A Campanha da Fraternidade deste ano realiza-se
no momento em que o povo, em geral, experimenta grande mal estar diante
da crise ética e moral por que passam certos setores do nosso país.
Oportunamente, a Campanha da Fraternidade da Igreja
neste ano tem como objetivo aprofundar o diálogo e a colaboração entre Igreja e
Sociedade. Aliás, a Igreja católica sempre esteve presente, desde o começo, na
vida e na história da sociedade brasileira e deseja continuar contribuindo, respeitando
a laicidade do Estado e a autonomia das realidades terrestres, com a
dignificação do ser humano. Para tanto, ela se propõe a
trabalhar junto com os demais cidadãos e instituições para o bem comum de
todos os brasileiros.
No Documento da V Conferência do Episcopado da
América Latina e Caribe, os bispos insistem em dizer que "a Igreja não se
identifica com os políticos, nem com interesses de partidos. Sua missão neste
setor, é ensinar critérios e valores irrevogáveis, orientar as consciências,
educar nas virtudes individuais e políticas, ser advogada da justiça e da
verdade.”
Especificamente, são os cristãos leigos a
presença da Igreja no coração do mundo e devem assumir sua responsabilidade na
vida pública, contribuindo, à luz do evangelho e do ensino social da Igreja,
com a construção de uma sociedade humana e solidária, opondo-se a toda
forma de injustiça.
Quanto à corrupção, que nesse momento nos assusta
de modo tão acintoso, é uma forma de injustiça contra o povo, sobretudo, os
mais pobres. Os recursos públicos mal administrados ou usados em proveito
pessoal ou de grupos, impedem o desenvolvimento do país e comprometem os
investimentos nas áreas da saúde, educação, segurança, trabalho,
habitação, infraestrutura. Enfim, em projetos destinados a melhorar as
condições de vida de todos, em particular, dos mais pobres.
A corrupção, escreveu o Cardeal Carlo Maria
Martini, sempre existiu e existe em toda parte, pois é fruto
da história pecaminosa da sociedade que se reflete em âmbito pessoal e
social. Quando, porém, não é combatida com firmeza e severidade
pelas instituições competentes, a corrupção prospera e provoca desconfiança nas
instituições e naqueles que ocupam cargos públicos e, ainda, pior, pode
produzir uma espécie de fatalismo e de resignação que leva a
população a aceitar a corrupção como se ela fosse normal e
contra a qual não se pode fazer nada. Essa atitude de conformismo contribui,
também, por desmerecer o trabalho e o testemunho de tantas pessoas de
bem.
Não basta diante de tal despudor lamentar! É
necessário e urgente reagir e enfrentar, pela ação conjunta das forças da
sociedade, a saber, Executivo, Judiciário, Legislativo, Polícia,
Instituições e cada cidadão contra esta chaga. Sem esse esforço
conjunto a corrupção não será controlada.
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida (SP)
Presidente da CNBB
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