TRANSFORMAR O MUNDO EM TEMPLO DE DEUS E DO HOMEM
Deus quer transformar o mundo com a nossa
conversão. E a nossa verdadeira conversão começa com um desejo imenso e
profundo que implora perdão e salvação. Daí a importância da oração cristã, que
é oposta à evasão da realidade ou a um intimismo consolador. A oração cristã é
força de esperança, é expressão máxima da fé em um Deus que é Amor e que nunca
abandona o homem. A conversão é convite a voltar sempre para os braços de Deus,
a confiarmos nele, a nos deixarmos regenerar pelo seu Amor. É uma graça, um dom
que abre o coração à bondade de Deus.
Impressionam sempre aquelas palavras do Evangelho:
“Fazendo um chicote de cordões, Ele os expulsou do templo…” (cf. Jo 2, 13-25).
É um gesto profético de verdadeira provocação, que quer desbaratar toda a
manipulação do nome de Deus, que não tolera que o homem e o templo apodreçam.
Por isso, Jesus diz: “Não transformeis a casa do meu Pai em um mercado” (cf. Jo
2, 13-25). Esta ação de Jesus nos leva para mais longe. O templo que Ele quer
não é um templo construído pelos homens, mas por Deus. Cristo veio para nos
ensinar a fazer deste mundo um templo de Deus, onde o homem seja respeitado e
considerado com a dignidade com que Deus mesmo o criou. Ele veio para devolver
ao ser humano a sua liberdade, oferecendo-nos o caminho que a presenteia a nós,
para podermos nós também oferecê-la com a nossa vida: “Destruam este templo e
em três dias eu o levantarei… Ele falava do templo do seu corpo” (cf. Jo 2,
13-25).
Para transformar o mundo em templo de Deus e do
homem, é necessário saber escutar e obedecer a Deus. O segredo para ter um
coração que entenda é formar um coração capaz de escutar. Urge levar a sério a
escuta de Deus, ouvir a sua Palavra e, assim, obedecer a Deus, que, em Jesus
Cristo, nos presenteou o modo de ser e de viver do homem verdadeiro, o modo de
estar junto dos homens. O maior pecado do ser humano é a insensibilidade e a
dureza do coração; por isso, converter-se a Cristo, fazer-se cristão, é receber
um coração de carne, sensível e com paixão por fazer com que todos os homens
sejam tratados como imagem e semelhança de Deus. E, que assim, o mundo se
transforme em um templo.
Três requisitos são necessários para fazer deste
mundo um templo de Deus e do homem. Eu os chamo com estes nomes: presentear,
oferecer e mudar. São requisitos que nos abrem as portas para estar presentes
neste mundo: 1) presentear a liberdade; 2) oferecer o rosto de Cristo e 3)
mudar o coração do homem:
1. Presentear a liberdade: é a liberdade que Deus
nos dá e que Jesus Cristo nos oferece. É a liberdade que nos chama a eliminar
correntes, distâncias, descartes, amarras; é a liberdade que Cristo nos dá e
que não tira nada do homem. Recordo as palavras que, em 22 de outubro de 1978,
ao iniciar o seu ministério, São João Paulo II nos disse: “Não tenham medo!
Abram, ou melhor, escancarem as portas para Cristo!”. Ele falava aos fortes, a
todos os que têm medo que Cristo lhes tire algo do seu poder, aos que não
entenderam que, se o deixarem entrar, conhecerão a sua própria liberdade, a
mesma que têm de dar aos outros. É a liberdade que elimina o domínio da
corrupção, a ruptura do direito, a arbitrariedade generalizada nas questões
mais importantes para a vida humana. Se deixarmos Cristo entrar em nós, se nos
abrirmos a Ele, não somente não perderemos nada como ainda faremos a nossa vida
e a dos outros ser mais livre, bela e grande. Cristo não tira nada e dá tudo.
Deixemos que a nossa vida seja ocupada por Cristo, que nos presenteia a
liberdade. Não deixemos que seja roubada a liberdade que Jesus Cristo nos deu.
É esta liberdade presenteada que, nos libertando, desencadeia a liberdade
naqueles com quem nos encontramos. Globalizemos com a nossa vida essa liberdade
que nos foi dada por Cristo.
2. Oferecer o rosto de Cristo: Jesus Cristo é a
Verdade feita Pessoa, que atrai o mundo para si. Seu rosto é esplendor de
Verdade. Sem Ele, perdemos a orientação, nos isolamos, nos reduzimos a olhar
para nós mesmos e para os nossos interesses. Só Ele nos faz viver e nos ajuda a
realizar-nos plenamente. Só Ele nos capacita para renovar a sociedade através
da lei do Amor. Ofereçamos a Verdade, o rosto de Jesus Cristo. Para oferecer o
rosto de Cristo, temos que ter um encontro com Ele. Como nos dizia o papa Bento
XVI, “não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou por uma grande
ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo
horizonte à vida e, com isto, uma orientação decisiva” (Deus caritas est, 1).
Por isso, temos que nos encontrar com os homens a partir do encontro com
Cristo, oferecendo o seu rosto.
3. Mudar o coração do homem: com Cristo,
escancarou-se a porta entre Deus e os homens. Ele continua batendo às portas do
mundo, às portas do coração de todos os homens, para que o Deus vivo e
verdadeiro que nos foi revelado em Jesus Cristo possa chegar ao nosso tempo e
mudar a nossa vida. Eu garanto que a realidade do mundo não se sustenta sem
Deus. A época moderna desenvolveu a esperança da instauração de um mundo
perfeito, baseado nos conhecimentos da ciência e numa política cientificamente
fundamentada. Tentou-se substituir o reino de Deus pela esperança no reino do
homem. Vimos que esta esperança de um reino do homem se afasta cada vez mais.
Por isso, oferecer Jesus Cristo e a mudança do coração que só Ele realiza é a
melhor oferta para melhorar o mundo e tornar possível a globalização de tudo o
que constrói e muda o coração do homem: amor, justiça, paz, fraternidade,
entrega, serviço, verdade, dom de si mesmo. Para que os outros sejam o que
devem ser. Cristo rompe o hermetismo de um mundo construído pelo homem e que se
fecha nos próprios egoísmos. O mundo é o templo onde os homens vivem como
filhos de Deus e, por isso, como irmãos. Onde se manifesta a glória de Deus,
que é a glória do homem.
Com grande afeto e a minha bênção,
+Carlos, Arcebispo de Madri
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ZENIT
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