DISCURSO
Sua Santidade,
Eminências, Excelências, participantes do Sínodo, proponho essas três reflexões:
1)
Mais transparência e respeito entre nós
Sinto uma forte
necessidade de invocar o Espírito da Verdade e do Amor, a fonte de parresia ao
falar e humildade ao ouvir, o Único capaz de criar a verdadeira harmonia na
pluralidade.
Digo francamente
que no Sínodo anterior, sentia-se, em diversos temas, a tentação de ceder à mentalidade do
mundo secularizado e do Ocidente individualista. Reconhecer as supostas
“realidades da vida” como um locus theologicus [lugar teológico] significa desistir
da esperança no poder transformador da fé e do Evangelho.
O Evangelho que
outrora transformava culturas agora está em perigo de ser transformado por
elas. Além disso, alguns dos procedimentos utilizados não pareciam visar o
enriquecimento da discussão e comunhão tanto quanto o fizeram para promover uma
maneira de ver típica de certos grupos marginais das igrejas abastadas. Essa
mentalidade é contrária a uma Igreja pobre e a um sinal alegremente evangélico
e profético de contradição ao espírito do mundo. Não se pode compreender que
algumas declarações que não encontram o consenso da maioria qualificada do
último Sínodo ainda tenham entrado na Relatio e, em seguida, na Lineamenta e no Instrumentum laboris,
enquanto outras questões candentes e muito atuais (como, por exemplo, a
ideologia de gênero) foram ignoradas.
Portanto, a primeira
esperança é que, em nosso trabalho, haja mais liberdade, transparência e
objetividade. Por isso, seria proveitoso publicar os resumos das intervenções,
para facilitar a discussão e evitar qualquer preconceito ou discriminação na
aceitação dos pronunciamentos dos Padres Sinodais.
2) Discernimento da
história e dos espíritos
Uma segunda
esperança: Que o Sínodo honre a sua missão
histórica e não se limite a
falar somente sobre determinadas questões pastorais (como, por exemplo, a
eventual comunhão aos divorciados e recasados), mas auxilie o Santo Padre
a enunciar claramente determinadas verdades e dar orientação útil em nível
global. Isso porque há novos desafios em relação ao sínodo celebrado em 1980.
Um discernimento teológico nos permite ver em nosso tempo duas ameaças inesperadas (quase como duas “bestas do
apocalipse”) localizadas em lados opostos: por um lado, a idolatria da
liberdade ocidental; do outro, o fundamentalismo islâmico: secularismo ateísta
versus fanatismo religioso. Para usar um slogan, encontramo-nos entre “a ideologia de gênero e o ISIS”.
Massacres islâmicos e exigências libertárias normalmente disputam a primeira
página dos jornais. (Lembremo-nos do que aconteceu no último dia 26 de junho!).
Desses dois radicalismos surgem duas ameaças maiores para a família: sua
desintegração subjetivista no Ocidente secularizado através do divórcio rápido
e fácil, o aborto, as uniões homossexuais, a eutanásia, etc. (cf. Teoria de gênero, o ‘Femen’, o
lobby LGBT, a IPPF…). Por outro lado, a pseudo-família do Islã
ideologizado, que legitima a poligamia, a subserviência feminina, a escravidão
sexual, o casamento infantil etc. (cf.
Al Qaeda, Isis, Boko Haram ...)
Várias pistas nos
possibilitam intuir a mesma origem
demoníaca desses dois movimentos. Diversamente do Espírito da Verdade,
que promove a comunhão na diversidade (perichoresis),
esses movimentos estimulam a confusão (homo-gamy)
ou subordinação (poly-gamy).
Além disso, eles exigem uma regra universal e totalitária, são violentamente
intolerantes, destruidores de famílias, da sociedade e da Igreja e são
abertamente cristofóbicos.
“Não estamos lutando
contra a carne e o sangue…” Precisamos ser inclusivos e acolhedores a tudo o
que é humano; mas o que vem do Inimigo não pode e não deve ser assimilado. Não
se pode unir Cristo e Belial! As ideologias homossexuais e abortistas
ocidentais e o fanatismo islâmico são hoje em dia o que o Nazi-fascismo e o
Comunismo foram no século XX.
3) Proclamar e
servir à beleza da Monogamia e da Família
Deparados com esses
dois desafios mortais e sem precedentes (“homo-gamia” e “poli-gamia”) a Igreja
precisa promover uma verdadeira “epifania
da Família.” O Papa (como
porta-voz da Igreja) pode contribuir para ambos, e os bispos e pastores do
rebanho cristão podem fazê-lo individualmente: Ou seja, “a Igreja de Deus, que
ele obteve com o seu próprio sangue” (Atos: 20:28).
Precisamos proclamar
a verdade sem medo, ou seja, o Plano de Deus, que é a monogamia no amor
conjugal aberto à vida. Tendo em mente a situação histórica que acabamos de
recordar, é imperativo que a Igreja, em seu cume, declare de maneira definitiva a
vontade do Criador a respeito do matrimônio. Quantas pessoas de boa vontade
e senso comum se uniriam nesse ato luminoso de coragem conduzido pela Igreja!
Juntamente com uma
Palavra forte e clara do Supremo Magistério, os Pastores têm a missão de
auxiliar os nossos contemporâneos a descobrir a beleza da família cristã. Para
lograr esse objetivo, é preciso promover tudo o que representa uma verdadeira Iniciação Cristã de adultos,
uma vez que a crise no matrimônio é essencialmente uma crise de Deus, mas
também uma crise de fé, e isso é uma iniciação cristã infantil. Em seguida,
precisamos discernir aquelas realidades que o Espírito Santo já está suscitando
para revelar a Verdade da Família como uma comunhão íntima na diversidade
(homem e mulher), que é generosa no dom da
vida. Nós, bispos, temos o dever urgente de reconhecer e promover os carismas, movimentos e
realidades eclesiais em que a
Família é verdadeiramente revelada, este prodígio de harmonia, amor de vida e
esperança na Eternidade, esse berço de fé e escola de caridade. E há tantas
outras realidades oferecidas pela Providência, juntamente com o Concílio
Vaticano II, em que este milagre é oferecido.
Cardeal Robert Sarah,
prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos
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Tradução: Teresa Maria Freixinho
Disponível em: Aleteia/ Fratres in Unum.com
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