CATEQUESE
Praça
São Pedro – Vaticano
Quarta-feira,
11 de novembro de 2015
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje vamos refletir sobre uma qualidade
característica da vida familiar que se aprende desde os primeiros anos de vida:
o convívio, ou seja, a atitude de partilhar os bens da vida e de ficar feliz de
poder fazer isso. Partilhar e saber partilhar é uma virtude preciosa! O seu
símbolo, o seu “ícone” é a família reunida em torno da mesa doméstica. A
partilha do alimento – e portanto, além disso, também dos afetos, dos relatos,
dos acontecimentos… – é uma experiência fundamental. Quando há uma festa, um
aniversário, nos reencontramos à mesa. Em algumas culturas é costume fazer isso
também por luto, para estar próximo a quem está na dor pela perda de um
familiar.
O convívio é um termômetro seguro para mensurar a
saúde das relações: se em família há algo que não está bem, ou qualquer ferida
escondida, à mesa se entende logo. Uma família que quase nunca come junto, ou
em cuja mesa não se fala, mas se olha para a televisão, ou para o smartphone, é
uma família “pouco família”. Quando os filhos, sentados à mesa, estão apegadas
ao computador, ao telefone e não se escutam entre eles, isso não é família, é
um pensionato.
O Cristianismo tem uma vocação especial ao
convívio, todos sabem disso. O Senhor Jesus ensinava com prazer à mesa e
representava o reino de Deus como um banquete festivo. Jesus também escolheu a
mesa para entregar aos seus discípulos o seu testamento espiritual – fez isso
na ceia – condensado no gesto memorial do seu Sacrifício: doação do seu Corpo e
do Seu Sangue como Alimento e Bebida de salvação, que alimentam o amor
verdadeiro e duradouro.
Nesta perspectiva, podemos bem dizer que a família
é “de casa” na Missa, justamente porque leva à Eucaristia a própria experiência
de convívio e a abre à graça de um convívio universal, do amor de Deus pelo
mundo. Participando da Eucaristia, a família é purificada da tentação de se
fechar em si mesma, fortificada no amor e na fidelidade e alarga os confins da
própria fraternidade segundo o coração de Cristo.
Nesse nosso tempo, marcado por tantos fechamentos e
por tantos muros, o convívio, gerado pela família e dilatado pela Eucaristia,
se torna uma oportunidade crucial. A Eucaristia e as famílias por ela
alimentadas podem vencer os fechamentos e construir pontes de acolhimento e de
caridade. Sim, a Eucaristia de uma Igreja de famílias, capaz de restituir à
comunidade o fermento ativo do convívio e da hospitalidade recíproca, é uma
escola de inclusão humana que não teme confrontos! Não há pequenos, órfãos,
frágeis, indefesos, feridos e desiludidos, desesperados e abandonados que o
convívio eucarístico das famílias não possa alimentar, restaurar, proteger e
hospedar.
A memória das virtudes familiares nos ajuda a
entender. Nós mesmos conhecemos quantos milagres podem acontecer quando uma mãe
tem olhos e atenção, carinho e cuidado para os filhos dos outros, além de fazer
isso para os próprios. Até ontem, bastava uma mãe para todas as crianças do
quintal! E ainda: sabemos bem quanta força conquista um povo cujos pais estão
prontos para se mover e proteger os filhos de todos, porque consideram os
filhos um bem indiviso, que estão felizes e orgulhosos de proteger.
Hoje muitos contextos sociais colocam obstáculos ao
convívio familiar. É verdade, hoje não é fácil. Devemos encontrar o modo de
recuperá-lo. À mesa se fala, à mesa se escuta. Nada de silêncio, aquele
silêncio que não é silêncio dos monges, mas é o silêncio do egoísmo, onde é
cada um por si, na televisão ou no computador…e não se fala. Não, nada de
silêncio. É preciso recuperar aquele convívio familiar adaptando-o aos tempos.
Parece que o convívio se tornou uma coisa que se compra e se vende, mas assim é
uma outra coisa. E o alimento não é sempre o símbolo de justa partilha dos
bens, capaz de alcançar quem não tem nem pão nem afetos. Nos países ricos somos
induzidos a gastar para uma alimentação excessiva e depois o somos de novo para
remediar o excesso. E esse “negócio” insensato desvia a nossa atenção da
verdadeira fome, do corpo e da alma. Quando não há convívio há egoísmo, cada um
pensa em si mesmo. Tanto é que a publicidade reduziu o convívio a uma
preferência por lanches rápidos e desejo de docinhos. Enquanto tantos, muitos
irmãos e irmãs, permanecem fora da mesa. É um pouco vergonhoso!
Olhemos para o mistério do banquete eucarístico. O
Senhor parte o seu Corpo e derrama o seu Sangue por todos. Realmente não há
divisão que possa resistir a esse sacrifício de comunhão; somente a atitude de
falsidade, de cumplicidade com o mal pode excluir disso. Qualquer outra
distância não pode resistir ao poder indefeso deste pão partilhado e desse
vinho derramado, Sacramento do único Corpo do Senhor. A aliança viva e vital
das famílias cristãs, que precede, apoia e abraça no dinamismo da sua
hospitalidade os cansaços e as alegrias cotidianas, coopera com a graça da
Eucaristia, que é capaz de criar comunhão sempre nova com a sua força que
inclui e que salva.
A família cristã mostrará justamente assim a
amplitude do seu verdadeiro horizonte, que é o horizonte da Igreja Mãe de todos
os homens, de todos os abandonados e os excluídos, em todos os povos. Rezemos
para que esse convívio familiar possa crescer e amadurecer no tempo de graça do
próximo Jubileu da Misericórdia.
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Boletim da
Santa Sé
Tradução:
Jéssica Marçal
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