Infidelidade
Entre tantos outros fatores que
geram conflitos e desafios na Família atual, destaca-se com muita intensidade a
infidelidade conjugal.
Em uma sociedade enaltecedora do
hedonismo, do consumismo e sobretudo da auto-realização prazerosa, a fidelidade
e muitos outros valores que durante muitos séculos foram basilares no que diz
respeito ao processo de realização humana, hoje perdem gradativamente seu valor
por conta de ideologias fomentadoras de pseudo-liberdades que visam
principalmente a realização e a felicidade subjetiva.
Neste contexto, os meios de
comunicação orientados por um sensacionalismo capitalista, acentuam com muita
relevância o erotismo e destacam as anomalias, as crise conjugais, a
infidelidade e o divorcio como algo muito natural e de acordo com as
circunstancias até mesmo convenientes e
necessário.
Por isso, a Família vem sofrendo
serias conseqüências por conta de uma crescente difusão da idéia que propaga a
fidelidade ilimitada do matrimonio como uma responsabilidade imposta ao homem
extremamente pesada e ao mesmo tempo corre o grande risco de tirar-lhe a
própria liberdade.
Diante deste cenário, se tem a
impressão que o ideal da realização familiar e conseqüentemente a construção de
uma sociedade mais justa fraterna e humana, está desmoronando, pois hoje se
corre o grande perigo de mergulharmos na infeliz pretensão egoísta do próprio
prazer, da auto realização.
Em nossos dias a televisão assim
como muitos outros meios de comunicação apresenta constantemente esse desejo
egocêntrico como a única possibilidade ou paradigma de realização e felicidade
existente.
Dessa forma o compromisso com a
fidelidade matrimonial é transformada em uma proposta que inibe e ao mesmo
tempo assusta as pessoas, daí vem a preferência pelas desastrosas uniões
descompromissadas que buscam a satisfação afetiva e sexual que geralmente
tornam-se transitórias e ao mesmo tempo frustrantes.
Hoje mais do que nunca se precisa
de homens e mulheres corajosos que proclamem através dos seus exemplos a
riqueza e a preciosidade de viver em uma Família feliz e consciente de que a
felicidade foi e sempre será proveniente da fidelidade, como enfatiza
veementemente o Santo Padre João Paulo II, às famílias em 1999 no Rio de
Janeiro:
Pais e famílias do mundo inteiro, deixai
que volo diga: Deus vos chama à
santidade! Ele mesmo escolheu-nos por Jesus Cristo, antes da criação do
mundo, nos diz São Paulo, para que sejamos santos na sua presença. Ele vos ama
loucamente, deseja a vossa felicidade, mas quer que saibais conjugar sempre a
fidelidade com a felicidade, pois não pode haver uma sem a outra.( ).
Estas duas palavras Felicidade e
Fidelidade estão intimamente ligas e são tão parecidas que não podem ser
dissociadas tanto ao serem focalizadas como na realidade da vida, assim afirma
Cifuentes:
Fidelidade. Felicidade. Pode-se começar
por qualquer uma dessas duas palavras, que se terminará na outra. Não apenas as
palavras, mas os conceitos, as realidade, as vivencias: entrelaçam-se e
completam-se. Não podem viver uma sem a outra. Casam-se, confundem-se
foneticamente, comprometem-se poeticamente. Fidelidade, Felicidade; Felicidade,
Fidelidade; compõem o poema da vida. (CIFUENTES, 1995).
Atrelado à infidelidade está o
que o jurista italiano Béria di Argentine conceituou como Síndrome da Subjetividade, nela o principal interesse em um
matrimonio não consiste na busca da objetividade, mas única e exclusivamente o
resultado subjetivo, ou seja, um perseguir excessivo do seu próprio beneficio.
O Divórcio
A essência do amor conjugal
converge naturalmente para a realização do bem do outro cônjuge, existe entre
eles um esforço continuo para que haja em sua relação cotidiana um autentico
crescimento mútuo como pessoa humana, isso leva-nos a afirmar que
ontologicamente todos os homens e mulheres, aspiram a um amor que os unam, e
não morra jamais.
Contrariamente ao que citamos a
cima o divorcio se manifesta como um dos principais conflitos ou desafios que
ameaça profundamente o matrimônio e consequentemente a harmonia familiar.
Ao permitir facilmente a mudança
de esposo ou esposa o divórcio fomenta e estimula a superficialidade
matrimonial, ou seja, casamentos de ocasiões, experiências matrimonias
desprovidas de compromisso, ou o que podemos chamar de “se der certo eu permaneço”.
Com o divorcio, o senso de
responsabilidade entra em uma profunda crise, enfraquece e aos pouco desaparece
ou morre, daí surge a crescente quantidade de casamentos levianos, que por sua
vez, transformam o amor sexual em um simples prazer erótico-carnal, quando este
prazer chega ao fim decreta automaticamente também o fim do matrimonio. A
concepção divorcista legitima o fim do matrimonio e ao mesmo tempo possibilita
novas emoções, prazeres a serem desfrutados em um novo ambiente matrimonial.
Na concepção divorcista não há
lugar para alguns elementos que são considerados basilares na estrutura de um
verdadeiro matrimonio tais como: o espírito de doação, de serviço, de
sacrifício e o espírito do verdadeiro
amor. Ao contrario, o amor que os direciona é um amor egocêntrico, narcisista e
interesseiro, daí o desinteresse por gerar filhos como afirma Mario G. Reis:
Por isso, o amor aos filhos quase sempre gerados sem
serem desejados, não tem a força
suficiente para impedir o divorcio, o que provoca na prole trauma psicológicos
e emocionais, e consequentemente deformação de suas personalidades” (REIS,
1975, p.14).
Ao debilitar o amor sexual o
divorcio leva conseqüentemente os cônjuges a um profundo repudio ao desejo de
ter filhos, ou seja, não se ter filhos significa estar mais livre e
disponíveis, para uma suposta separação, por isso o divorcio antes mesmo de
acontecer já causa conseqüências drásticas em um matrimonio. Assim enfatiza o
Diretório da Pastoral Familiar:
A simples perspectiva do divorcio tende
a diminuir o numero de filhos. Evidentemente, o que percebemos aqui é que o
divorcio, antes mesmo de se dissolver, já esteriliza os lares. Igualmente, essa
causa originadoras da baixa natalidade, as encontra presentes em confronto com
o problema do aborto. (DIRETÓRIO DA PASTORAL FAMILIAR, 2005, p. 82).
Por outro lado, se tem
consciência de que o problema do divorcio não se restringe unicamente ao âmbito
religioso, e muito menos ao catolicismo, mas é um problema que atinge
profundamente a raiz do matrimonio enquanto instituição básica da sociedade,
portanto esta é uma questão tanto religiosa quanto social, ou seja as
conseqüências oriundas do divorcio na família repercute diretamente na
sociedade, como afirma Mario G. Reis:
Também revelam as estatísticas, nos
paises onde há divorcio, que a maior percentagem de pessoas que vão à loucura,
ou ao suicídio são divorciadas. Tudo isto era e é perfeitamente previsível,
porquanto o amor egoísta só pode gerar famílias desorganizadas, infelizes, que
por sua vez, desorganizam e infelicitam
a sociedade. (REIS, 1975, p. 18).
O divorcio por natureza gera uma
mentalidade essencialmente oposta ao
plano de Deus, este por sua vez, possibilita um amor profundamente egoísta que
ao mesmo tempo tende a uma infecundidade, criando dessa forma um ambiente
familiar sem vida, desumanizante e degradante socialmente falando.
A simples possibilidade do
divorcio muitas vezes se torna mais danosa à família do que o próprio ato real
do divorcio, como afirma Luiz José de Mesquita, “o divórcio não é somente
efeito como querem os divorcistas, mas, e principalmente causa da desunião
entre os cônjuges e desarmonia familiar”.
Na concepção divorcista também se
abre a possibilidade para um regime que por sua vez adequa a subversão das leis
reguladoras do prazer sexual no casamento. Portanto, pode-se afirmar que a
legalização do divorcio abre um grande e perigoso espaço para o que podemos
conceituar como reinado das conquistas do comercio no amor conjugal, ou seja, o
império das mudanças e das liberdades no amor, assim afirma Luis José de
Mesquita: “é o regime do amor conjugal livre, em que o mais hábio conquistador ou conquistadora pode tomar
para si aquela ou aquele que lhe não pertence e mais lhe apetece”.
A lei divorcista, por sua vez, fomenta
exacerbadamente a concupiscência, elimina gradativamente o desejo de ter filhos,
enaltece o amor subjetivo e gradativamente vai decretando a morte do matrimonio
e conseqüentemente da própria instituição familiar.
Pistas do Aconselhamento Pastoral
frente aos Conflitos e Desafios
Familiar.
Diante de uma grande variedade de
conflitos e desafios existentes na
pratica cotidiana da família contemporânea, o Aconselhamento Pastoral busca
orientar ou apontar luzes que venham favorecer o processo de reabilitação e
crescimento familiar que se encontra num
contexto social profundamente fragmentado.
Segundo Nathan Ackerman, “a
família é um organismo ou um sistema social”. A família como organismo
conseqüentemente terá uma identificação psicológica exclusiva, ou seja, a
identidade do casal será estendida como paradigma para a família inteira, na
medida em que vão surgindo os filhos, por isso ele afirma:
É a interação, a fusão e a
rediferenciação das individualidades dos parceiros desse par conjugal que
moldam a identidade da nova família. tal como a personalidade de uma criança
interioriza algo de cada pai / mãe e igualmente evolui para algo novo, assim
também a identidade de uma nova família incorpora algo da auto-imagem de cada
parceiro conjugal e da imagem de suas respectivas famílias de origem para
igualmente desenvolver algo exclusivo e nono. (ACKERMAN apud CLINEBELL, 1987,
p.274)
Por outro lado, o aconselhamento
propõe à Igreja algumas medidas que podem contribuir no trabalho em torno de
toda essa problemática familiar. Como por exemplo: constituir um ministério familiar
que por sua vez venha possibilitar um verdadeiro vinculo de apoio às outras
famílias em crise.
Em seu objetivo também se contempla a busca
profunda pela unidade familiar, pois em uma sociedade da natureza da que
fazemos parte, a qual processualmente caminha para uma profunda decadência e
fragmentação aumenta constantemente a necessidade de investir-se em programas
que viabilize as famílias sentimentos de pertença e de verdadeiras comunidades.
A busca incessante pelo
fortalecimento recíproco da auto-estima em todos os membros da família.
Uma outra proposta do
Aconselhamento consiste na Terapia Familiar Conjunta ou em Grupo. Este método, ao longo de alguns anos vem
se tornando um dos mais eficazes no que diz respeito aos sérios e profundos problemas familiares, pois este ao perceber um
problema individualmente de uma pessoa busca sua resolução a partir das relações
entre todos os outros da família, como afirma Jay Haley:
A psicopatologia no individuo é produto
da maneira pela qual ele lida com realaçoes íntimas, da maneira pela qual estas
lidam com ele e da maneira pela qual outros membros da família o envolvem em
suas relações m tuas.
Além disso, o aparecimento de conduta sintomática num individuo é necessária
para que determinado sistema familiar continuo funcionanado. Por isso mudança
no individuo somente pode ocorrer caso mude o sistema familiar. (HALEY, 1987 apud
CLINEBELL, 1987 p.284).
Na verdade a Terapia Familiar
parte do seguinte pressuposto: a forma mais efetiva e eficaz no processo de
ajuda ou orientação à uma determinada pessoa que por ventura esteja passando
por um dado problema é proporcionar ajudar à família como um todo.
A família inteira é convidada a
mudar sua relação e sua comunicação, pois o grande objetivo da Terapia Familiar
é sempre melhorar o relacionamento e a vida dentro da família, de forma que
esta seja transformada em lugar de crescimento e cura para todos os membros da família.
A Terapia Familiar por sua vez,
busca ajudar toda família a aprender estabelecer uma comunicação, clara, aberta
e autêntica independentemente de qualquer que sejam as circunstâncias, seja
elas positivas ou negativas na vida da Família.
Procura proporcionar também meios
através dos quais se fala de forma congruente sobre desejos, esperanças e
valores comuns.
Por outro lado, nesta terapia, o
membro que de antemão era identificado como o problemático não pode ser visto
como o principal focalizado, pois aqui toda a família torna-se o centro desta
focalização, ou seja, procura-se em todos os membros da mesma Família os
fatores que causam bloqueio no desenvolvimento das relações entre eles e a
pessoa portadora do problema acima citada.
Busca-se também, alargar o espaço
do sistema Familiar, que por sua vez, procura proporcionar um desenvolvimento
de relações que mantenham apoio com outras pessoas, grupos, outras famílias e
instituições.
Entre outros pressupostos
propostos pelo Aconselhamento pastoral para uma vida familiar equilibrada se
encontra o empenho por uma estruturação autêntica e eficaz no período
pre-matrimonial destacando os verdadeiros valores da vida conjugal,como
suporte, ou apoio no percurso da toda a vida do casal, nesta fase os futuro
casais precisam de incentivo, não só do ponto de vista teórico, mas sobretudo da
prática do cotidiano dos das famílias que constituem aquela comunidade.
Os cursos de preparação de noivos
deve despertar nos mesmos a sensibilidade para o papel de educadores, transmissores
dos valores tanto humanos quanto evangélicos, pois a responsabilidade com a
tarefa educativa será sempre uma missão sagrada e insubstituível.
Por outro lado, o Aconselhamento busca exortar a
Igreja a responsabilizar-se na promoção do processo formativo continuo no que
diz respeito à vida conjugal, familiar e comunitário. Aqui pode-se pensar
em organização de eventos festivos,
cursos que possibilite uma maior compreensão das coordenadas do mundo
contemporâneo e suas implicações na vida da família, proporcionar encontros nos
quais se exercite estudos e trabalhos em grupos e comunitariamente.
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