De volta para as carnestolendas torna-se oportuno
olhar para este acontecimento cultural do carnaval com discernimento e simpatia
cristã. Percebemos neste evento marcante da civilização brasileira pelo menos
duas tendências inspiradoras: a que se origina do próprio calendário cristão e
da explicação a uma das etimologias da palavra, carne vale isto é a carne vale
no período que precede ao tempo quaresmal da penitência quando se proibia a
ingestão de carne.
E a segunda que vem das festas saturnálias romanas
onde havia uma procissão de um carro naval em honra de Saturno, o carrus
navalis , que era acompanhado com danças e músicas profanas com pessoas sem
roupa. Estas duas visões se misturam e se mesclam como podemos apreciar. A alegria
cristã vem do sorriso Pascal, da vida plena, do aleluia da Resurreição,
transformando totalmente a existência humana e fazendo do cristão um homem
festivo e lúdico.
No entanto mesmo a festa mais singela e simples
pode-se confundir e deturpar quando perdemos a consciência e o equilíbrio,
dando vazão a impulsos desordenados e desvariados. Harvey Cox na sua obra sobre
a Festa dos Loucos da Idade Média afirmava que uma vez no ano as pessoas tem o
direito de perder a cabeça, isto é libertar-se da racionalidade e do controle
social. Novamente devemos considerar que a alegria é um dom do Espírito Santo
que nos orienta e conduz, também nestas ocasiões onde é preciso ser espontâneo,
criativo e contente sem perder a identidade e desrespeitar aos nossos
irmãos/ãs.
Muitas pessoas, por excessos podem ofender o
matrimônio, a castidade, provocar acidentes ou brigas das quais se arrependerão
o resto das suas vidas. Cabe a nós cristãos sermos os anjos bons dos irmãos,
ajudando-os a voltar com segurança a casa, advertir o consumo excessivo de
bebida, a ultrapassagem da linha da decência e da conveniência, que leva a
comportamentos torpes e agressivos. Que o Senhor da Vida e da Verdadeira
Alegria nos ajude como ao Rei Davi e São João Batista, a pular e a dançar
louvando a Misericórdia do Pai. Deus seja louvado!
Dom Roberto
Francisco Ferreria Paz
Bispo de
Campos (RJ)
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