Francisco – relata a Rádio Vaticano, em uma nota
que resume a conversa – admite ter a sensação de que o seu pontificado será
breve, mas também afirma que pode estar errado e que não prevê, no entanto, a
possibilidade de renunciar.
A entrevista, relata a emissora pontifícia, foi
realizada por expressa vontade do papa e ocorreu na sala de Santa Marta, onde
Jorge Mario Bergoglio encontra os seus colaboradores mais próximos, domina uma
imagem da Virgem de Guadalupe, uma figura de fundamental importância e de
grande devoção para todo o continente latino-americano.
Nossa Senhora de Guadalupe é, para Francisco,
"fonte de unidade cultural, porta para a santidade no meio de tanto
pecado, de tanta injustiça, de tanta exploração e de tanta morte".
"Os males do México são todos semelhantes aos
do resto do mundo: o drama das migrações e os muros erguidas para
combatê-las." Francisco fala da fronteira entre EUA e México, mas também
lembra os migrantes forçados a atravessar o Mediterrâneo em busca de uma vida
melhor ou em fuga das guerras e da fome.
São os sistemas econômicos distorcidos que provocam
esses grandes deslocamentos, a falta de trabalho, a cultura do descarte
aplicada ao ser humano. E, depois, a chaga do tráfico de drogas. Onde há
pobreza e miséria, o crime floresce.
O Papa Francisco lembra os 43 jovens assassinados
pelos traficantes de drogas em be revela que quis prestar homenagem à sua
memória também nomeando como cardeal o arcebispo de Morelia, "um homem –
diz Francisco – que está em uma zona muito quente e é um testemunho de homem
cristão".
O papa, justamente por ser filho de imigrantes, se
sente espontaneamente chamado a dar voz às vítimas do tráfico e de uma
sociedade injusta, embora – reconhece Francisco – seria infantil atribuir as
responsabilidades apenas aos governos.
É preciso aprender a não se voltar para o outro
lado diante dos males do mundo, e isso diz respeito a cada um de nós. O
compromisso dos católicos em relação aos últimos requer um exercício de
proximidade. É o terreno sobre o qual a Igreja é desafiada pelas seitas e pelos
movimentos evangélicos, particularmente na América Latina.
O papa, segundo a Rádio Vaticano, critica a
incapacidade do clero de envolver os leigos por causa de um clericalismo
excessivo. O pontífice argentino toca todos os temas que caracterizaram os seus
dois anos de pontificado, acima de tudo, a atenção aos pobres e aos
despossuídos.
E, depois, o trabalho de reforma da Cúria, não
tanto a forma daquela que ele define como a último corte da Europa, mas a
substância. Toda mudança começa a partir do coração – explica o papa – e
envolve uma conversão no modo de viver. Uma conversão que envolve a própria
figura do pontífice e que está na base do não cumprimento dos protocolos, que
tanto entusiasma o povo de Deus.
Francisco admite que sente falta de poder sair
livremente, talvez para poder ir a uma pizzaria sem ser reconhecido. Mas o
tempo à disposição não parece ser muito. Francisco admite ter a sensação de que
o seu pontificado será breve, mas também afirma que pode estar enganado.
À entrevistadora que menciona a possibilidade de
uma retirada por causa dos limites de idade, como acontece com os bispos, o
papa responde que não compartilha tal evento para a figura do pontífice – ele
define o papado como uma graça especial – mas também diz que aprecia a estrada
aberta por Bento XVI em relação à figura do Papa Emérito. Uma escolha corajosa,
define, assim como foi corajosa a decisão de tornar pública a gravidade dos
abusos cometidos por alguns membros da Igreja contra as crianças e a
necessidade de cuidar das vítimas.
O próprio Francisco recebeu seis delas no Vaticano,
e a Comissão ad hoc instituída no Vaticano tem o objetivo justamente de
prevenir e de proteger as crianças.
O Sínodo sobre a família, que se reunirá em
outubro, depois do último Extraordinário do ano passado, coloca diante da
Igreja a necessidade de tutelar, proteger, acompanhar. Bergoglio define como
desmedidas as expectativas sobre temas complexos e delicados como o da comunhão
aos divorciados em segunda união ou sobre a homossexualidade.
O que é certo é que, para Francisco, é que a
família passa por uma crise nunca vista antes e que é preciso recomeçar a
partir de uma pastoral que se volte sobretudo aos jovens e às pessoas
recém-casadas.
A trilha do papa está traçada, e Francisco já olha
para setembro, com o evento da Filadélfia, nos EUA, a Jornada Mundial da
Família, para a África, que ele vai visitar em breve, e para a América Latina
que o espera.
Valentina
Alazraki,
Jornalista da
Televisa
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Por: Iacopo Scaramuzzi
Fonte: Vatican Insider
Tradução: Moisés Sbardelotto
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