quarta-feira, 28 de outubro de 2015

De católicos a pentecostais, depois anglo-carismáticos e outra vez católicos, com toda sua paróquia!


Todos os casos de pastores anglicanos casados que se  uniram à Igreja Católica através de um ordinariato anglo-católico implicam numa viagem espiritual e num sentido de "filho pródigo", mas o itinerário do padre Edward Meeks e sua esposa Jan é dos mais tortuosos, e sua acolhida na Igreja católica foi especialmente generosa.

E é porque ambos cônjuges do matrimônio Meeks se criaram como católicos e de fato foram católicos muito comprometidos.

Depois peregrinaram por 3 denominações protestantes distintas até que, com assombro e agradecimento, Ed foi ordenado sacerdote católico em 23 de junho de 2012; no dia seguinte ingressaram na Igreja Católica 140 paroquianos de sua comunidade anglicana, Christ the King.

Um casal católico e generoso


O testemunho deste matrimônio o conta a esposa, Jan. E, 1977, ela tinha 26 anos, e Edward tinha 30. Estavam felizmente casados e tinham dois filhos pequenos. Edward e Jan se tinham criado como católicos. Ele inclusive foi seminarista uns poucos anos.

Sendo coroinha tinha sentido o "chamado" do altar. Mas deixou o seminário. Antes de casar-se, os dois jovens tinham colaborado como voluntários com o Lar Infantil São Vicente de Paulo. Neste ano eles começaram a acolher bebês "temporalmente" em colaboração com este lar infantil e com Catholic Charities, até que encontrassem uma família adotiva definitiva. Era muito difícil para Jan, que se afeiçoava muito com os bebês e chorava ao entregá-los.

Foi nessa época quando Jan escutou umas pregações gravadas da irmã Briege McKenna (religiosa irlandesa autora do popular livro "Os milagres existem"), que tocaram seu coração com sua exortação: "Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida, entregue-se completamente a Ele".

Jan foi uma cristiana "que cumpria", mas agora "meu coração ardia, Jesus estava nas Escrituras, na missa, nos sacramentos, em minha alma e eu não o tinha visto antes". Graças à pregação da irmã Briege McKenna, "essa noite entreguei minha vida completamente a Jesus".

Sua casa se abriu. Adotaram um dos bebês que cuidavam. Acolheram  uma garota grávida e seu bebê em seu lar durante mais de dois anos enquanto se reconciliava com sua família. E depois outras grávidas em apuros. Formaram parte do grupo de oração carismática de sua paróquia, onde aprenderam muito da Bíblia, oração e louvor. 

Como então se afastaram da Igreja Católica?

Fé, entusiasmo... e confusão

Jan não dá muitos detalhes e se remete à época, muito confusa. "Os anos 70 estavam cheios de todo tipo de inovações litúrgicas e ensinamentos privados que estavam em contraste com o Magistério e as Escrituras. Ainda não tinha sido publicado o Catecismo da Igreja Católica e nosso renovado zelo por Deus superou nosso amadurecimento espiritual. Esses fatores, tristemente, nos afastaram da Igreja Católica", explica.

Na Assembleia de Deus, uma das maiores denominações protestantes pentecostais, encontraram um ambiente muito de seu gosto: oração carismática e trabalho pró-vida de acolhida a crianças e grávidas com problemas.

Em 1985 fundaram um lar para adolescentes grávidas chamado Sparrow House (Casa do Pardal): Jan, Edward e seus 4 filhos viviam ali com as garotas e seus bebês. O pastor de sua comunidade encarregou  Edward para que trabalhasse neste serviço em tempo completo. Mesmo que um tempo depois a família deixasse de conviver na mesma casa que as garotas, trabalharam nesse ministério eclesial quase 25 anos.

Logo a Assembleia de Deus deu a Edward o título de ministro: era bom pregador e tinha capacidades pastorais e de administração. Usava essas capacidades para servir os demais e   sua comunidade cristã. Isso lhe enchia de alegria, mas notava que lhe faltava algo: ansiava  pela Eucaristia e a vida sacramental, algo que Assembleia  de Deus não podia dar.

Buscando algo carismático e litúrgico desta vez

Edward deixou suas tarefas eclesiais durante um ano de reflexão, trabalhando como executivo em uma empresa. E a família tomou a decisão de entrar em outra comunidade: a Igreja Episcopal Carismática.

Tratava-se de uma igreja similar na forma da anglicana (liturgia, bispos, sacerdotes, ordenações, vestimentas), com doutrina pró-vida e pró-família, e estilo e teologia carismáticos. Protestantes carismáticos com vontade de "algo litúrgico", ou anglicanos litúrgicos com desejos de "algo carismático", podiam chegar ali e sentir-se cômodos. Foi "ordenado sacerdote" por um bispo desta congregação e fundou uma comunidade na cidade de Towson em 1996 chamada Christ the King (Cristo Rei).

Ao passar dos anos, o reverendo Edward, sua família e toda sua comunidade de Christ the King foram refletindo mais e mais sobre o chamado de Jesus à unidade, e o papel chave da Igreja Católica nessa unidade.

Em 2008, toda Christ the King, com o casal Meeks à frente, se afiliaram como paróquia na Comunhão Tradicional Anglicana, uma rede mundial de comunidades anglicanas conservadoras que falavam de seu desejo de unidade com Roma.

O Papa Bento moveu a peça: os ordinariatos

E em 2009 chegou a surpresa: o Papa Bento XVI abriu uma porta especial para grupos de anglicanos que quisessem entrar em plena comunhão com a Igreja Católica mantendo aspectos de sua herança cultural e litúrgica, a constituição "Anglicanorum Coetibus", que permitia criar ordinariatos anglo-católicos.

Hoje existem três: um nas Ilhas Britânicas, outro na América do Norte e outro na Austrália, que somam vários milhares de ex-anglicanos, incluindo mais de duzentos antigos pastores e ministros.

Para os paroquianos de Christ the King era um sonho feito realidade. Edward foi o pastor que preparou  suas ovelhas para "cruzar o Tibre até Roma", a união com a Igreja que Cristo fundou sobre Pedro, o Portador das Chaves do Reino.

Em 2010 Edward pôs  sua comunidade para estudar os aspectos do catolicismo mais difíceis para os cristãos chegados de outras tradições: a veneração de Maria, a intercessão dos santos, a purificação após a morte que comenta São Paulo em suas cartas e os católicos modernos chamam de "Purgatório", o Primado de Pedro, etc...

Um caso complicado: eram ex-católicos

Em 2011, o reverendo Edward pedia formalmente seu ingresso no  ordinariato norte-americano como clérigo, mas parecia difícil que lhe concedessem.

Ele não era um pastor anglicano "de toda a vida" casado: era um ex-católico, que apesar de ter estado em outras igrejas e apesar de estar casado, pedia para ser admitido e ordenado como clérigo católico.

Mas, por outro lado, ele tampouco era um ex-padre, nem seu passado era o de um clérigo rebelde ao seu bispo católico: quando os Meeks se fizeram pentecostais eram simples leigos. E agora estavam há 15 anos liderando uma congregação que queria fazer-se católica em bloco.

A alegria de Jan, Edward e toda sua congregação foi grande quando de Roma chegaram três notas especiais: uma o dispensava do impedimento do cisma (por ser um católico que foi para uma congregação protestante); outra permitia sua ordenação apesar de ser um homem casado; a terceira concluía que nada impedia ordenar como sacerdote a Edward. Era uma resposta realmente generosa do  Vaticano à petição de um filho que voltava para casa e queria servir a Igreja como sacerdote.

Uma nova etapa

Aos 6 dias depois de receber as notificações, o bispo Mitchell Rozanski o ordenou diácono, e sete dias depois o cardeal Wuerl o ordenava sacerdote.

  
No dia seguinte, toda a paróquia de Christ the King entrava em plena comunhão com a Igreja Católica.

Eram 140 pessoas: um terço tinham sido católicos em sua infância ou juventude e agora se reconciliavam com a Igreja Católica. Os outros eram de origens protestantes, ou inclusive mais diversos: o "Baltimore Sun" afirmava que a senhora Sheila Schmolitz, de 75 anos, e sua prima Anita Goldman, de 74, eram de origem judia, mas agora já eram católicas recém confirmadas. 

"Sem exceção, os leigos católicos nos  receberam de braços abertos, em muitas ocasiões falei da reação local ao nosso retorno como filhos pródigos:  mataram o novilho cevado,  puseram um anel em nosso dedo", escreve Jan, muito agradecida.

À direita Jan Meeks, em oração, no dia em que a paróquia ingressou em  plena comunhão com a Igreja Católica; ao seu lado, sua filha e seu genro.

"Agora nossa paixão é animar os católicos que, como nós, por alguma razão ou outra deixaram a Igreja e desejam voltar de novo para casa. Em poucas semanas depois de serem recebidos como paróquia na Igreja, houve indivíduos e famílias que tinham estado longe da Igreja durante 30 anos que chegaram buscando reconciliar-se. Saber que também nós tínhamos deixado a Igreja e tínhamos voltado lhes dava certo nível de confiança ao aproximar-se de Ed para o sacramento da Reconciliação".

"Como fomos bem recebidos, também nós demos as boas vindas   àqueles que possam se sentir  inseguros, titubeantes ou assustados de voltar para casa, a Santa Madre Igreja", anima Jan. "Para nós é o momento de matar o novilho cevado, de comer e fazer festa e ficarmos alegres, porque encontramos o que estava perdido. Pode voltar para casa!"
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Trocando de Veste

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