segunda-feira, 30 de março de 2015

Comunhão para divorciados em nova união? Uma enérgica resposta alemã ao Cardeal Marx


Um cardeal alemão defendeu publicamente a doutrina católica diante das palavras de outros dois bispos que sugeriram que a Igreja no país pode estabelecer suas próprias políticas sem a direção de Roma.

O Cardeal Josef Cordes publicou uma carta no começo deste mês objetando os pronunciamentos de importantes líderes da Igreja na Alemanha que disseram que a conferência dos bispos seguirá o seu próprio programa de cuidado pastoral para matrimônios e famílias sem importar os resultados do Sínodo da Família de outubro.

Em 25 de fevereiro, na conferência de imprensa depois da assembleia plenária dos bispos alemães, o Cardeal Reinhard Marx, Arcebispo de Munique e Frisinga, que também é Presidente do episcopado, assinalou que “não somos uma sucursal de Roma. Cada conferência de bispos é responsável pelo cuidado pastoral e seu contexto cultural e deve pregar o Evangelho em sua própria e original maneira. Não podemos esperar pelo sínodo para nos dizer como temos que moldar o trabalho pastoral com matrimônios e famílias”.

O Cardeal Marx, um dos três delegados alemães para o Sínodo de outubro, referiu-se a “certas expectativas” da Alemanha para ajudar a Igreja a abrir as portas e “encontrar novos caminhos”, e que “em doutrina, também aprendemos da vida”.

O Cardeal foi secundado pelo Bispo de Osnabruck, Dom Franz-Josef Bode, que chamou o Sínodo sobre a família de um momento de "importância histórica" e uma "mudança de paradigma", insistindo em que "a realidade dos homens e do mundo" seja uma fonte para a compreensão teológica.

Diante destas declarações, o Cardeal Cordes –ordenado sacerdote da Arquidiocese de Paderborn e presidente emérito do Pontifício Conselho Cor Unum–, publicou uma enérgica objeção às declarações públicas de seus companheiros bispos em uma carta em 7 de março ao editor do Die Tagespost, um importante jornal católico de língua alemã. O texto da carta original foi traduzido do alemão ao inglês por Jan Bentz do CNA, agência em inglês do grupo ACI.
“Visto que as palavras do mais alto representante dos católicos na Alemanha têm um caráter de linha-guia e criam substanciais rebuliços na mídia, tem sentido objetar publicamente alguns dos enunciados para diminuir a confusão que causaram”, escreveu o Cardeal Cordes.

Recordou que a conferência de imprensa de fevereiro esteve enfocada no Sínodo da família e em particular na proposta do também alemão Cardeal Walter Kasper, para admitir a comunhão para os divorciados em nova união. “O problema foi abordado com belas palavras de ‘novas soluções’ e ‘portas abertas’”, advertiu.

Inclusive respondeu às palavras do Cardeal Marx, que afirmou que a Igreja na Alemanha é um exemplo. “Se ele quis expressar que a Alemanha é um exemplo na condução dos fiéis para o encontro com Cristo, então penso que o bispo está enganado por ilusões. O atual aparelho eclesial alemão é completamente incapaz de trabalhar contra a crescente secularização”, sentenciou.

“Não sem razão”, acrescentou, Bento XVI insistiu encarecidamente à Igreja Alemã que seja menos mundana durante a sua visita de 2011.

“Em temas de fé, o realismo conta acima de tudo”, refletiu o Cardeal Cordes. “Portanto é preciso considerar os fatos”. Nesse sentido, recordou que um estudo mostra que entre os católicos da parte ocidental alemã, apenas 16 por cento acredita que Deus é pessoal. “O resto de católicos vê em Deus uma providência sem rosto, um destino anônimo”, ou “simplesmente negam sua existência”.

Depois, responde às propostas do Cardeal Marx sobre os divorciados recasados. “O presidente discute sobre o drama dos divorciados recasados! Este assunto vai além das particularidades regionais de natureza pragmática, de uma mentalidade dada e antecedente cultural. Este assunto está ligado ao centro mesmo da teologia. Neste terreno nem sequer um cardeal pode afrouxar um nó górdio tão complexo com um só golpe de espada. Ele tem a teologia sacramental do Concílio de Trento. Também tem as palavras de Bento XVI, que recentemente (21 de janeiro de 2012), disse à Rota Romana, a corte ordinária da Sé Apostólica, que ninguém pode simplesmente varrer sobre a legislação vinculante da Igreja quando se trata de assuntos pastorais”.

“Um pastor responsável não pode ser guiado por uma ‘misericórdia’ imprecisa. E enquanto o presidente repete que em relação ao Magistério, ele quer ‘permanecer dentro da comunidade da Igreja’, ele ou ignora os limites que este Magistério dá ao cuidado pastoral, ou está despreocupado em fazer uma declaração que o faça ficar bem”.

O Cardeal Cordes lamentou que nos comentários do Cardeal Marx, a ideia da comunhão –entre bispos e com o Bispo de Roma–, era muito escassa, “embora os bispos tenham prometido expressamente ‘unidade com o Colégio dos Bispos sob o Sucessor de Pedro’ durante sua consagração episcopal. A sentença: ‘não podemos esperar por um sínodo para nos dizer como temos que moldar o cuidado pastoral para matrimônios e famílias aqui, não está infundida com um espírito de ‘Comunhão’”.

Além disso, denunciou que a mensagem enviada pelo Cardeal Marx “parece ser o resultado de uma ‘obediência que segue adiante’, uma estratégia profundamente política com a qual criar ‘fatos’ para dominar o processo de tomada de decisões e pressionar os seus colegas”.

“Particularmente deplorável são as declarações dadas durante a conferência de imprensa de que as ‘novas soluções’ –cada um sabe o que significa- podem ser teologicamente justificadas”, advertiu o Cardeal Cordes. “Ele quer dizer que o dogma da indissolubilidade do matrimônio se torna intolerável pelas situações de vida das pessoas recasadas?”, questionou.

Logo, referiu-se às declarações de Dom Bode, que citou a constituição Gaudium et spes para basear a sua conclusão de que “não só a mensagem cristã tem que encontrar ressonância nos homens, mas também os homens devem encontrar ressonância conosco”.

O Cardeal Cordes recordou que enquanto a Gaudium et spes assinala que “não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no coração dos discípulos de Cristo”, os padres do Concílio Vaticano II “chegaram à conclusão que seria errôneo ver ‘os sinais dos tempos’ na vida dos homens como uma ‘fonte de fé’…e formalmente excluída a vergonhosa falácia de que nenhum desafio da Igreja como tal seria uma fonte da fé”.

Pelo contrário, assinalou, a constituição dogmática do Vaticano II sobre a divina revelação, Dei Verbum, “não deixa dúvidas de que a fé na Igreja Católica se alimenta unicamente da Sagrada Escritura e do Magistério”.

“Independente desta direção inequívoca, seria paradoxal atribuir a uma pequena parte da Igreja, que vive em uma situação espiritualmente lamentável, mas objetivamente ainda irregular, a função de uma fonte da fé”, acrescentou

Concluiu escrevendo que “pode ser que os pastores reunidos em Roma neste outono também deem orientação à maioria dos membros praticantes da Igreja sobre como aprofundar seu matrimônio para enraizá-lo em Jesus Cristo, e assim possam ser testemunhos do poder de Deus na vida do homem para seus coetâneos”.


“Pode ser que os padres sinodais cheguem à conclusão de pronunciar um profundo respeito por aqueles que nunca se casaram pela segunda vez –que por fidelidade a seu primeiro compromisso matrimonial não ingressaram em uma segunda união–. Esses casos também existem”, expressou.
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ACI Digital

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