Existem momentos em que nos sentimos contentes, cheios de força
e tudo parece fácil e leve. Outras vezes somos assaltados por dificuldades que
deixam nossos dias amargurados, talvez devido aos nossos pequenos fracassos no
amor para com as pessoas que estão ao nosso lado, ou porque nos sentimos
incapazes de partilhar com outros o nosso ideal de vida. Ou ainda, porque
surgem doenças, apertos financeiros, desilusões familiares, dúvidas e provações
interiores, perda de emprego, situações de conflito, que nos esmagam e parecem
não ter saída. O que mais pesa nessas circunstâncias é o fato de nos sentirmos
obrigados a enfrentar sozinhos as provações da vida, sem o apoio de alguém
capaz de nos dar uma ajuda decisiva.
Poucas pessoas viveram com tanta intensidade alegrias e
sofrimentos, sucessos e incompreensões como o apóstolo Paulo. No entanto, ele
soube persistir com coragem na sua missão, sem ceder ao desânimo. Será que ele
era um super-herói? Não! Ele se sentia fraco, frágil, inadequado. Mas possuía
um segredo, que ele confia aos seus amigos da cidade de Filipos: “Tudo posso
naquele que me dá força”. Ele tinha descoberto na sua própria vida a presença
constante de Jesus. Mesmo quando todos o tinham abandonado, Paulo nunca se
sentiu só: Jesus permaneceu junto dele. Era Ele que lhe dava segurança e o
incentivava a seguir adiante, a enfrentar todas as adversidades. Tinha entrado
plenamente na sua vida, tornando-se a sua força.
O segredo de Paulo pode também ser o nosso segredo. Eu sou capaz
de tudo quando reconheço e abraço, até mesmo num sofrimento, a proximidade
misteriosa de Jesus, que de certo modo se identifica com aquela dor e a toma
sobre si. Sou capaz de tudo quando vivo em comunhão de amor com outros, porque
então é Ele que vem estar no nosso meio, conforme prometeu (cf. Mt 18,20),
e o que me sustenta é a força da unidade. Sou capaz de tudo quando acolho as
palavras do Evangelho e as coloco em prática: elas me fazem vislumbrar o
caminho que sou chamado a percorrer dia após dia, elas ensinam-me a viver,
inspiram-me confiança.
Assim terei a força para enfrentar não somente as minhas
provações pessoais, ou as da minha família, mas também as do mundo ao meu
redor. Pode parecer uma ingenuidade, uma utopia, diante da imensidão dos
problemas da sociedade e das nações. No entanto, “tudo” podemos com a presença
do Todo-poderoso; “tudo” e só o bem que Ele, no seu amor misericordioso,
imaginou para mim e para os outros através de mim. E se esse bem não se realiza
de imediato, podemos continuar crendo e esperando no projeto de amor de Deus,
que abraça a eternidade e que necessariamente se realizará.
Basta fazer o trabalho “a dois”, como ensinava Chiara Lubich: “Não
posso fazer nada naquele caso, nada por aquele ente querido, que corre risco ou
está doente, nada naquela situação intricada… Pois bem, farei o que Deus quer
de mim neste momento: estudar direito, varrer direito, rezar direito, cuidar
direito dos meus filhos… E Deus se ocupará de desemaranhar aquela meada, de confortar
quem sofre e de resolver aquele imprevisto.” É um trabalho feito a dois em
perfeita comunhão, que exige de nós uma grande fé no amor de Deus por seus
filhos e que, pelo nosso modo de agir, dá ao próprio Deus a possibilidade de
confiar em nós. Essa confiança recíproca opera milagres. O que vai acontecer é
que, aonde nós não conseguimos chegar, Outro realmente conseguiu, e fez
muitíssimo melhor do que nós”1.
Fabio
Ciardi
________________________________
Movimento
dos Focolares Brasil
_____________________________
1 Chiara Lubich, Ideal e Luz, São
Paulo : Cidade Nova, 2003, pp. 112-113.
Nenhum comentário:
Postar um comentário