Qual a
razão do brado inquisitorial dos envolvidos
no filme "Rio, eu te amo"
e contra quem ele se dirige?
É contra a Arquidiocese do Rio de Janeiro
que os
produtores do filme se levantam.
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O Jornal O
Globo publicou, em 8
de julho último, uma entrevista com José Padilha, produtor do filme “Rio, eu te
amo”, e com Wagner Moura, um de seus principais atores. O título da matéria
soa: “O veto é censura, representa um enorme retrocesso”.
Qual é a razão
deste brado inquisitorial dos envolvidos no filme e contra quem ele se dirige?
– Respondemos que o motivo está no fato de a Arquidiocese do Rio de Janeiro ter
se negado a autorizar aos interessados o uso da imagem do Cristo Redentor, de
modo indigno, no filme que pretendiam fazer sobre a cidade. Portanto, é contra
aquela Arquidiocese que o grito de Padilha e de Moura se levantam.
O assunto merece
reflexões serenas e ponderadas, conforme faremos a seguir, a fim de melhor
esclarecer o povo de Deus e as pessoas de boa vontade em geral começando pelo
respeito às imagens e símbolos religiosos em geral.
Lembramos que o
livro do Êxodo 20,4 mostra que o Senhor Deus proíbe os israelitas de
confeccionarem imagens. Tal proibição não era, no entanto, absoluta, mas se
devia apenas a uma circunstância transitória que era a seguinte: cercada de
povos idólatras, Israel poderia também ceder à tentação de adorar imagens, o
que é idolatria (= adoração de um ídolo).
Passado esse
perigo maior, o Senhor mesmo manda confeccionar imagens para ajudar a piedade
dos israelitas, segundo atestam numerosas passagens bíblicas como, por exemplo,
Êx 25,17-22; 1Rs 6,23-28. 6,29s; Nm 21,4-9; 1Rs 7,23-26. 7,28s etc.
No Novo
Testamento, Deus se dirige a nós por meio de seu Filho Jesus Cristo, no
mistério da Encarnação, mas o próprio Senhor Jesus, considerando a índole
psicossomática (corpo e alma) do ser humano, quis falar-lhe por meio de
simbolismos, conforme se vê nas parábolas e alegorias que perpassam os
Evangelhos, com o intuito pedagógico de levar o homem e a mulher a sentir o
invisível a partir do visível.
Daí, já nos
primeiros séculos do Cristianismo, as catacumbas, antigos cemitérios cristãos,
serem decorados com pinturas inspiradas em textos bíblicos tais como Noé salvo
das águas do dilúvio, os três jovens na fornalha ardente cantando louvores ao
Senhor sem se queimarem, os pães e os peixes restantes da multiplicação feita
por Cristo e recolhidos em doze cestos etc.
Vê-se, portanto,
que o uso de pinturas ou imagens no culto cristão sempre foi aceita, de modo
que grandes Padres da Igreja (homens que nos primeiros 8 séculos da era cristã
ajudaram na explicitação e sustentação das verdades de fé) a defenderam. Assim,
São Gregório de Nissa (†394) escrevia que “o desenho mudo sabe falar sobre as
paredes das igrejas e ajuda grandemente [na exemplificação das verdades de fé –
nota nossa]” e São Gregório Magno (†604), por sua vez, advertia Severo, Bispo
de Marselha, dizendo-lhe: “Tu não devias quebrar o que foi colocado nas igrejas
não para ser adorado, mas simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar
uma imagem; outra é aprender, mediante esta imagem, a quem se dirigem as tuas
preces. O que a Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os
ignorantes; mediante as imagens, eles aprendem o caminho a seguir. A imagem é o
livro daqueles que não sabem ler”.
Eis, porém, que,
nos século VIII e IX, alguns, influenciados por outras correntes
filosófico-religiosas, se puseram a negar o valor das pinturas e das imagens na
Igreja. Daí o Concílio de Niceia II (787), fundamentado no parecer de grandes
teólogos, dentre os quais São João Damasceno (†749), explicitou a distinção
entre o culto de latria (adoração), que só se deve a Deus Uno
e Trino, e dulia (veneração), dirigida a Nossa Senhora
e aos santos.
Diz, pois, o
Concílio, em sua sessão de 13 de outubro de 787: “Definimos... que, como as
representações da Cruz,... assim também as veneráveis e santas imagens, em
pintura, em mosaico ou de qualquer outra matéria adequada, devem ser expostas
nas santas igrejas de Deus (sobre os santos utensílios e os paramentos, sobre
as paredes e os quadros), nas casas e nas estradas. O mesmo se faça com a
imagem de Deus Nosso Senhor e de Jesus Cristo Salvador, com as da... Santa Mãe
de Deus, com os dos Santos anjos e a de todos os Santos e justos. Quanto mais
os fiéis contemplarem essas representações, mais serão levados a se recordar
dos modelos originais, a se voltar para eles, a lhes testemunhar... uma
veneração respeitosa, sem que isso seja adoração, pois esta só convém, segundo
a nossa fé, a Deus” (Estevão Bettencourt. Católicos perguntam.
São Paulo: Mensageiro de Santo Antônio, 1997, p. 7-10).
Eis porque, fiéis
à Tradição da Igreja, respeitamos e pedimos a todas as pessoas capazes de
conviver em uma sociedade pluralista que façam o mesmo com as imagens sagradas,
estejam elas expostas nos templos ou fora deles.
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Fonte: ZENIT
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