa dada a bordo do voo que o trouxe de volta da Macedônia a Roma, o "Intrumentum laboris" não deixa dúvida de que a possibilidade de ordenação de diaconisas está aberta, no mínimo para "discussão". A propósito, a ordenação de "diaconisas" - e também de "sacerdotisas" (!) - foi um pedido da própria Regional Norte 1 da CNBB - Conferência dos Bispos, com a publicação de uma carta da "assembleia territorial pré-sinodal", que se reuniu exatamente em Manaus, na capital do estado do Amazonas. Regional Norte 1 que tem como presidente Dom Mário Antônio da Silva, agora o segundo vice-presidente da CNBB [2].

Enfim, no que diz respeito a esses dois principais temas - o celibato e a ordenação de mulheres -, o Sínodo da Amazônia vem para tentar o que alguns já apontavam: abrir as portas e introduzir já certas mudanças significativas, na esperança de uma "revolução" ainda maior no futuro. Os índios são apenas um pretexto. Trata-se de um verdadeiro atentado "progressista" contra a Santa Igreja Católica.

Diálogo ecumênico e inter-religioso

Creio que a muitos já ouviram falar no fenômeno da "protestantização" da Santa Igreja, identificando-o na compreensão torta das Sagradas Escrituras por muitos fiéis e até padres, nas celebrações da Santa Missa na sua paróquia e no comportamento dos próprios católicos. Porém, eis aqui uma ocorrência das mais escabrosas, pois assumida em um documento oficial do Vaticano.

No capítulo VI do "Instrumentum laboris" do Sínodo da Amazônia, dedicado ao "Diálogo ecumênico e inter-religioso" [3], um entusiasmo patente com o modo como "pastores" nos "mostram outro modo de ser Igreja, onde O POVO SE SENTE PROTAGONISTA, onde os fiéis podem EXPRESSAR-SE LIVREMENTE, SEM CENSURAS, SEM DOGMATISMOS, NEM DISCIPLINAS RITUAIS".

 
É a celebração da heresia e do cisma, que devem ser agora - com o Sínodo da Amazônia - fonte de inspiração para a Santa Igreja. Porém, uma Igreja sem dogmas, Magistério e "disciplinas rituais" - sem Liturgia - já não é Igreja. Trata-se de outra coisa. Mas, é exatamente isso o que certas autoridades eclesiásticas e entusiastas do Sínodo querem: destruir a Santa Igreja Católica. Duvida? Está aí a prova. 

O Sínodo da Amazônia e a "Opção preferencial pelos Pobres"

 

Mencionei a Teologia da Libertação na última "nota" sobre o Sínodo da Amazônia. Por isso, cito aqui mais um trecho do escandaloso "Instrumentum laboris". A passagem é um pouco extensa, mas vale a pena lê-la - faço em seguida uma observação:

"A partir de sua encarnação, o encontro com Jesus Cristo se realizou sempre no horizonte de um diálogo cordial, histórico e escatológico. Ele tem lugar nos diferentes cenários do mundo plural e entrelaçado da Amazônia. Inclui as relações políticas com os Estados, sociais com as comunidades, culturais com as diferentes formas de viver e ecológicas com a natureza e consigo mesmo. O diálogo procura o intercâmbio, o consenso e a comunicação, os acordos e as alianças, 'mas sem perder de vista a questão fundamental', ou seja, a 'preocupação por uma sociedade justa, capaz de memória e sem exclusões' (EG, 239). Por isso, o diálogo tem sempre UMA OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES, marginalizados e excluídos. As causas da justiça e da alteridade são causas do Reino de Deus. Não defendemos 'um projeto de poucos para poucos, nem de uma minoria esclarecida' (ibidem). No diálogo estabelecemos 'um acordo para viver juntos, de um pacto social e cultural' (ibidem). Em virtude deste pacto, a Amazônia representa um pars pro toto, um paradigma, uma esperança para o mundo. O diálogo é o método que se deve aplicar sempre, para favorecer o bem viver de todos. As principais questões da humanidade que sobressaem na Amazônia não encontrarão soluções através da violência nem da imposição, mas sim mediante o diálogo e a comunicação".

Observe, neste n. 37 do "Instrumentum laboris", uma distorção escandalosa. O "diálogo" de Jesus Cristo não é mais instrumento de conversão, para conduzir as pessoas - os índios ou quem quer que seja (!) - à fé da Santa Igreja. "Diálogo" aqui (e também no restante do documento) é instrumento para a construção de um projeto político. A presença de um mantra da Teologia da Libertação não parece ser por acaso: "UMA OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES" (cf. imagem). A expressão, na "literatura" e no "apostolado" revolucionário, foi sempre pregada em favor de um ideal político, para instigar uma "luta de classes" contrária à fé da Igreja, condenada por Ela mesma, e que aparece no próprio texto citado: "Não defendemos 'um projeto de poucos para poucos, nem de uma minoria esclarecida". A palavra "diálogo", que encanta e seduz tantas pessoas, serve apenas para maquiar essa "luta de classes", - um projeto político -, falsamente anunciado com o nome de Jesus Cristo. 


Bruno Braga
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REFERÊNCIAS

[3] Cf. Capítulo VI, "Diálogo ecumênico e inter-religioso", 138

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