O Papa Francisco, em seu discurso de conclusão do
Sínodo dos Bispos sobre “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo
contemporâneo” afirmou que “certamente não significa que esgotamos todos os
temas inerentes à família” e que não “encontramos soluções exaustivas para
todas as dificuldades e dúvidas que desafiam e ameaçam a família” na atualidade,
mas que, com coragem, dedicação e sem medo de afrontar os desafios postos às
famílias e na família, “procuramos iluminá-los com a luz do Evangelho, da
tradição e da história bimilenária da Igreja, infundindo neles a alegria da
esperança”, sem cair em repetições simplistas.
Com efeito, o Relatório Final do Sínodo foi
entregue ao Papa Francisco, como reza o Artigo 41 do Regulamento do Sínodo dos
Bispos (Ordo Synodi Episcoporum). Segundo as explicações do próprio
regulamento, não há uma regra estabelecida de antemão sobre a elaboração de um
documento final do Sínodo. Fato é que, após várias assembleias sinodais, os
últimos papas publicaram um documento retomando ou levando em conta o fruto do
trabalho do Sínodo. Haja vista que os bispos, ao entregar o Relatório Final da
assembleia, fizeram um pedido ao papa para que ele publicasse um documento, é
de se esperar que isso aconteça nos próximos meses.
Assim sendo, o texto que foi publicado no fim de
semana passado não é um documento normativo nem definitivo. Virá a sê-lo se o
papa assim o quiser. Mas poderá também passar por modificações por parte do
papa. Por isso, é temerário já agora tirar orientações bem precisas em nível
prático para a ação pastoral da Igreja, embora não nos seja impedido de começar
– ou continuar – a refletir sobre isso.
No que concerne a situação de alguns de nossos
irmãos e irmãs divorciados recasados, com quem caminhamos e conversamos pelo
Brasil afora, é necessário redobrar a prudência no que concerne as
interpretações do texto publicado, pois o texto sequer menciona o acesso à
Eucaristia e ao Sacramento da Confissão.
O título no qual se aborda o assunto fala de
“discernimento e integração”, deixando, propositadamente, a questão aberta e a
ser cada vez mais discernida, com misericórdia e verdade, não só pelas pessoas
implicadas, mas também por toda comunidade eclesial, inclusive levando em conta
aspectos culturais, como também mencionado pelo Papa Francisco no seu discurso
final. A respeito do acesso à Eucaristia, alguns comentários observaram que o
texto não diz nem que “sim” nem que “não”. Isso também é válido para aquelas
formas de impedimentos hoje existentes na prática eclesial. Tal responta
obliqua e não direta do texto faz-nos voltar ao que o papa disse no discurso
final, ou seja, de que o sínodo não ofereceu soluções exaustivas a todas as
situações complexas, pois estas são múltiplas e variadas. Anunciar aos quatro
cantos um acesso ao Sacramento da Eucaristia para todos os que se encontram
nesta situação, não somente vai além do que afirma o texto conclusivo do sínodo
– repitamo-lo: ainda não normativo nem definitivo – mas também não
respeita a complexidade da história de vidas envolvidas num divórcio e suas
consequências temporais, que, quer se queira ou não, toca a noção de comunhão
no sentido mais amplo (comunhão eclesial, eucarística, mas também conjugal e
familiar), que pode ter sido, em certos casos, gravemente rompida.
Ainda que o Papa Francisco venha a decidir sobre
essa questão, a proposta, segundo as sugestões dos bispos representares de
todas as partes do mundo, não será a panaceia para dar fim aos problemas dos
divorciados recasados, mas será aplicada caso a caso, como sugerido pelo
Cardeal W. Kasper desde o início dessa discussão – o que não deixará de
suscitar dificuldades e incompreensões em nossas comunidades, diga-se de
passagem...
Deixando de lado todas essas especulações – que
interessam muito aos meios de comunicação desinteressados da vida real das
pessoas! – o importante é não reduzir toda a riqueza dos trabalhos do sínodo
nestes dois últimos anos ao “pode ou não pode”, pois o acompanhamento que visa
não só a integração de diversas situações, mas também a preparação ao
matrimônio, através da transmissão do Evangelho da família, a vida
pós-matrimonial, a transmissão e educação dos filhos, a formação para a missão
eclesial e social da família, requer conversão pastoral e pessoal, de todos
nós, disponibilidade de tempo para a escuta e o serviço, coragem e ousadia para
intervir, também com misericórdia, junto às famílias quando são assoladas por
mentiras em relação à essência do amor, da liberdade, da fidelidade, da
responsabilidade, da abertura à vida para se tentar evitar e superar as crises,
e assim permitir que a família continue sendo o maior tesouro da humanidade!
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ZENIT
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