quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Perito derruba teoria da conspiração sobre eleição do Papa Francisco


Há um tempo, publicaram em algumas páginas católicas uma teoria de conspiração, através da qual declaram que a renúncia de Bento XVI e a eleição do Papa Francisco foram resultado de um lobby de cardeais “progressistas”. Entretanto, em um artigo divulgado recentemente, um perito demonstrou por meio de alguns acontecimentos a incoerência desta história.

Phil Lawler, editor de Catholic World News (CWN) e autor de sete livros sobre temas religiosos e políticos, assinalou por meio de um artigo publicado em catholicculture.org que esta teoria de conspiração surgiu a partir da nova biografia do Cardeal Godfriend Danneels – Purpurado belga que apoia o aborto e as uniões homossexuais –, na qual menciona um grupo de cardeais “progressistas” que estavam “insatisfeitos com a influência do então Cardeal Joseph Ratzinger no Vaticano”.

Segundo esta biografia, estes cardeais foram conhecidos como o grupo de San Gallen – devido ao lugar onde se reuniram –, e além de Danneels, estavam também o falecido Cardeal Carlo Maria Martini, Arcebispo de Milão, e os cardeais Achille Silvestrini, Cormac Murphy-O’Connor, Karl Lehmann e Walter Kasper. No lançamento do livro, o Cardeal belga mencionou este grupo como “um clube mafioso”, assinalou Lawler.

“Não é nada bom o fato de saber que os cardeais estavam conspirando a fim de influir na política do Vaticano, e os leitores conhecedores, olhando a lista de nomes, poderiam ficar preocupados pela sua influência. Mas não chega ao nível de uma conspiração se um grupo de prelados se reúnem para discutir assuntos da Igreja”, indicou Phil Lawler.

Recordou que os autores da biografia “foram mais longe ainda e disseram a um jornal francês que o grupo de San Gallen teve presença ativa durante o conclave de 2005, resistindo ao Cardeal Ratzinger e promovendo o Cardeal Bergoglio”.

“Se isto fosse verdade – se os cardeais estivessem dirigindo ativamente um lobby durante o conclave –, este comportamento teria sido um escândalo, uma evidente violação da lei canônica, um delito pelo qual São João Paulo II prescreveu a pena de excomunhão”, advertiu o perito.

Entretanto, logo que a história da conspiração atraiu a atenção pública, os autores da biografia de Danneels “disseram que foram mal-entendidos” e que mudaram a sua versão, assegurando que “o grupo de San Gallen não esteve ativo como um lobby durante o conclave de 2005, e que pouco depois da eleição de Bento XVI o grupo deixou de se reunir”.

“Mas, deveríamos levar esta retratação/correção ao seu valor nominal?”, perguntou Lawler.

O perito recordou ainda que o livro era uma biografia autorizada e que Danneels colaborou ativamente durante a campanha publicitária para seu lançamento. “Desta forma, parece improvável que os autores estivessem totalmente equivocados a respeito dos temas das reuniões de San Gallen. E quando o Cardeal se referiu a um ‘clube mafioso’, embora a frase poderia ter sido usada alegremente, provocou pensamentos a respeito de um segredo alarmante”. 

Lawler indicou que, portanto, não é “irracional suspeitar – como muitos analistas conservadores suspeitaram – que os autores do livro haviam sido muito honestos”; mas quando viram a magnitude do escândalo, “estiveram preparados para confundir com a finalidade de desfazer o dano”.

Esta teoria tem fundamento?

Nesse sentido, o perito em religião assinalou que além desta possível estratégia publicitária, existem “razões de peso” para desprezar uma teoria da conspiração.

Em primeiro lugar, indicou que os biógrafos de Danneels tinham um “óbvio incentivo (publicitário) para exagerar o poder do grupo de San Gallen”. “É mais provável que venda uma história de um grupo secreto do que a história da vida de um cardeal aposentado”, assinalou Lawler.

Além disso, “se o grupo de San Gallen fez o grande esforço para controlar o conclave de 2005, falharam miseravelmente”, pois o conclave escolheu quase imediatamente o Cardeal Ratzinger como Pontífice: “o homem cuja influência o grupo pretendia cortar”.

“O Cardeal Martini foi amplamente visto como o líder do grupo liberal que poderia ter buscado uma alternativa ao Cardeal Ratzinger. Mas, fontes do Vaticano sabem que este Purpurado não era totalmente favorável ao seu companheiro jesuíta, o Cardeal Bergoglio, e nunca teria apoiado sua eleição”, acrescentou.

Além disso, ao deixar de funcionar em 2006, o grupo de San Gallen “deixou de ser um importante fator durante o conclave de 2013”, que elegeu o Papa Francisco. “Nessa época, o Cardeal Martini já estava morto, e outros membros – os cardeais Silvestrini e Murphy-O’Connor – eram muito velhos para participar do conclave”, recordou.

Do mesmo modo, recordou que “dias antes do conclave de 2013, ninguém esperava a eleição do Cardeal Bergoglio”. Nesse sentido, “se um grupo de cardeais havia estado trabalhando durante anos para gerar entusiasmo pelo seu candidato, devem ter sido uns ignorantes”.

Lawler assinalou que “uma biografia do Cardeal Danneels é, infelizmente, suscetível de gerar escândalo”, tanto por seu fracasso “para denunciar os casos de abusos sexuais”, seu apoio a fim de que a Bélgica “reconheça as uniões homossexuais, seu conselho ao rei Baudouin para que assine a lei que legalizou o aborto”.

“Conhecendo este passado, ficaríamos surpreendidos que o Papa Francisco o escolhesse para participar do Sínodo de Outubro. Mas, reclamar que o Cardeal é um conspirador bem-sucedido é dar um salto além da evidência”, expressou o perito.
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ACI Digital

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