Todos os casos de pastores anglicanos casados que
se uniram à Igreja Católica através de um ordinariato anglo-católico
implicam numa viagem espiritual e num sentido de "filho pródigo", mas
o itinerário do padre Edward Meeks e sua esposa Jan é dos mais tortuosos, e sua
acolhida na Igreja católica foi especialmente generosa.
E é porque ambos cônjuges do matrimônio Meeks se
criaram como católicos e de fato foram católicos muito comprometidos.
Depois peregrinaram por 3 denominações protestantes
distintas até que, com assombro e agradecimento, Ed foi ordenado sacerdote
católico em 23 de junho de 2012; no dia seguinte ingressaram na Igreja Católica
140 paroquianos de sua comunidade anglicana, Christ the King.
Um casal
católico e generoso
O testemunho deste matrimônio o conta a esposa,
Jan. E, 1977, ela tinha 26 anos, e Edward tinha 30. Estavam felizmente casados
e tinham dois filhos pequenos. Edward e Jan se tinham criado como católicos.
Ele inclusive foi seminarista uns poucos anos.
Sendo coroinha tinha sentido o "chamado"
do altar. Mas deixou o seminário. Antes de casar-se, os dois jovens tinham
colaborado como voluntários com o Lar Infantil São Vicente de Paulo. Neste ano
eles começaram a acolher bebês "temporalmente" em colaboração com
este lar infantil e com Catholic Charities, até que encontrassem uma família
adotiva definitiva. Era muito difícil para Jan, que se afeiçoava muito com os
bebês e chorava ao entregá-los.
Foi nessa época quando Jan escutou umas pregações
gravadas da irmã Briege McKenna (religiosa irlandesa autora do popular livro
"Os milagres existem"), que tocaram seu coração com sua exortação:
"Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida, entregue-se completamente a Ele".
Jan foi uma cristiana "que cumpria", mas
agora "meu coração ardia, Jesus estava nas Escrituras, na missa, nos
sacramentos, em minha alma e eu não o tinha visto antes". Graças à
pregação da irmã Briege McKenna, "essa noite entreguei minha vida completamente
a Jesus".
Sua casa se abriu. Adotaram um dos bebês que
cuidavam. Acolheram uma garota grávida e seu bebê em seu lar durante mais
de dois anos enquanto se reconciliava com sua família. E depois outras grávidas
em apuros. Formaram parte do grupo de oração carismática de sua paróquia, onde
aprenderam muito da Bíblia, oração e louvor.
Como então
se afastaram da Igreja Católica?
Fé, entusiasmo... e confusão
Jan não dá muitos detalhes e se remete à época,
muito confusa. "Os anos 70 estavam cheios de todo tipo de inovações
litúrgicas e ensinamentos privados que estavam em contraste com o Magistério e
as Escrituras. Ainda não tinha sido publicado o Catecismo da Igreja Católica e
nosso renovado zelo por Deus superou nosso amadurecimento espiritual. Esses
fatores, tristemente, nos afastaram da Igreja Católica", explica.
Na Assembleia de Deus, uma das maiores denominações
protestantes pentecostais, encontraram um ambiente muito de seu gosto: oração
carismática e trabalho pró-vida de acolhida a crianças e grávidas com problemas.
Em 1985 fundaram um lar para adolescentes grávidas
chamado Sparrow House (Casa do Pardal): Jan, Edward e seus 4 filhos viviam ali
com as garotas e seus bebês. O pastor de sua comunidade encarregou Edward
para que trabalhasse neste serviço em tempo completo. Mesmo que um tempo depois
a família deixasse de conviver na mesma casa que as garotas, trabalharam nesse
ministério eclesial quase 25 anos.
Logo a Assembleia de Deus deu a Edward o título de
ministro: era bom pregador e tinha capacidades pastorais e de administração.
Usava essas capacidades para servir os demais e sua comunidade cristã.
Isso lhe enchia de alegria, mas notava que lhe faltava algo: ansiava pela
Eucaristia e a vida sacramental, algo que Assembleia de Deus não podia
dar.
Buscando algo
carismático e litúrgico desta vez
Edward deixou suas tarefas eclesiais durante um ano
de reflexão, trabalhando como executivo em uma empresa. E a família tomou a
decisão de entrar em outra comunidade: a Igreja Episcopal Carismática.
Tratava-se de uma igreja similar na forma da
anglicana (liturgia, bispos, sacerdotes, ordenações, vestimentas), com doutrina
pró-vida e pró-família, e estilo e teologia carismáticos. Protestantes
carismáticos com vontade de "algo litúrgico", ou anglicanos litúrgicos
com desejos de "algo carismático", podiam chegar ali e sentir-se
cômodos. Foi "ordenado sacerdote" por um bispo desta congregação e
fundou uma comunidade na cidade de Towson em 1996 chamada Christ the King
(Cristo Rei).
Ao passar dos anos, o reverendo Edward, sua família
e toda sua comunidade de Christ the King foram refletindo mais e mais sobre o
chamado de Jesus à unidade, e o papel chave da Igreja Católica nessa unidade.
Em 2008, toda Christ the King, com o casal Meeks à
frente, se afiliaram como paróquia na Comunhão Tradicional Anglicana, uma rede
mundial de comunidades anglicanas conservadoras que falavam de seu desejo de
unidade com Roma.
O Papa Bento
moveu a peça: os ordinariatos
E em 2009 chegou a surpresa: o Papa Bento XVI abriu
uma porta especial para grupos de anglicanos que quisessem entrar em plena
comunhão com a Igreja Católica mantendo aspectos de sua herança cultural e
litúrgica, a constituição "Anglicanorum Coetibus", que permitia criar
ordinariatos anglo-católicos.
Hoje existem três: um nas Ilhas Britânicas, outro
na América do Norte e outro na Austrália, que somam vários milhares de
ex-anglicanos, incluindo mais de duzentos antigos pastores e ministros.
Para os paroquianos de Christ the King era um sonho
feito realidade. Edward foi o pastor que preparou suas ovelhas para
"cruzar o Tibre até Roma", a união com a Igreja que Cristo fundou
sobre Pedro, o Portador das Chaves do Reino.
Em 2010 Edward pôs sua comunidade para
estudar os aspectos do catolicismo mais difíceis para os cristãos chegados de
outras tradições: a veneração de Maria, a intercessão dos santos, a purificação
após a morte que comenta São Paulo em suas cartas e os católicos modernos
chamam de "Purgatório", o Primado de Pedro, etc...
Um caso
complicado: eram ex-católicos
Em 2011, o reverendo Edward pedia formalmente seu
ingresso no ordinariato norte-americano como clérigo, mas parecia difícil
que lhe concedessem.
Ele não era um pastor anglicano "de toda a
vida" casado: era um ex-católico, que apesar de ter estado em outras
igrejas e apesar de estar casado, pedia para ser admitido e ordenado como
clérigo católico.
Mas, por outro lado, ele tampouco era um ex-padre,
nem seu passado era o de um clérigo rebelde ao seu bispo católico: quando os
Meeks se fizeram pentecostais eram simples leigos. E agora estavam há 15 anos
liderando uma congregação que queria fazer-se católica em bloco.
A alegria de Jan, Edward e toda sua congregação foi
grande quando de Roma chegaram três notas especiais: uma o dispensava do
impedimento do cisma (por ser um católico que foi para uma congregação
protestante); outra permitia sua ordenação apesar de ser um homem casado; a
terceira concluía que nada impedia ordenar como sacerdote a Edward. Era uma
resposta realmente generosa do Vaticano à petição de um filho que voltava
para casa e queria servir a Igreja como sacerdote.
Uma nova
etapa
Aos 6 dias depois de receber as notificações, o
bispo Mitchell Rozanski o ordenou diácono, e sete dias depois o cardeal Wuerl o
ordenava sacerdote.
No dia seguinte, toda a paróquia de Christ the King
entrava em plena comunhão com a Igreja Católica.
Eram 140 pessoas: um terço tinham sido católicos em
sua infância ou juventude e agora se reconciliavam com a Igreja Católica. Os
outros eram de origens protestantes, ou inclusive mais diversos: o
"Baltimore Sun" afirmava que a senhora Sheila Schmolitz, de 75 anos,
e sua prima Anita Goldman, de 74, eram de origem judia, mas agora já eram
católicas recém confirmadas.
"Sem exceção, os leigos católicos nos
receberam de braços abertos, em muitas ocasiões falei da reação local ao
nosso retorno como filhos pródigos: mataram o novilho cevado,
puseram um anel em nosso dedo", escreve Jan, muito agradecida.
À direita Jan Meeks, em oração, no dia em que a paróquia ingressou em plena comunhão com a Igreja Católica; ao seu lado, sua filha e seu genro. |
"Agora nossa paixão é animar os católicos que,
como nós, por alguma razão ou outra deixaram a Igreja e desejam voltar de novo
para casa. Em poucas semanas depois de serem recebidos como paróquia na Igreja,
houve indivíduos e famílias que tinham estado longe da Igreja durante 30 anos
que chegaram buscando reconciliar-se. Saber que também nós tínhamos deixado a
Igreja e tínhamos voltado lhes dava certo nível de confiança ao aproximar-se de
Ed para o sacramento da Reconciliação".
"Como fomos bem recebidos, também nós demos as
boas vindas àqueles que possam se sentir inseguros, titubeantes ou
assustados de voltar para casa, a Santa Madre Igreja", anima Jan.
"Para nós é o momento de matar o novilho cevado, de comer e fazer festa e ficarmos
alegres, porque encontramos o que estava perdido. Pode voltar para casa!"
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Trocando de
Veste
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