São três Babilônias. A primeira o império do século
VI antes de Cristo. A segunda aquela descrita no Apocalipse de São João. A
terceira a novela da rede globo. Três Babilônias. Vamos falar de uma a uma em
partes.
O Império Babilônico retratado no Antigo Testamento
– e que serve de referência para as duas outras comparações – sobreviveu de 626
a 539 antes de Cristo. Seu Imperador Nabucodonosor invadiu Jerusalém em 587
a.C. Naquela invasão destruiu-se o Templo, levou-se os objetos de ouro do
Templo, os dignitários da cidade foram levados para o exílio e o povo ficou na
miséria.
“Junto aos rios da Babilônia” (Sl 136,1), Tigre e
Eufrates, deve ter sido escrito o segundo relato da criação e da queda (Gn
2,4b-3,25) durante o período do exílio. É desse período também o segundo Isaías
(Is 40-55), alguns trechos de Ezequiel, entre outros. A religião Babilônica era
muito forte. O povo no exílio estava exposto a ela. Assim, o papel dos profetas
e sacerdotes no exílio foi essencial para manter a fé e a esperança do povo de
Israel no único Deus. Tendo sido visto o Império Babilônico como um destruidor
e sanguinário, a vitória de Ciro, o Persa, em 539 a.C. deu ao povo novo alento
e Ciro escreveu um édito permito o regresso do povo a Israel em 538 a.C. (cf.
2Cr 36,14-23; 2Rs 25,1-30; Esd 1,1-3).
Esta experiência para o povo de Israel é quase tão
forte quanto o período de escravidão no Egito e marcará sua vida para sempre.
“Fomos escravos no Egito” tornou-se um refrão na boca do povo. “O Senhor nos
libertou com mão forte e braço estendido”, igualmente, para referir-se ao
período da escravidão e ao período do exílio.
Tendo em vista este contexto vital da experiência
do povo de Deus, o autor do livro do Apocalipse no capítulo 17 identifica o
Império Romano, a Roma imperial com a Babilônia violenta e sanguinária do
século VI a.C. Por volta do ano 94 d.C. os cristãos estão sendo perseguidos na
perseguição de Domiciano, Imperador. O autor do Apocalipse olha para o Império
e vê nele os mesmos traços destrutivos da antiga Babilônia. Cidade/Império
cruel, perseguidor e sanguinário. Aquela Babilônia matara degolados os sete
filhos do Rei de Israel, Sedecias (ou Joaquin), na sua frente e depois vazara
seus olhos antes de o levar cativo para o exílio. Esta Babilônia persegue e
mata os cristãos pela segunda vez (tendo sido a primeira perseguição no tempo
de Nero de 64 a 66 d.C.). Por isso ela é igualmente sanguinária, bebe o sangue
dos mártires, é prostituta e os reis da terra a servem em virtude de seu poder
político dominador e de sua influência. A descrição da prostituta de
Apocalipse, ou a Babilônia, é a de uma suntuosa mulher que embriaga-se de
luxúria, volúpia, “com o sangue dos mártires e com o sangue das testemunhas de
Jesus” (Ap 17,6). Por esse motivo, a “Babilônia” do Apocalipse é o inimigo a
ser vencido pelo Cordeiro no capítulo seguinte, 18. Os mártires por ela mortos
são os dos capítulos 6 e 7 que clamam vingança e cantam o Hino de Triunfo sobre
a perseguição e a morte por causa do Nome de Jesus. Alguns despreparados
intérpretes da sagrada escritura aplicam este trecho erroneamente a Igreja
Católica por não terem conhecimento exegético e teológico apropriado.
Por fim, chegamos a nova Babilônia. Aquela que está
passando na Tv. Não chega a ser sanguinária porque é covarde. Não chega a ser
um Império, porque é ilusória. Mas é perversa, mentirosa, voluptuosa e
luxuriante. Ela não tira a vida física das testemunhas do Cristo, mas, lhes
tira a fé genuína e verdadeira o que torna seu pecado pior. Ela não invade
nosso país destruindo, matando, vazando os olhos e levando para o exílio. Ela
invade nossas casas na paz, prendendo os olhos de quem a vê e leva para o
exílio, para longe de Deus e dos valores do evangelho. Ela não nos rouba
tesouros de prata e ouro. Ela rouba-nos o tesouro da fé cristã verdadeira, dos
valores cristãos que fizeram do Ocidente a sociedade mais evoluída do mundo.
Esta Babilônia é perversa, tão perversa quanto aquela mulher do Apocalipse. Ela
perverte o valor da família, o sagrado valor do ato sexual, o sagrado valor do
corpo, a instituição matrimonial e zomba descaradamente do nosso país
majoritariamente cristão. Cospe-nos na face, zomba e ri na certeza de que
estará sempre e mais uma vez “impune”.
Quanto a nós, cabem-nos duas atitudes. A primeira é
o clamor do Apocalipse: “Saí dela ó meu povo, para que não sejais cúmplices de
seus pecados e atingidos por suas pragas; porque os seus pecados se amontoaram
até o céu e Deus se lembrou de suas iniquidades. Devolvei-lhe o mesmo que ela
pagou, pagai-lhe o dobro, conforme suas obras; no cálice em que ela misturou,
misturai para ela o dobro. O tanto que ela se concedia em glória e luxo
devolvei-lhe em tormento e luto, porque, em seu coração dizia: “Estou sentada
como rainha, não sou viúva e nunca experimentarei luto...”. Por isso suas
pragas virão num só dia: morte, luto e fome, e pelo fogo será devorada, porque
o Senhor Deus que a julgou é forte (Ap 18, 4-8).
A segunda atitude é experimentarmos a nós mesmos.
De nada adianta escandalizar-se diante de um beijo de duas mulheres na Tv
quando o casal dito cristão coloca filme pornográfico em seu quarto, quando
participa de experiências de troca de casais, quando usa palavras chulas, de
baixo calão; quando vê, promove e divulga pornografia; quando a pessoa mantém
vida dupla em relações extra-conjugais. Este escândalo seletivo é hipócrita,
falso, e faz tanto mal ao mundo, à família e à Igreja quanto aquele! “Seja o
seu sim, sim, e o seu não, não. O que passa disso vem do maligno” (Mt 5,37).
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Autor e fonte: Padre Luís Fernando
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