Os olhos de todos os cristãos e não cristãos estão
nestes dias fixos em Roma, onde se realiza a segunda etapa do Sínodo da
Família. Centenas de bispos, de especialistas da pastoral familiar, reunidos
buscam dar uma resposta para “reconstruir a família humana” como lugar de
alegria, de amor, de esperança, onde se constrói o futuro de amanhã. A
família “está doente”, de uma enfermidade que foi provocada um pouco
intencionalmente, pelos meios de comunicação, que colocam na mesa
das famílias de tudo: coisas boas e ruins, alimentos que saciam e que
contaminam e nem sempre os comensais têm a capacidade de reconhecer
os alimentos contaminados. A família tem também se fragilizado por
outras causas ideológicas; em vista de solucionar os problemas de
desentendimentos e de conflitos se tem visto pessoas da
família “fazerem as próprias malas” e irem para outros lugares, na
esperança de criar uma nova família, que não raramente, depois de um pouco de
tempo, também começa a viver em tensões.
A igreja, mãe, mestra e companheira de caminho,
está tomando uma atitude muito séria, acertada: colocar-se na escuta de
todos. O Sínodo é o grande espaço da escuta de todas as vozes do mundo
contemporâneo. Questionários preparados corajosamente foram enviados pelo mundo
inteiro, seja a pessoas de fé e a pessoas sem fé. A todos a
Igreja pediu humildemente uma palavra de luz. Agora, juntos, se reflete sobre
as repostas, para depois dar uma “resposta” oficial do caminho a seguir,
para “reconstruir a família”, oferecer remédios que curam, cirurgia
dolorosa, terapias longas, caminhos que não serão fáceis.
Escutaremos gritos que chegam de todos os lados, de pessoas que cantam a
vitória e de pessoas que choram por derrotas. Mas no amor não
existe nem vitória e nem derrota, existe só o amor que ama, perdoa, é
misericordioso e caminha de mãos dadas para abrir novos caminhos de
luz e de esperança. Sem dúvida soam importantíssimas as vozes da
sociologia, da psicologia, da pastoral, de todas as ciências humanas. A
missão da Igreja é buscar caminhos e luz, venham de onde vierem. Não é
condenar, é amar, compreender e anunciar corajosamente a Verdade que liberta.
Não a verdade anônima, obscura, ambígua, de superficialidade; a verdade que tem
um nome e se chama JESUS. Ele é caminho, luz, verdade e vida.
Em todo este vai e vem de idéias, de
confrontos, de discórdias e quem sabe de desuniões, a Igreja durante este
Sínodo, tomou uma das decisões mais acertadas, mais luminosas para dar uma
reposta que não pode ser contestada sobre o caminho a seguir, para reconstruir
a família: a canonização dos pais de santa Teresa do Menino Jesus.
Que significa isto? Que mensagem a Igreja quer dar
com este gesto profético e testemunhal de um casal santo e de uma família
santa?
Diante da canonização, isto é, da proclamação pela
Igreja como santos os pais de santa Teresinha, Luiz Martin e Zélia Guerin,
surge uma pergunta que nos angustia a todos nós, especialmente aos
casais do mundo inteiro: mas como eles fizeram para chegar à
santidade? A resposta simples é a mesma, que vale para todas as épocas e
tempos: VIVENDO O EVANGELHO NA VIDA DE CADA DIA. Hoje se recorre,
para “desculpar” a nossa mediocridade, a tantas desculpas que servem só
para nos confundir e não nos dão uma clareza de vida: os tempos são
diferentes, o mundo não é o mesmo, os filhos não são iguais, a sociedade
é culpada e por aí vai... jamais porém poderá existir em todos os tempos e
lugares, alguém que seja proclamado santo que não tenha vivido o
Evangelho.
Lendo a vida da família Martin nos
deparamos com dificuldades que têm o sabor e a cor de toda história,
dificuldades materiais. Houve momentos materialmente difíceis para a família
Martin, em que o trabalho de “relojoeiro” de Luiz não era suficiente e o
peso das despesas caía sobre as costas de Zélia, que administrava com
competência a pequena fábrica de bordado. Dificuldades de caráter,
Zélia era dinâmica, pronta, ágil, de grande intuição; já Luiz
era um homem pacato, tranqüilo, que gostava mais de viajar e de
ficar em casa, preferia ficar lendo os seus livros e pensando que trabalhar na relojoaria.
Dificuldades na orientação educativa das filhas: Zélia era mais
determinada e amorosa, mas mais dura; Luiz era bondoso, gostava de
brincar com as filhas, contar histórias ou levar as filhas à
igreja. Mas havia pontos em comum: solidez da fé, o amor à Igreja, a participação
aos sacramentos, uma educação cristã de verdade. O Evangelho e a doutrina da
Igreja eram seguidos “à risca”; a família era uma pequena igreja,
havia o amor aos pobres, se ensinava não com as palavras, mas sim com a vida.
Uma família onde a chama do testemunho ardia sem se apagar. Teresinha define
seus pais com uma pincelada que é magistral: “Deus me deu pais mais
dignos do Céu que da Terra”.
O gesto da Igreja de proclamar santos, durante o
Sínodo da Família, os pais de Santa Teresinha será sem dúvida a mais bela
intervenção pública de que só famílias santas poderão transformar o
mundo, a sociedade e a Igreja. Sem as famílias santas
encontraremos “paliativos”, mas a família irá continuar “enferma”,
incapaz de superar as dificuldades que são
inevitáveis.Só o amor nos dá possibilidade, que embora as dificuldades, os
caracteres diferentes, os conflitos, podemos nos amar, perdoar e viver a
alegria de estar juntos. Penso de continuar a escrever ainda sobre os
pais de Santa Teresinha proximamente.
Frei
Patrício Sciadini, ocd,
superior
carmelita no Egito
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ZENIT
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